O cenário climático para 2024 promete ser impactante, influenciado pelo persistente El Niño, cuja intensidade se mantém notável desde 2015-2016. Após um ano marcado por extremos climáticos em todo o mundo, impulsionados pelo El Niño mais robusto, é natural questionar o que aguarda o planeta nos próximos meses.

O ano de 2023 foi testemunha de um aquecimento acelerado global, alcançando a temperatura mais elevada em 125 mil anos, uma realidade que será confirmada por várias agências meteorológicas nos próximos dias.

O El Niño, aliado às mudanças climáticas, desempenhou um papel crucial nesse aquecimento recorde e rápido que alarmou a comunidade científica. O Pacífico equatorial, há sete anos, não registrava um aquecimento tão pronunciado. Embora haja quase certeza de que o El Niño se dissipe, provavelmente em abril, surge a incerteza sobre o que virá em seguida.

Os modelos climáticos apresentam divergências, indicando a possibilidade de neutralidade (sem Niño ou Niña) ou a presença de La Niña no segundo semestre. A transição rápida entre El Niño e La Niña tem sido observada recentemente, como em 2022, quando o Pacífico passou de três anos de Niña para El Niño em apenas um trimestre, um fenômeno incomum.

Águas mais frias

Embora os modelos ainda estejam divididos sobre a possibilidade de La Niña ou neutralidade no segundo semestre de 2024, a perspectiva aponta para águas mais frias do que a média na região equatorial do Pacífico. A eventual volta da La Niña aumenta o risco de episódios de frio intenso e períodos de estiagem entre a primavera de 2024 e o verão de 2025, mas estimativas precisas são prematuras.

Incidência de La Niña é maior a partir da metade do ano | Foto: NOAA/US

É certo que 2024 será novamente um ano muito quente globalmente, com temperaturas acima da média no Brasil, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde novas ondas de calor são esperadas. A incerteza reside em determinar se será mais quente do que 2023, com opiniões divergentes entre os cientistas, embora as diferenças sejam mínimas.

Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, prevê que as temperaturas globais em 2024 superarão os recordes de 2023, com base em tendências de longo prazo e na intensidade do atual El Niño. Outros cientistas expressam ceticismo.

“Durante o típico primeiro ano de um El Niño, vemos um aumento da temperatura global nos últimos meses do ano, seguido por condições muito quentes durante os primeiros meses do ano seguinte”, disse Robert Rohde, cientista da Berkeley Earth, um grupo independente que rastreia as temperaturas globais.

Recordes de temperatura

O Met Office da Inglaterra projeta que 2024 quebrará novamente recordes de temperatura, superando 2023, que, por sua vez, está prestes a ser considerado o ano mais quente já registrado.

A previsão média global do Met Office para 2024 varia entre 1,34°C e 1,58°C acima da média do período pré-industrial (1850-1900), marcando o 11º ano consecutivo com temperaturas pelo menos 1,0°C acima dos níveis pré-industriais.

Aquecimento no mundo bateu recorde no ano passado | Foto: Copernicus/UE

“A previsão está em linha com a tendência contínua de aquecimento global de 0,2°C por década e é impulsionada por um significativo evento El Niño. Portanto, esperamos dois novos anos consecutivos de quebra de recordes de temperatura global e, pela primeira vez, estamos prevendo uma chance razoável de um ano temporariamente ultrapassar 1,5 °C”, afirmou o líder da previsão, Nick Dunstone, do Met Office, se referindo ao limite do Acordo de Paris.

“É importante reconhecer que uma ultrapassagem temporária de 1,5°C não significará uma violação do Acordo de Paris. Mas o primeiro ano acima de 1,5°C seria certamente um marco na história climática”, completa.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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