O desmatamento do Cerrado só aumenta nos últimos anos. Segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad-GO), só em Goiás em 2021, a escalada de destruição do bioma atingiu cerca de 950 quilômetros quadrados. Sozinho, o território goiano detém 10% de área verde destruída em todo o ecossistema. Assista ao pODS#2 a seguir
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Neste segundo episódio do pODS, o podcast da Sagres alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), discute como é possível manter a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, preservar o Cerrado.
”Esse aumento desenfreado e essa busca por produção sem pensar em sustentabilidade é um prejuízo muito grande, porque a gente começa a interromper o ciclo da água”, avalia o ambientalista e consultor em Políticas Públicas Antônio Zayek.
Coração da produção
Geograficamente, Goiás está no centro da produção do continente. Segundo Zayek, 76% do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina encontra-se na região que engloba São Paulo, Cuiabá, Buenos Aires e a Cordilheira dos Andes. Para o ambientalista, o ecossistema atua como uma empresa, cujo capital de giro é o verde.
”Ele precisa de uma quantidade de capital verde para continuar funcionando. A Amazônia precisa de 80% de seu bioma para que a água que vem desça para nós. É preciso ter de 35% a 40% de Cerrado em pé. É preciso pensar na zona rural, na zona urbana, na zona ocupada. O grande problema é a forma como nós ocupamos o solo e voltada a esse serviço ecossistêmico”, afirma Zayek.
Estratégias
Para a professora e coordenadora do Programa Sustentare da Universidade Federal de Goiás (UFG), Raquel de Andrade Cardoso Santiago, a biodiversidade na região de Cerrado é a principal aliada na produção de alimentos.
”Temos de descobrir estratégias de melhor uso da terra, que não interfiram tanto nos recursos ecossistêmicos para se conseguir produzir. E o grande aliado que a gente tem é a biodiversidade. Se avaliarmos o número de espécies comestíveis no planeta hoje, é alarmante o quão reduzido o número de ingredientes que se tem em nosso prato. São cerca de 12”, calcula.
Estabelecer critérios individuais e coletivos de como levar o conceito de agricultura sustentável estão entre os maiores desafios para a coexistência entre biodiversidade e produção, segundo a coordenadora.
”O que falta talvez seja como atingir cada parte interessada nda mudança de comportamento em relação a alguns aspectos, porque a produção de alimentos tem que continuar, mas de uma forma mais adequada, que interfira menos em nossos serviços ecossistêmicos e redução de desperdício. Em torno de 40% do que se produz de alimentos vai para o lixo”, finaliza Raquel.
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