O fenômeno meteorológico La Niña está voltando, trazendo consigo a promessa de um resfriamento das temperaturas globais. Esse retorno ocorre após um período de El Niño, que juntamente com as mudanças climáticas, elevou os recordes de calor em 2023.

Os meteorologistas, no entanto, alertam que o impacto do resfriamento de La Niña pode ser fraco devido às emissões de gases de efeito estufa, que já aumentaram as temperaturas globais em pelo menos 1,2°C desde o final do século XIX. Esse fenômeno faz parte do ciclo El Niño-Oscilação Sul (ENSO), que influencia significativamente o clima mundial.

La Niña causa o resfriamento do oceano Pacífico oriental por um período de um a três anos, produzindo efeitos opostos aos do El Niño no clima global. Para o Brasil, especialmente no norte, La Niña geralmente traz condições mais úmidas. Entretanto, algumas regiões da América do Sul podem experimentar condições mais secas.

Outros efeitos

La Niña também pode intensificar a temporada de furacões no Atlântico. A agência norte-americana NOAA prevê uma temporada excepcionalmente ativa em 2024, com entre quatro e sete furacões de categoria 3 ou superior. Apesar disso, o retorno de La Niña não deve aliviar rapidamente regiões como o Sudeste Asiático, já afetadas por ondas de calor extremo desde a primavera boreal.

“O planeta está se aquecendo e o ENSO apenas desempenha um papel secundário”, insiste Michelle L’Heureux. “Mesmo com o possível desenvolvimento de La Niña a partir deste ano, ainda esperamos que 2024 esteja entre os cinco anos mais quentes já medidos”.

O El Niño, por sua vez, é caracterizado pelo aquecimento das águas no centro e leste do oceano Pacífico tropical, influenciando precipitações, ventos e correntes oceânicas, e aumentando as temperaturas globais. O último El Niño, iniciado em junho de 2023, foi um dos mais intensos já registrados, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Ventos alísios

Normalmente, os ventos alísios do Pacífico sopram em direção ao oeste ao longo do equador, levando águas quentes da América do Sul para a Ásia. Durante o El Niño, esses ventos enfraquecem, e a água quente retorna para a América, causando aquecimento adicional da atmosfera e deslocamento do jato de corrente do Pacífico para o sul.

Esse deslocamento resulta em clima mais seco no Sudeste Asiático, Austrália, África do Sul e norte da América do Sul, e condições mais úmidas no Chifre da África e sul dos Estados Unidos.

Embora a influência da mudança climática sobre o ENSO ainda seja incerta, é possível que as condições mais secas ou úmidas causadas pelo ENSO sejam amplificadas pelo aquecimento global, conforme explica Michelle L’Heureux, especialista da NOAA. O aumento das temperaturas globais oferece uma visão do futuro das mudanças climáticas.

“Ao fornecer um impulso temporário, o ENSO oferece uma visão de como é um mundo mais quente”, diz a meteorologista, após um ano sem precedentes. Mesmo com o enfraquecimento do El Niño, os primeiros meses de 2024 continuaram registrando recordes de calor. A OMM indica que há uma probabilidade de 50% de que o trimestre junho-agosto seja um período neutro, entre os dois ciclos, ou que La Niña se inicie.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 15 – Vida Terrestre

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