O empoderamento de meninas na ciência é um grande desafio no Brasil. Para se ter ideia, dados da Unesco de 2021 indicam que as mulheres representam 54% dos títulos de doutorado obtidos no Brasil. Anna Benite é professora do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde 2009, ela contribuiu para que meninas não se intimidem e que possam produzir ciência.
Segundo levantamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mulheres são apenas 33% no total de bolsistas de Produtividade e recebem menos por suas pesquisas.
Anna Benite relata que há uma situação bastante desigual entre meninos e meninas que é comum nas casas de muitos brasileiros. Um primeiro ponto é que enquanto meninos ganham carrinhos, videogames e outros elementos que estimulam o gosto pelo desenvolvimento científico, as meninas ganham vassourinhas e outros utensílios que reforçam a tarefa doméstico.
“Então é muito injusto esse treino e os meninos ganham carrinho, videogame para treinar a visão 3D pra treinar noção de espaço, enquanto a gente ganha uma vassourinha pra tentar ajudar a mãe, isso é muito cruel, e é nesse lugar que resolvi atuar. Não é que a gente deva desprezar essas funções, mas é que todo mundo deve se dividir com essas tarefas domésticas”, relatou.
Estímulo
De acordo com um levantamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 2021, existiam 67 mil mulheres cientistas nas grandes áreas (Ciências Agrárias; Biológicas, da Saúde, Exatas e da Terra, Humanas, Sociais e Aplicadas, Engenharias, Linguística e Tecnologias). Este número corresponde apenas às bolsistas do CNPq.
Anna Benite conta que nasceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense e que o local é um bolsão de pobreza no Rio de Janeiro. Ela relatou que em sua localidade há grande quantidade de pessoas negras e pobres. Para a professora, a Educação é o único caminho possível para ganhar mobilidade social.
“Só a escola é um caminho possível, então eu de fato eu não tive uma inspiração. Eu fui estudando pra ganhar mobilidade social, eu fiz um curso de licenciatura noturno e era o que podia”, destacou.
Transformação
Anna Benite relatou que trabalha desde 2009 com uma ação chamada “Investiga Menina” que é um projeto de pesquisa e extensão. Ela argumentou que o projeto contribui para fomentar a participação de meninas negras na ciência.
O grupo atua em cinco escolas, alcançando mais de 4 mil alunos. “Eu quero que uma menina olhe e ser astrofísica, eu quero que ela olhe e não haja limites para sua existência, e isso depende da família, de uma rede de apoio, políticos, não é só o mérito, o mérito é uma falácia”, relatou.
O projeto dá acompanhamento de disciplinas como Física, Química, Matemática, no próprio turno de ensino, pois no contraturno as meninas têm obrigações domésticas e o objetivo é combater invisibilidade, produzir conhecimento e ter contato com a ciência, desafiando a dinâmica da escola.
Protagonismo Feminino
O protagonismo feminino foi o tema principal da última edição da Arena Repense.
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O tema desta reportagem integra o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ODS 5 – Igualdade de Gênero.
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