Recomposição da Aprendizagem será principal meta na educação do TO em 2023

TOCANTINS – Com a retomada das aulas presenciais em 2022 após um cenário de mais de dois anos de ensino online ou híbrido, ou até mesmo interrompido em virtude da pandemia, uma estratégia chamada recomposição da aprendizagem surgiu e passou a direcionar a gestão da educação. No Tocantins esse será o principal instrumento da Secretaria de Educação (Seduc) no calendário de 2023, conforme explicou o secretário da pasta, Fábio Vaz.   

Para entender um pouco melhor essa estratégia, é primeiro necessário compreender o que a difere de outros termos já mais conhecidos no âmbito educacional: a recuperação e o reforço escolar. Enquanto a recuperação trata da retomada de um conteúdo não assimilado pelo aluno e é feita ao fim do período letivo, o reforço é realizado durante todo o ano aprofundando o assunto de maior dificuldade, através de metodologias diversas das utilizadas na aula regular.   

Já a recomposição da aprendizagem surgiu para adequar o ensino às fragilidades potencializadas pelo período da pandemia e seu maior objetivo é acelerar o processo de ensino e aprendizagem, considerando os diferentes níveis entre os alunos.   

“O ano de 2022 foi reabrir as escolas e fazer diagnósticos, principalmente do nível de conhecimento dos nossos alunos pós esse período das escolas fechadas. A realidade é dura no país inteiro. Adquirimos um material para toda a rede, que vai ser trabalhado durante o ano. É um material específico voltado para competências e habilidades que o aluno tenha deficiência”, afirmou.  

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As estratégias da recomposição envolvem, por exemplo, o acolhimento, a adaptação curricular e das práticas pedagógicas avaliação diagnóstica contínua, material didático adequado e estratégias avaliativas, além da formação de professores. Como uma resposta à pandemia, a recomposição da aprendizagem considera que durante o período fora da escola presencialmente, cada aluno teve um acesso diferente ao conteúdo e estão em diferentes níveis de conhecimento, sendo essa uma forma de nivelar os estudantes em relação a esse conteúdo.   

O Tocantins conta hoje com 499 unidades de ensino na rede estadual, que abrigam mais de 126 mil alunos, sendo cerca de 71 mil no ensino fundamental e aproximadamente 55.500 no Ensino Médio. O quadro de funcionários da Educação conta com 4.516 professores concursados e 6.475 professores contratos e agora tem ainda psicólogos e assistentes sociais em sua estrutura funcional, atendendo à demanda da educação emocional. Tema já relevante há alguns anos, ganhou uma importância ainda maior no cenário de reabertura das escolas, levando em consideração todos os aspectos sociais e econômicos resultantes da pandemia.   

“É uma realidade dura, principalmente nas escolas brasileiras. Agressão, depressão, tudo isso está refletindo dentro da sala de aula”, pontuou o secretário.   

A educação emocional tem como foco ensinar a lidar com os sentimentos, entendendo o que está originando aquela emoção e como acolhê-la e tem impacto direto na melhoria da aprendizagem e do relacionamento interpessoal.   

Em conversa com o Secretário Fábio Vaz, entendemos um pouco mais sobre os desafios da gestão da educação para 2023 e as perspectivas do cenário atual.   

Sagres Online: Na sua opinião, quais os principais desafios para 2023?  

Secretário Fábio Vaz: O ano de 2022 foi reabrir as escolas, passamos por essa fase de diagnósticos, principalmente do nível de conhecimento dos nossos alunos, como estavam pós pandemia, pós esse período das escolas fechadas. Nós temos agora uma missão muito grande que é, depois de ter feito esse diagnóstico em 2022 executar o trabalho para poder recompor essa aprendizagem. E a realidade é dura no país inteiro, com esses dois anos de escolas fechadas.   

O Tocantins adquiriu material para toda a rede, que vai ser trabalhado durante o ano inteiro. É um material específico voltado para competências e habilidades que o aluno tenha deficiência. A primeira semana é o acolhimento, na segunda vai entrar o trabalho de fato com esse material. O professor vai ter ali as matrizes, habilidades, competências, tudo que ele precisa seguir e saber o que o aluno daquela série tem que ter conhecimento mínimo. E isso será monitorado por simulados e avaliações constantes.  

Depois que o professor apresenta em sala, e que passa a aula para o aluno, o aluno faz uma avaliação daquela habilidade e competência. Se ele conseguiu superá-la, ele segue, se não, ele volta para a mesma habilidade. Fica uma questão individualizada, eu passo a ter o monitoramento individualizado do aluno, não da turma. Esse ano além do material muito robusto tem formação para professor, nós estamos tendo formação agora com as equipes diretivas das diretorias regionais, então a gente vai individualizar pra encontrar a deficiência daquele aluno, naquela habilidade específica e todo o conjunto da escola vai trabalhar essa dificuldade específica.   

SO: Como minimizar os efeitos da pandemia?   

Secretário Fábio Vaz: Outra estratégia é a extensão de horas aula. Alunos de 3º ano, que é o aluno que já está deixando a escola e foi muito afetado, esse ano ele terá mais três horas aula. O aluno de 9º ano que também vem ali de um período do Ensino Fundamental, nos anos finais, esse aluno terá um acréscimo de horas aula. A gente sabe que a permanência do aluno, o trabalho do professor com mais tempo com esse aluno na escola, com atividades, dará mais condições para que ele recupere. O trabalho da recomposição ele é lento, de uma certa forma, mas ele parte de um diagnóstico, que nós já tivemos em 2022. E agora é trabalhar isso de uma forma direcionada e eu acredito que teremos um grande avanço em 2023 principalmente pelo Governo do Estado ter adquirido toda uma plataforma de trabalho específica para a recomposição da aprendizagem.  

