Estreia na próxima segunda-feira (5) o podcast goiano de educação “PodEscola: Uma Olímpiada contra o Preconceito”. Criado pela professora Yordanna Lara, historiadora e mestra em Antropologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), o projeto visa combater, dentro e fora da escola, o racismo, a misoginia, as LGBTIfobias e demais discriminações por diferenças.

A ideia do PodEscola nasceu em 2021, quando a Prefeitura de Goiânia divulgou edital para que projetos pudessem contar com financiamento da Lei Aldir Blanc. Yordanna detalhou, em entrevista à Sagres, que pegou a experiência de sala de aula que tem como professora universitária e decidiu pensar na base. “A gente insiste tanto que as crianças e os adolescentes são o futuro do país, então vamos trabalhar com esse futuro”, comentou Yordanna.

Divido em cinco episódios, o podcast usará o esporte, com foco no futebol, para trazer conhecimento sobre história e combate ao racismo para os estudantes. As Olímpiadas foram escolhidas como tema, justamente, pelo fato de o edital para Lei Aldir Blanc ter sido lançado pelo município de Goiânia em 2021, ano em que as Olímpiadas de Tóquio foram realizadas.

“Por ser um ano olímpico e com tantos atletas negros e negras alcançando o pódio. Fizemos um número muito maior de medalhas de ouro, principalmente a partir das Olímpiadas do Rio de Janeiro, então começamos a ter mais visibilidade”, ressaltou a professora sobre o protagonismo de atletas negros.

Yordanna explicou ainda que a intenção, ao colocar o futebol como carro chefe do PodEscola, é atingir o imaginário coletivo brasileiro, que, segundo ela, é historicamente fortemente ligado a duas coisas: futebol e novela. “Se quiser alcançar uma grande parcela da nossa população, você usa essas duas vias para acessar e consegue chegar a muita gente, porque até quem não gosta de futebol vai falar, explicar o porquê de não gostar”, afirmou.

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A mestra em antropologia aproveitou para destrinchar como o podcast vai abordar temas importantes, como a exclusão de mulheres, tanto das práticas esportivas, quanto das torcidas.

“Entre 1910 e 1914, quando Rio de Janeiro e São Paulo estavam numa efervescência esportiva, porque o futebol estava sendo trazido para o Brasil, as mulheres acompanhavam os homens nos clubes [..] Elas, agoniadas com o jogo, começaram a torcer os laços de cabelo, as fitas da roupa e nasceu o nome torcedora e torcida”, contou.

Segundo a antropóloga, mesmo assim, algo construído por mulheres se tornou masculinizado e, hoje, as violenta. “São essas peculiaridades da história que eu trago, porque, a partir do momento que você compreende de onde algo sai e como ele é regido pelos discursos de poder do local, você entende as consequências disso no seu cotidiano”, declarou.

Escolas públicas como prioridade

Para que o podcast seja uma ferramenta de combate ao racismo e sexismo, a professora Yordanna Lara decidiu que a produção deve servir como material didático, que será utilizado, prioritariamente, em escolas públicas. “Depois de oito anos pesquisando exatamente relações étnico-raciais, relações de gênero e questões de como isso se dá em relações de poder, entendi que precisávamos de uma estratégia nova de combate a essas violências”.

Portanto, os episódios são curtos, com 30 minutos de duração, para que os professores possam pensar em estratégias, debates e atividades para os alunos sobre o tema desenvolvido em sala de aula. “Também vai ser gerado um material didático de apoio para esse professor e essa professora”.

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A antropóloga contou ainda que essa proposta multidisciplinar, com auxílio de novas tecnologias de ensino e aprendizagem, busca implementar as Leis 10.639/2003 e 11.645/08 nas escolas. “Esta Lei, de 2003, se refere à obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas. A Lei 11.645, de 2008, complementar a essa, soma a essa obrigatoriedade o ensino da história e da cultura dos povos originários brasileiros”, detalhou.

Episódios

  • No primeiro episódio, o podcast contará a história de Goiânia, Goiás e do Brasil, abordando questões étnico-raciais e de gênero, a partir dos times da cidade: Goiás, Goiânia, Vila Nova e Atlético-GO;
  • No segundo episódio será a vez de contar a história do Futebol no Brasil e a relação com racismo;
  • No terceiro episódio, a história das Mulheres no Esporte e as sobreposições étnico-raciais estarão em pauta;
  • No quarto episódio será a hora de falar sobre a história da População LGBTI nos esportes;
  • O quinto episódio será gravado por uma atleta e um intelectual indígena, com foco nos esportes indígenas e do racismo contra os povos originários. “A gente tem que entender que, no Brasil, quando a gente fala de racismo, nós também falamos dos povos originários”, ressaltou.

“As diferenças são uma potência”

Além de Yordanna, o podcast tem a participação de Juliana Pereira – formada em Letras na Universidade Federal de Goiás (UFG), com foco em educação intercultural –, do designer e ilustrador Nériton Tebas, da produtora e técnica de som Társia Chacon e da publicitária e cientista de dados Nina Soraya. Além de levar o tema diversidade para o podcast, a equipe também tem integrantes bem diferentes.

“Nós temos homens trans, pessoas indígenas, mulheres lésbicas. Eu sou uma mulher negra cisgênero, temos uma mulher branca cisgênero, também, e temos uma pessoa não binária. Então, até na construção do podcast eu fiz questão de ser diversa para que fique visível que as diferenças são uma potência”, declarou.

Futuro

Apesar do financiamento concedido pela Lei Aldir Blanc ter sido usado inteiramente na produção desses primeiros cinco episódios, a professora Yordanna Lara já tem planos para uma nova etapa de conteúdos, com foco na história das Copas do Mundo. Mas para que isso aconteça, a antropóloga espera um novo edital de cultura em Goiânia, além da Lei Paulo Gustavo.

“Vamos pegar cada país participante da Copa do Mundo e o país que, hoje, está sediando o evento. Trazer conteúdos com formas de pensar a história desses países e como isso impacta a nossa vida no Brasil, para a gente entender que o mundo está interligado e que o acontecimento político lá pode reverberar de forma muito grande aqui”, concluiu.

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