A educação à distância tem sido um desafio para pais, mães e responsáveis pelas crianças nesse período de isolamento social, resultado de medidas contra o coronavírus durante a pandemia. Para os pequenos, ficar longe dos professores e da sala de aula é ainda mais desafiador, e resta a interação com os amigos e docentes por meio das videoaulas. A Sagres vem retratando essa realidade, que até fortalece os vínculos entre as famílias.

Raquel de Morais é mãe de dois filhos, um que já está no Ensino Médio e outro que cursa o 4º ano do Fundamental. Ela relata como tem sido a mudança da realidade em casa depois que teve início a quarentena.

“De repente a gente se vê trancado dentro de casa, e eu já trabalho dentro de casa, e só agregou um trabalho a mais. Então rapidamente me sentei com as crianças assim que veio a recomendação de ficar em casa e que não haveria mais aula, nos sentamos, fizemos uma nova rotina, já falei logo “não são férias, continuamos a vida normal, só que agora dentro de casa”. Isso nos trouxe uma demanda muito intensa para a família, porque coincide as aulas com os horários que estamos trabalhando”, conta.

Raquel de Morais tenta conciliar trabalho e educação dos filhos durante pandemia (Foto: SagresTV)

Sobre este assunto, em entrevista ao programa Tom Maior, da SagresTV, a psicopedagoga Maria Cristina Lemos conta que tem sido bastante procurada por pacientes que passaram a viver essa realidade relatada pela Raquel: acompanhar os filhos nas aulas em home office. As perguntas foram feitas pelos jornalistas Vinícius Tondolo e Jordanna Ágatha.

Vinícius Tondolo: Você tem sido muito buscada pelos amigos e pacientes por essa demanda que assusta tantas pessoas? Os pais têm visto o quanto é difícil ser professor. 

Maria Cristina Lemos – “Eu acho que esse é o grande desafio para os pais desse momento, porque eles se pegaram diariamente com essa tarefa de, além de serem pais, de educar os filhos conforme seus princípios, ele agora têm que dar o conteúdo que até então era deixado por conta exclusiva dos professores na rede de ensino. Eu tenho tentado oferecer suporte para os meus pacientes que eu já atendia anteriormente e tenho conversado com algumas famílias tentando orientar, dar sugestões para que esse momento seja o mais leve possível. Mas, algumas pessoas estão realmente bastante aflitas e ansiosas nesse momento de pandemia, não só pela doença que é da ordem do real, mas pelo que acontece dentro dos lares, como as crianças o tempo todo dentro de casa. As crianças foram privadas. Na sexta-feira foram à aula, na segunda-feira ninguém foi mais para a escola. Então não tiveram tempo de se despedir dos colegas, de dizer tchau. Então é um momento também assustador para as crianças que estão sofrendo também.”

A psicopedagoga Maria Cristina Lemos (Foto: SagresTV)

Jordanna Ágatha – Como é possível lidar com essa ansiedade? Essa pandemia nos tirou a rotina de forma muito abrupta. 

Maria Cristina Lemos – “A ansiedade é normal, é preciso entender que a ansiedade nesse momento é normal, é impossível não estar ansioso nesse momento. Agora, como colaborar? É através da fala, é proporcionar para as crianças momentos em que elas possam falar com os pais, onde os país abram caminho para que as crianças possam falar com elas. Essa é a ponte para que isso minimize os efeitos desse momento, é o dialogo, é ouvindo, é questionando, é podendo chegar para o filho e dizer “olha, ta difícil mesmo né filho?” e através disso, dando suporte para o que a criança traz.”

Tondolo – O quanto é importante que essas atividades sejam um evento familiar, e que a criança não entenda que ela está [apenas] estudando?

Maria Cristina Lemos – “Criança, nesse momento, precisa brincar. O lúdico faz com que ela alivie a angústia, a tensão, e é por meio do brincar que a criança aprende. Agora, quando vocês propõem uma atividade familiar, vocês estão sugerindo para que todos possam estar juntos no momento de brincadeira, isso é muito saudável. Então como as famílias podem desenvolver essas atividades? Uma contação de história, um jogo de regras, onde todos possam sentar, brincar, usar a regra do jogo, onde eles possam explorar o contato físico, afetivo. Isso vai viabilizando essas pontes para que a criança possa ir falando do que a angustia e criando pontes para que a família esteja partilhando o momentos gostosos e saudáveis conjuntamente. É possível, nesses dias de pandemia, criar esse momento de jogos, de interação, de pintura, de desenhos. Os pais podem se lembrar de quando eram crianças, propondo brincadeiras da sua própria infância para os pequenos. Então, tudo isso vai viabilizando momentos onde a criança vai poder falar do que a angustia, vai aprender, porque os pais podem colocar no meio dessa brincadeira os conteúdos pedagógicos que a criança estudou durante a semana, seja por exemplo no meio de uma receita culinária que a família vai estar fazendo. Assim, a família vai poder associar aquilo que a criança estudou com algumas situações do dia a dia familiar.”

Jordanna Ágatha – Como deixar a aula mais interessante? 

Maria Cristina Lemos – “Uma das coisas que eu observo nesse momento da pandemia, é que a escola teve que se reinventar. Não está fácil para a escola se reinventar em tão pouco tempo. Claro que já se discutia educação à distância, nós já temos cursos em EAD para os adultos, mas não para a pequena criança. Eu vejo que a escola ela está em um lugar onde ela tem que trocar a roda com o carro andando. Eu acho que em nenhuma outra profissão isso tenha acontecido de forma tão enfática quanto tem acontecido com a escola, porque a escola não parou, o professor não parou de dar aulas, ele continuou produzindo conhecimento de outro lugar. A escola parou de funcionar enquanto espaço físico e veio para esse espaço virtual onde nós estamos aqui agora. A escola teve que se reinventar e acho que não teve tempo para isso. Não houve tempo, não houve uma preparação para isso. Eu quero aqui parabenizar todos os professores que estão conseguindo trocar a roda do carro andando. Eu parabenizo os professores nesse momento, por eles conseguirem se reinventar.”

Assista à entrevista a partir de 01:12:00