SO: Como fazer a educação se fortalecer?   

Secretário Fábio Vaz: Tudo converge na aprendizagem. Temos hoje em torno de umas 200 obras, quando você coloca todas elas, entre indígenas e obras nas escolas, têm 500 escolas porque a gente sabe que o ambiente também corrobora com a qualidade do ensino, uma estrutura melhor. Quando a gente olhou a motivação do professor e com esse tanto de direito reprimido, com esses anos todo do passado, progressões de 2014, direitos de 2014, para 2022, quantos anos isso, se passou, corrobora também para a melhora da aprendizagem, quando você tem um professor motivado.   

Quando você começa a linkar as necessidades, é o que eu falo para a equipe: nós olhamos pro passado, que foram esses direitos e falar assim: vem cá professor, você vem sofrendo esses anos todos, nós vamos quitar, o governo do estado finaliza isso, faz uma entrega efetiva, porque a Seduc hoje não deve nada, os direitos dos professores foram pagos. É um salto gigantesco. E nesse momento você olha pro passado e fala: eu quero motivar você, eu quero trazer você pra cá.   

E quando você chega no presente de tudo isso você vê as entregas que nós estamos fazendo aqui agora com estrutura física, concurso público, melhora da qualidade de ensino, tecnologia chegando na escola, o material, todo um olhar presente para preparar para o futuro. Tudo isso está indo de uma forma que a gente possa planejar o futuro, e sempre entendendo que o ensino e a aprendizagem acontecem no presente.   

A Seduc não fazia aquisições tecnológicas há mais de 10 anos. Então todas as nossas escolas estão recebendo agora computadores. O professor ele quando chega à sala de aula, tem muitos alunos que já viram aquele conteúdo em algum formato diferente, e o professor tem que ter o recurso. Então ele tem que ter motivação, estrutura, ambiente adequado. Nós climatizamos as escolas, nós estamos aí com mais de 300 escolas que a gente climatizou só o ano passado, que é uma necessidade do Tocantins, nosso estado é muito quente. Esse ambiente melhora, e os computadores chegando, de certa forma dá condições de desenvolver o trabalho e que o aluno possa desenvolver da melhor forma. É uma troca. A Seduc ofertando, o professor recebendo, o professor também entregando e o aluno ali de uma certa forma, recebendo isso tudo.   

SO: Como está sendo trabalhada a questão da educação emocional?  

Secretário Fábio Vaz: O pós pandemia é uma realidade dura, principalmente nas escolas brasileiras, agressão, depressão, tudo isso está refletindo dentro da sala de aula, o que de certa forma reproduz os lares de muitos brasileiros, que sofreram durante a pandemia, perda de emprego dos pais, empobrecimento, tudo isso deságua na escola. O Governo do Tocantins buscou ter uma equipe socioemocional mais consistente que é o psicólogo, assistente social e o orientador, então nós contratamos, nós estamos agora ofertando uma formação pra toda essa equipe, que tem um papel determinante dentro do ambiente escolar. Não é apenas do aluno, é da comunidade escolar, do professor, do aluno, de quem trabalha na escola, de ter uma discussão socioemocional, de ter um olhar que possa trazer pra eles o conforto que a técnica possa oferecer. Quando se tem um assistente social, um psicólogo, um orientador, você tem pessoas preparadas ali que podem trabalhar com esse momento e isso o Governo do Estado está com uma energia muito grande concentrada principalmente que nós temos também um conhecimento muito grande da educação especial, está aí também, ela tem muito a ver.   

SO: O que mais podemos esperar da educação tocantinense para 2023?  

Secretário Fábio Vaz: Um dos pontos importantes que temos para 2023 são as questões de recursos. No final do ano agora nós repassamos duas parcelas extras. Toda escola tem a parcela da gestão, toda escola tem uma associação que recebe todo mês uma parcela e pra iniciar o ano de 2023 nós passamos duas parcelas extras que é pra escolar falar assim: “olha vou entrar em janeiro, não vou esperar o dinheiro entrar dia 30 de janeiro, eu já tenho aqui o recurso pra fazer o acolhimento, para fazer uma pequena reforma, para comprar um material diversificado”.   

Além dessas duas parcelas extras, nesse ano, nas escolas, estamos reajustando a parcela da gestão em 20%, o último reajuste foi em 2015. Aí você imagina, num tempo em que tudo ficou mais caro, nessa pandemia. E quem tá na escola, o diretor, a equipe, às vezes tinham muita dificuldade, principalmente com a conta de energia que é um gargalo, muito do dinheiro da gestão estava aplicado na conta de energia.   

Além disso, o projeto do governador, e da Secretaria da Educação era pagar os passivos. Pagamos. Agora precisamos trabalhar no PCCR (Plano de Cargos, Carreira e Remuneração). É no aumento de fato dos salários. Hoje a educação tem a nível de Estado do Tocantins o quadro mais desvalorizado, o pior remunerado é o professor. Você pega hoje o nível fundamental do quadro geral é mais bem remunerado que o de superior da educação. O nível do ensino médio, do nível superior nem se fala. Vamos ter um investimento muito grande da valorização da categoria tendo em vista que a educação também tem um recurso específico. E o novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) é isso aí, é ter essa valorização crescente, e esse ano é um ano de revisão do PCCR e de salários.  

*Izabela Martins é Correspondente Demá Sagres no Tocantins