Durante esse período de quarentena e isolamento social causado pelo coronavírus, as pessoas têm vivido momentos de rompimentos, como de emprego e amorosos. Em entrevista ao Tom Maior desta quarta-feira (17) na SagresTV, a psicanalista pelo Instituto Sedes Sapentiae de São Paulo, mestre em Psicologia pela Universidade Federal De Goiás, Letícia Lima, diz que algumas relações, que já estavam ruins antes da pandemia, ficaram insustentáveis com a quarentena.

“Relacionamentos que já havia uma recusa, uma relação que já estava morta, por exemplo, que não tinha mais partilha, não tinha mais interesse genuíno ou compartilhamento que gerasse vida. Questões como não ouvir o que a pessoa tem a dizer, não falar com o outro  sobre determinados assuntos, não querer mais dividir a música preferida ou café e não pensa que é bom estar com o outro, com o isolamento isso toma uma dimensão gigantesca e a relação fica sustentável”, afirma.

Segundo Letícia Lima, essa recusa é um grande problema e muitas vezes o indivíduo não percebe que algo ali foi perdido.  “A pessoa pode partir para uma substituição que também é uma forma de recusa, mas com o isolamento isso fica difícil. É uma questão interessante, poder perceber que algo se perdeu, porque na substituição você não consegue ver que o estatuto simbólico daquela pessoa que estava na sua vida, ou aquilo que você aprendeu tem uma relação simbólica. Para você começar a viver o luto é importante primeiro entender que existe uma perda, que aquele relacionamento não existe mais, para assim poder viver o processo do luto. É importante também não ter pressa no luto e poder realizar aquilo com tranquilidade para seguir em frente”, explica.

Letícia Lima esclarece que mesmo em meio a uma pandemia é importante viver cada fase do termino de um relacionamento com calma. “Perceber que as relações nos constituem e que não somos um indivíduo sozinho no mundo é muito necessário, quando algo dessa rede simbólica que nos sustenta se perde, a sensação é de desmoronamento. Existe um desequilíbrio interno e é importante nós nos autorizarmos a viver. É difícil perder algo que você investiu energia, amor e atenção. Quando aquele objeto não está mais lá, vem o questionamento de o que fazer com isso. Existe todo um processo, primeiro a pessoa começa a se culpar, sendo que existe todo um contexto e existe o outro que também participava da relação. Em seguida vem o ódio, a raiva do outro, e é importante a gente se autorizar a viver esses movimentos que são humanos, mas de uma forma ética porque se não for desta forma, este sentimento vai virar destruição. É interessante não se apressar com seu luto, poder viver este momento mesmo porque algo tão importante da sua reorganização interna se perdeu. É necessário para que você possa encontrar um caminho e não se esvair junto com este relacionamento”, analisa.

A psicanalista explica também que é importante saber que o final de um relacionamento não é sinônimo de final para a vida dos indivíduos que faziam parte dele, mas sim que a vida deve seguir.

“Às vezes as pessoas pensam que porque o outro foi embora a vida não tem mais sentido, mas tem sim. A pessoa vai e você fica, traços daquela pessoa e daquela relação ficam também. Nós sempre aprendemos algo com uma relação, e é essa dialética de pegar algo do outro, incorporar em mim e transformar em algo que é meu. Muita gente depois de uma separação aprende uma nova língua ou a tocar um instrumento, desenvolve uma nova relação com a música ou com a política, coisas positivas adquiridas do relacionamento”, complementa.

Confira na íntegra a entrevista completa com a psicanalista Letícia Lima no início do programa a seguir