Uma forte onda de calor atinge o país na última semana do inverno, que termina no próximo sábado (23). Mas o corpo humano possui uma temperatura ideal que fica em torno de 36 °C e 37 °C. Rafael Azeredo, médico clínico do Hospital Ruy Azeredo, afirmou que a temperatura do ambiente consegue interferir nela e, portanto, é preciso saber como aliviar os efeitos desse calor extremo para o nosso corpo.

“Quando a temperatura sobe muito como a gente tem visto nos últimos dias o corpo tem uma série de reações que prejudicam esse funcionamento normal e ideal do corpo”, disse. A situação exige cuidados com a saúde para evitar impactos como insolação e desidratação. “Buscar um ambiente protegido do sol como primeira barreira física é importante”, contou o médico.

A medida é importante para os momentos em que é preciso se expor ao sol. Porém, algumas pessoas trabalham diretamente expostas ao sol e não conseguem se proteger de forma efetiva. “Para essas pessoas é importante ter intervalos a cada duas horas para ir para um ambiente coberto e deixar o corpo resfriar um pouco”, indicou Azeredo. 

Desidratação

O risco de desidratação existe para todos independente da necessidade ou não de exposição à luz solar. Mas há cuidados específicos tanto para quem precisa se expor ao sol quanto para as pessoas que ficam grande parte do dia em ambiente fechado. O principal problema das altas temperaturas é a vasodilatação dos vasos sanguíneos que é por onde corre o sangue.

“Os vasos sanguíneos aumentam de tamanho na tentativa de dissipar o calor. Na pele a gente vê a reação dessa reação com a transpiração, o suor na pele”, explicou Azeredo. Segundo  o especialista, o problema é que o vaso aumenta de tamanho, mas a quantidade de sangue continua a mesma ou menor por causa da desidratação.

“Então a perfusão (mecanismo que bombeia sangue nos pulmões), o sangue que consegue passar do vaso para o tecido é menor, o que piora e agrava o risco de infarto para quem já tem algum problema cardíaco, AVC para quem tem problema vascular cerebral. Assim como justifica todos os sintomas que a gente vê atualmente no consultório: dor de cabeça, cansaço, indisposição. Por isso, o mais importante é manter-se bem hidratado. E manter um nível de hidratação alto, maior do que o recomendado habitualmente para evitar esses sintomas e esses riscos”, explicou Azeredo.

Hidratação

Água potável (Foto: Bio-Manguinhos/Fiocruz)
Água potável (Foto: Bio-Manguinhos/Fiocruz)

Para evitar a desidratação é necessário buscar alternativas contra os efeitos das altas temperaturas no corpo. A primeira ideia contra o calor são as bebidas geladas. Mas o médico avaliou que essa hidratação não deve ser feita com refrigerante, água de coco ou outros líquidos. “Não precisa disso”, argumentou. 

“A água, a boa e velha água é o mais importante. O que precisa é ter sempre uma garrafinha ao lado. Para uma pessoa saudável a gente recomenda o consumo de 2 litros de água por dia, e numa situação de calor extremo a gente pode aumentar isso para valores maiores, uns 2,5 litros  a 3 litros”, contou.

Entretanto, Rafael Azeredo afirmou que a quantidade não é a mesma para pessoas que possuem alguma doença, com atenção para casos especiais como os pacientes cardiopatas. Nesses casos, é preciso uma avaliação médica mais específica para cada caso. 

Possuir uma garrafinha de água ajuda no processo de quantificar o volume de água consumido durante o dia. O doutor Azeredo apontou que ter horário para essa avaliação é importante.

“Se você sai de casa com uma garrafa de 600 ml de água e na hora do almoço presta atenção se você bebeu ela, isso pode ser um ponto de checagem para você corrigir o seu consumo de água no restante do dia”, destacou.

Exposição à luz solar

Calor Goiânia
Foto: Kamylla Rodrigues

Apesar das altas temperaturas, a exposição à luz solar continua sendo importante. Então, assim como em períodos mais frescos, o período recomendado para essa exposição ao sol é no começo da manhã e no final do dia, que é quando o sol está naturalmente mais brando.

“É extremamente importante essa exposição ao sol, principalmente à luz solar. Durante o dia, ter aberturas de luz para o corpo é ideal. O nosso corpo tem receptores que conseguem manter o nosso ciclo circadiano devido a influência da luz solar. Então, se fechar num ambiente todo fechado pode ser prejudicial para a questão do sono e para outras questões metabólicas”, informou Azeredo.   

O calor extremo no ambiente externo faz as pessoas preferirem ambientes internos com aparelhos de ar condicionado ou ventiladores. O médico clínico, Rafael Azeredo alertou para a importância da manutenção dos aparelhos. Além disso, lembrou que a aglomeração favorece os casos de covid e outras doenças respiratórias.

“No calor a gente se aglomera muito em ambientes fechados por causa do ar condicionado e a gente está vendo o aumento dos casos de covid. Então, aquela preocupação que a gente tinha lá atrás volta a ser uma preocupação agora e é importante evitar ambientes com aglomeração muito grande de pessoas e sem ventilação”, explicou.

Diferenças de temperaturas

Os impactos ambientais são algumas das causas das mudanças climáticas que provocam os eventos extremos de frio e calor. Este ano, o mundo já registrou a maior temperatura da história do planeta Terra. E agora, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou alertas de perigo potencial em alguns estados do Brasil por causa das altas temperaturas. 

Mesmo com a possibilidade de enfrentar essas temperaturas extremas com os aparelhos de ar condicionado e ventiladores, Azeredo apontou que  existe problema de saúde para o corpo se a diferença for maior que 10 °C. 

“A recomendação é que a temperatura não varie mais de 10 °C. Então, por mais que a temperatura externa esteja muito alta e a nossa tendência é colocar o ar condicionado lá embaixo na menor temperatura possível, isso não é o ideal. A gente precisa ter um alívio da temperatura ambiente que está lá fora, mas não pode colocar uma temperatura muito baixa porque essa mudança de temperatura abrupta pode ser prejudicial para o corpo”, finalizou.

Leia mais: