A visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a Brasília nesta semana levantou um debate sobre a situação do sistema político do país vizinho. A convite de Lula, Maduro participou da cúpula que reuniu todos chefes de Estado da América do Sul na capital federal.

Para entender o contexto político da Venezuela de Nicolás Maduro, o Sagres Internacional #2020 mergulha um pouco na história do país. Nas últimas duas décadas, o país vem aprofundando o seu autoritarismo e tem sido marcado pela maior crise humanitária de sua história. Com os embargos à Rússia, em virtude da Guerra da Ucrânia, os índices melhoraram. No entanto, segue mergulhada em desigualdade e denúncias de violações de direitos humanos enquanto espera as próximas eleições, previstas para 2024.

O autoritarismo começou ainda no governo de Hugo Chávez, principalmente depois que ele sofreu uma tentativa de golpe em 2002. Em 2009, o líder fez uma emenda na Constituição para permitir reeleições ilimitadas. Falava em ficar no poder até 2030, enquanto perseguia opositores e minava a liberdade de imprensa.

Depois da morte de Chaves, devido a um câncer, em 2013, que seu vice, Maduro, passou a mostrar a face mais autoritária do regime. Ele tentou se manter no poder com uma taxa de popularidade que nunca se aproximou da registrada pelo antecessor. Além disso, é tachado por setores chavistas como “neoliberal”.

Em 2017, por exemplo, após perder o controle do Parlamento, Maduro criou uma Assembleia Constituinte com amplos poderes para neutralizar a oposição. O chavismo também domina o Tribunal Supremo de Justiça, instância máxima do Judiciário. Ele se reelegeu em 2018 sob eleições muito questionadas e sem o acompanhamento de observadores internacionais.

Houve ainda a denúncia de uma série de crimes contra a humanidade. Em abril, a Corte Penal Internacional divulgou um informe reunindo 1.746 denúncias. Em setembro passado, a ONU já havia publicado relatório com 122 casos desde 2014. Espancamentos, uso de descargas elétricas e asfixia são algumas das práticas relatadas por opositores da ditadura.

Brasil – Ucrânia

O Sagres Internacional #220 abre aspas ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Ele afirmou que o presidente Lula (PT) “quer ser original” no plano de paz que vem apresentando para o conflito entre o país europeu e a Rússia. Entretanto, “algumas perguntas” precisam ser respondidas para que o plano se concretize.

A declaração foi dada ao jornal Folha de S. Paulo, que entrevistou Zelensky em Kiev. Zelensky recebeu jornalistas de sete veículos de imprensa da América Latina e respondeu à repórter da Folha, Patrícia Campos Mello.

“O presidente Lula, eu acho, quer ser diferente, quer ser original, e devemos dar essa oportunidade a ele. Agora, é preciso responder a algumas perguntas muito simples. Primeiro: o presidente do Brasil acha que assassinos devem ser condenados e presos? Creio que, se tiver a oportunidade, ele dirá que sim. Ele vai encontrar tempo para responder a essa pergunta? Ele não achou tempo para se reunir comigo, mas talvez para responder a essa pergunta ele encontre tempo. E aí ele simplesmente responderá se assassinos devem ser presos.

Ademais, Zelensky disse que “se milhares de pessoas foram assassinadas na Ucrânia, não sabemos ao certo, mas dezenas de milhares, foram mortos e torturados nas partes do nosso território ocupado pelos russos. Os assassinos estavam cumprindo ordens? Se foi um assassinato em massa, deveria ser presa a pessoa que mandou outras fazerem isso? Acho que Lula dirá que “sim, provavelmente assassinos em massa são sádicos e, portanto, devem estar na prisão”. Então, se o presidente quiser ser original, ele pode dizer: “O tribunal que a Ucrânia propõe não é adequado, mas eu, presidente Lula, sei como colocar os assassinos atrás das grades de maneira mais rápida, sem tribunal”. Bom aí a Ucrânia ficará muito feliz em receber esse conselho”.

Outros assuntos

O podcast desta semana repercute ainda que o Japão investirá R$ 127,3 bilhões para promover natalidade. Você confere também que Brasil e Índia divergem da China sobre ampliação do Brics, e que o secretário-geral da Otan diz que aliados concordam que Ucrânia se tornará membro da aliança. Na Polônia, ultradireitista impede palestra sobre Holocausto. Confira também como o Brasil se compara a outros países, já que seu PIB teve crescimento de 1,9%.

Confira a edição 220 do Sagres Internacional

Podcast

Todo sábado, a partir das 13h, o Sagres Internacional vai ao ar com uma edição inédita. O programa traz um enfoque apurado e contextualizado das relações globais e de seus efeitos para as comunidades locais. A apresentação é do jornalista Rubens Salomão com análise do professor de História e Geopolítica Norberto Salomão.

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