O livro “Racismo e Esporte no Brasil: um panorama crítico e propositivo” aborda uma ampla lista de dificuldades enfrentadas pelos atletas negros. Nesse sentido, eles enfrentam barreiras para se destacarem no esporte. A professora Katia Rubio da USP e o professor Neilton de Sousa Ferreira Júnior da Universidade Federal de Viçosa (UFV) lançaram a obra. Sendo assim, essas dificuldades incluem desigualdade, barreiras, limites e discriminação.

Katia Rubio – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A obra tem como objetivo ampliar o debate sobre o tema e oferecer uma visão crítica e propositiva sobre o racismo no esporte. Em formato impresso e digital, o livro está disponível através do link fornecido. Os próprios organizadores conduziram o lançamento, destacando a importância da discussão sobre esse assunto no contexto esportivo brasileiro. “O esporte não é divertimento, é muito mais do que isso. O esporte é esse lugar onde se manifestam e se projetam tantas outras questões para além da competição”, destacou Katia.

Kátia desempenhou o papel de orientadora na pesquisa. Intitulada “Olimpismo Negro: Uma Antologia das Resistências ao Racismo no Esporte por Atletas Olímpicos Brasileiros”, foi conduzida por Neilton. Então, foi requisito para obtenção do título de doutor na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.

“O objetivo da minha tese foi tentar entender como o esporte no Brasil recebe as disputas raciais e como os atletas brasileiros, particularmente os não brancos, conseguem se organizar para estabelecer resistência e luta contra o racismo”, explica Neilton. Ele conceceu entrevista a Gustavo Roberto da Silva do Jornal da USP. Com base em sua pesquisa, Neilton aprofundou-se ainda mais no tema, resultando no desenvolvimento do livro.

Neilton de Sousa Ferreira Júnior – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Falta de apoio

“Falar de racismo no esporte é falar de um processo que se dá cotidianamente. Não é episódico, não é evento, não é uma coisa que se permite flagrar”, ressalta Neilton. Na visão do pesquisador, os atletas negros enfrentam uma falta de apoio coletivo na sua mobilização contra o racismo.

“Diferente da configuração de trabalho convencional, eles não encontram sindicatos, associações ou outras formas de vocalizar coletivamente seus interesses e por isso ficam sozinhos”, pontua. De acordo com ele, os atletas enfrentam o combate de forma individualizada, o que torna o silenciamento mais suscetível em seu cotidiano.

Além disso, a estrutura do livro se assemelha a um seminário, reunindo diversos estudos sobre as relações étnico-raciais no esporte em uma abordagem crítica. Mas, além de analisar as barreiras e dificuldades impostas pelo racismo, a obra busca discutir a questão da colonialidade e as expressões culturais de diferentes povos no contexto esportivo.

Alessandro de Oliveira dos Santos – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O livro tem quatro seções, intituladas: “Colonialidade do esporte de sobrenome moderno”; “Racismo e cultura esportiva”; “Imaginário da luta antirracista no esporte brasileiro”; e “Horizontes de superação do racismo na educação física e no esporte”.

Evento de lançamento

Durante o lançamento do livro, os convidados apresentaram algumas reflexões que desempenharam um papel importante na sua produção. Sendo assim, estiveram presentes no evento o professor Alessandro de Oliveira dos Santos, pertencente ao corpo docente do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Alberto de Oliveira, doutorando em educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, e Ana Carolina Toledo, uma renomada artista, educadora e pesquisadora que obteve sua formação acadêmica na área de Esporte e Marketing pela USP.

“Queria marcar, de um ponto de vista da Psicologia, a quantidade de energia emocional que uma pessoa negra tem que despender para estar na vida social. ‘Será que agora eu vou ser parada pela polícia? Vou ser maltratado pelo médico? Vou sofrer preconceito?’”, ressaltou Alessandro. 

Marcelo Alberto de Oliveira – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O professor contribuiu para a primeira seção do livro, que trata da colonialidade. “A forma de se pensar e agir deriva do colonialismo, que é um processo histórico no qual é imposta a hegemonia de um sistema produtivo e de uma interpretação de mundo. Um processo que hierarquiza as diferenças e a vida social”, concluiu.

Karatê

Representando uma reflexão presente na segunda seção do livro, Marcelo Alberto de Oliveira citou o karatê como um exemplo de modalidade esportiva que teve seu desenvolvimento modificado por práticas discriminatórias, no auge do nacionalismo japonês do século 20.

“Os historiadores que estudam o karatê afirmam que o esporte tem mais elementos chineses do que japoneses, mas passa por um processo de ‘japonização’, que ocorre com muita discriminação. O que é chinês ou coreano é deixado de lado para a construção de um karatê japonês ‘legítimo’, com novas tradições e elementos que apagam a história do esporte no século 19”, disse.

Ana Carolina Toledo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Vini Júnior

“É importante que a gente entenda que o racismo não é somente um sistema de exclusão de pessoas. O racismo é um sistema de exclusão de ideias e de pensamentos. É um sistema genocida e etnocida, ele assassina pessoas e formas de conhecimento que ancoram essas pessoas”, afirmou a educadora Ana Carolina Toledo, que escreveu um dos capítulos da quarta seção do livro.

“Existem barreiras e limites para a entrada de corpos negros no esporte. É difícil entrar, é difícil ficar, é difícil ganhar, e quando a gente ganha é difícil ser aceito, vide as histórias do Vini Júnior, que é um grande jogador de futebol que está passando por situações de racismo e discriminação”, finalizou.

Porta-bandeira

Além disso, no evento também esteve presente o poeta e escritor Antônio Carlos de Paula, que é neto de Alfredo Gomes, reconhecido como o primeiro atleta negro a ser porta-bandeira em uma delegação olímpica brasileira e vencedor da primeira edição da Corrida de São Silvestre.

De acordo com os organizadores do livro “Racismo e Esporte no Brasil”, foi destacado que a história de Alfredo Gomes foi apagada ao longo do tempo, com documentos e informações oficiais que omitiam sua identidade negra.

Antônio Carlos se tornou um pesquisador da história de seu avô e sobre ele escreveu dois livros: Alfredo Gomes: vida, vitórias e conquistas; Brasil – 100 Anos de Negritude Olímpica. “A história de Alfredo Gomes é muito bonita e merece esse destaque, não só para a comunidade afrobrasileira, mas também para o esporte brasileiro, para todos os atletas independente de sua origem”, disse.

Antonio Carlos de Paula, neto de Alfredo Gomes, primeiro atleta olímpico negro. – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 10 – Redução das Desigualdades

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