Uma pesquisa do Itaú Cultural, realizada pelo Datafolha, mostra que os hábitos culturais da população brasileira aumentaram após a pandemia de Covid-19. Apesar do crescimento do gasto e tempo dedicados à cultura, a proporção de pessoas que relataram sofrer com problemas de saúde mental aumentou.

O estudo realiza um mapeamento do consumo e avalia o impacto que o contato com a arte e cultura tem sobre o bem-estar, relacionamento interpessoal, criatividade, ansiedade e sensação de solidão. Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural, explica que o levantamento também auxilia os gestores nas tomadas de decisões.

Esse é o terceiro ano de publicação do estudo, que teve início durante a pandemia. O último resultado mostra que houve um aumento de 7 pontos percentuais nos hábitos culturais em relação às pesquisas anteriores. 60% dos entrevistados disseram ter praticado alguma atividade cultural e artística. 

“No pós pandemia houve a retomada no encontro, isso ajuda na saúde mental. O interesse pela literatura ou um show de música vai pelo interesse na expressão artística, mas também pelo hábito coletivo. Isso foi um indicador muito grato e uma grande surpresa porque todos os indicadores relacionados à participação artística e cultura cresceram nesta edição”, afirma Jader Rosa.

Resultados

O estudo considera as atividades online e as presenciais e é dividido em três partes: os hábitos culturais, o gasto das famílias e o impacto na saúde mental. Com isso, o estudo mostrou que as pessoas da classe C consomem mais cultura por meio da internet.

Nesse sentido, os eventos online foram os mais citados pelos entrevistados, especialmente ouvir música e assistir a filmes e séries. Cinema e biblioteca se destacam no período de mais de um ano, possivelmente reportando ao período pré-pandemia em atividades presenciais.

“No ambiente online isso (o hábito cultural) acontece com muita força e puxa o indicador para cima, com músicas, séries, filmes, podcasts, que são as linguagens com maiores destaques”, explica o superintendente do Itaú Cultural.

Embora haja um aumento dos hábitos culturais em relação ao período da pandemia, o estudo verificou que os casos de adoecimento psíquico aumentaram no último ano, em relação à 2021. 49% dos entrevistados afirmaram ter passado por problemas de saúde mental em 2022. No ano anterior, 36% relataram ter passado por esses adoecimentos.

Em 2022, 51% das famílias afirmaram não ter alguém com problemas de saúde mental em casa. Já em 2021, 64% alegaram não sofrer com questão relacionados à saúde mental.

O estudo também questiona quais atividades geram maior sensação de bem-estar. Os hábitos que se enquadram em “assistir programação online” tiveram a escolha de 68% dos entrevistados. Em primeiro lugar aparece “assistir filmes”, com 25%, e “assistir séries”, com 16%, em segundo. Em terceiro lugar está “ouvir música”, opção escolhida por 13% dos entrevistados. Em quarto, aparece “jogar vídeo game”, com 8%.

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Impacto econômico

A gasto médio da população com atividades culturais presenciais é maior do que as iniciativas online. Embora as pessoas que frequentem eventos presenciais gastem mais dinheiro, a proporção de pessoas que consome cultura pela internet é maior.

A média de gasto com atividades presenciais ficou em R$ 178, enquanto os eventos online representam um custo médio de R$ 128. Em contrapartida, metade dos entrevistados afirmaram não gastar nada com hábitos culturais presenciais, enquanto 35% disseram não gastar nada online.

Os números de consumo online mostram que as plataformas digitais ampliam o acesso à cultura. “Uma pessoa em uma experiência conosco falou que se não fosse um teatro no ambiente digital, ela nunca teria acesso ao teatro. O acontecimento nesses ambientes digitais permite o acesso a diferentes linguagens em todo o país”, conclui Jader.

No entanto, as condições de acesso à internet são desiguais, o que impede a democratização do acesso á cultura online. Nesse sentido, o superintendente observa que a classe C é a que mais frequenta eventos culturais públicos, realizados em praças e ruas. O dado reforça a necessidade de investimento em políticas públicas quem garantam acesso gratuito à cultura.

A pesquisa mostrou que o setor da indústria criativa, que compreende as atividades econômicas ligadas à geração ou exploração do conhecimento e da informação, movimentou cerca de R$ 280 bilhões ao longo de três anos. “Isso representa 3,11% do PIB (Produto Interno Bruto). Esse é o PIB da indústria criativa, mais do que a indústria automobilística”, ressalta.

Ele conclui destacando a importância de investimento e políticas públicas voltadas para o setor. “Se a gente pensar em mais incentivo e apoio para o setor criativo e mais oferta para as pessoas, sejam adultos, crianças e jovens, poderem participar, vamos ter mais integração e participação do setor artístico cultural”, completa.

Entenda a pesquisa

A pesquisa quantitativa, com abordagem telefônica (CATI), mediante aplicação de questionário estruturado, com cerca de 17 minutos de duração. A abordagem foi controlada por meio de cotas de sexo e idade a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Ao todo, foram entrevistados 2240 pessoas, entre homens e mulheres, com idade entre 16 e 65 anos, integrantes de todas as classes econômicas, em todas as regiões do Brasil.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).