Precipita em média 1.500 mm anuais de água no Rio Grande do Sul, mas caíram 420 mm de chuva entre 24 de abril e 4 de maio, o que representa cerca de um quarto do esperado para um ano em todo o estado. Com mortes, devastação e deslocamento de pessoas, ainda sem real dimensão, a tragédia torna-se uma das maiores do país.

Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Luiz Côrtes, três motivos surgem como motivadores para a tragédia: frentes frias, umidade oceânica e uma barreira de alta pressão. “Nós temos uma forte zona de alta pressão na região central do Brasil que impede que as frentes frias prossigam em direção ao norte”, apontou. 

No entanto, a principal causa apontada até o momento são os efeitos do El Niño, que provocam chuvas intensas na região desde o ano passado. Mas o professor acredita que a junção dos três fatores aumentou o nível de precipitações e causou a enchente que estamos acompanhando.

“[Essa zona] fez com que a umidade do Oceano Atlântico se desviasse: uma parte entrando pelo leste do Rio Grande do Sul e outra dando uma volta pela Amazônia e descendo pelo interior do País, chegando pelo oeste”, disse. Pedro Luiz Côrtes frisou que concentrou sobre o estado os efeitos da frente fria vinda do sul, da barreira ao norte e das ondas de umidade que chegaram ao estado pelo leste e oeste.

Catástrofe

A catástrofe atingiu 336 municípios do Rio Grande do Sul, com a morte de mais de 80 pessoas, 105 desaparecidas e aproximadamente 175 feridas, até a segunda-feira (6). A tragédia deixou quase um milhão de imóveis sem água e seis barragens em todo o estado estão em situação de emergência. “Precisamos de um Plano Marshall para recuperar o Estado”, afirmou o governador do estado, Eduardo Leite. 

O Plano Marshall foi um programa do governo norte-americano para recuperar a Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial. No caso do Rio Grande do Sul, ainda é necessário esperar a água baixar para entender o dano real do estado, mas pela magnitude, já se sabe que grande parte das cidades precisarão ser reconstruídas. “É um desastre que se colocaria, sem exagero, no rol de um grande terremoto”, disse Côrtes.

“A necessidade de reconstrução é praticamente total, porque todos os principais recursos de que o Estado e a população podem dispor foram comprometidos no seu todo ou em grande parte”, apontou o professor.

Aeroporto de Porto Alegre (Foto: Fraport/Divulgação)
Aeroporto de Porto Alegre (Foto: Fraport/Divulgação)

Reconstrução

Tudo precisará ser verificado. o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, ficará fechado pelo menos até 30 de maio. A infraestrutura do transporte terrestre é ainda mais delicada, pois precisa esperar para saber como estão as estradas e pontes. As estradas são extremamente importantes para restabelecer os serviços essenciais de saúde, água, energia e alimentação. Além das necessidades de locomoção, evacuação e resgate das vítimas. 

No momento, o resgate e a entrega de comida estão sendo realizados, principalmente, por aviões, helicópteros e embarcações de pequeno porte. O Governo Federal, com o apoio da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, está viabilizando a suspensão de restrições legais para a reconstrução do Rio Grande do Sul.

Entre as principais medidas, está a criação de arcabouço jurídico especial para a liberação de recursos federais para o estado. O Rio Grande do Sul passou por enchentes recentes, mas a grandeza da tragédia está sendo equiparada a de 1941.

*Com Jornal da USP

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

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