“A ciência ainda não inventou e não está nem perto de inventar alguma coisa sintética que substitua o sangue. A medicina moderna só é possível graças às transfusões de sangue. Está em diversos cenários”. A afirmação é do médico hematologista do Hemolabor e Membro titular da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, Paulo Vittor Peres.

Em entrevista à Sagres, Peres reforçou a campanha Junho Vermelho, que busca a conscientização da população sobre a doação de sangue. De acordo com o especialista, o mês da ação, porém, não foi escolhido por acaso. Precede julho, período de férias escolares e que todos os anos registra aumento do número de acidentes de trânsito. Este é um dos meses em que os bancos de sangue de hospitais mais necessitam de reposição das bolsas para atender às vítimas.

Ouça a entrevista a seguir

“Se o paciente sofre um grande acidente, por exemplo, e tem uma perda sanguínea muito rápida, é preciso repor esse sangue de forma rápida. A gente não consegue repor só com soro. O sangue transporta oxigênio e nutrientes para os tecidos. Se a pessoa perde sangue de forma muito rápida, é preciso repor, necessariamente, com sangue”, pontua. 

Paulo Vittor Peres enumera situações diárias de pacientes nos hospitais que necessitam de transfusão de sangue. É o caso das quimioterapias para tratamento de câncer, e que, todavia, acabam lesionando a medula óssea. 

“A medula é a fábrica de sangue. O paciente fica muito tempo com anemia, plaqueta baixa, então é preciso dar esse suporte. Transplantes de medula e suporte a pacientes com doenças hematológicas crônicas como anemias falciformes, talasemias. As doenças cardíacas também. Tudo isso só é possível graças à transfusão de sangue”, considera.

Doar salva vidas

Essencial para tratamentos e intervenções urgentes, o sangue pode ser necessário, entre outros casos, em hemorragias graves, queimaduras de terceiro grau e, inclusive, hemofilia. 

“Uma bolsa de sangue que você doa não vai para uma pessoa só. Ela é fracionada. A gente consegue separar os glóbulos vermelhos, que transfunde a quem tem anemia, por exemplo; consegue separar as plaquetas, e transfunde a quem tem deficiência de plaquetas; e consegue separar o plasma, que transfunde a quem tem deficiência de fator de coagulação”, afirma Peres. 

Testes

Além disso, segundo o hematologista, o sangue também é rigorosamente testado para várias doenças infecciosas.

O médico hematologista Paulo Vittor Peres fala sobre importância da doação de sangue (Foto: Sagres Online)

“HIV, hepatite C, hepatite B, doença de Chagas, sífilis e HTLV (vírus da mesma família do HIV e infecta células importantes para a defesa do organismo). Em bancos de sangue principalmente de Rio de Janeiro e São Paulo, região da Mata Atlântica, também testa-se para malária”, afirma. 

Mitos

“Quem doa sangue uma vez, tem que doar sempre”. “Doar sangue engorda ou emagrece, afina ou engrossa o sangue” “Doar sangue dá coceiras”. “Doar sangue contamina o doador”. “Doação de sangue pode gerar um coágulo”. 

Os dizeres acima, porém, são exemplos de mitos, crenças e, por que não, fake news relacionados à doação de sangue. Paulo Vittor Peres assegura, no entanto, que não há risco algum para os doadores. 

“Ao doar sangue, o máximo que pode acontecer no dia é uma reação vasovalhal, que é uma queda de pressão, digamos assim, porque está perdendo um pouquinho de volume. Por isso todos os bancos de sangue têm um médico acompanhando a doação o tempo todo”, elucida. 

Outra crença é a de que “quem doa sangue uma vez tem de doar sempre”. Mito puro. Paulo Vittor Peres argumenta que doar sangue, entretanto, não vicia.  

“Você pode vir doar sangue uma vez e nunca mais doar, por exemplo. O ideal [porém] seria que viesse doar sempre. Não engrossa e nem afina o sangue, porque o nosso sangue é produzido na medula óssea, toda a programação genética está lá. Então tirar sangue ou não não vai viciar. Exames de laboratório, por exemplo, você está tirando sangue [também]. Doar sangue é o mesmo raciocínio”, conclui.

De acordo com o especialista, homens podem doar até quatro vezes por anos. Mulheres podem doar até três vezes anualmente.

Para doar sangue é preciso:

Bolsa de sangue (Foto: Charlie-Helen Robinson/Pexels)

Estar em boas condições de saúde;
Ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 anos, precisam de autorização, baixe o formulário clicando aqui.
Pesar no mínimo 50 kg;
Estar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas);
Estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas que antecedem a doação);
Apresentar documento com foto emitido por órgão oficial.

Impedimentos temporários para doar sangue:
Gripe, resfriado e febre: aguardar 15 dias após o desaparecimento dos sintomas;
Período gestacional;
Período pós-gravidez: 90 dias para parto normal e 180 dias para cesariana;
Amamentação (até 12 meses após o parto);
Ingestão de bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a doação;
Tatuagem e/ou piercing nos últimos 12 meses (piercing em cavidade oral ou região genital impedem a doação);
Exames/procedimentos com utilização de endoscópio nos últimos 6 meses;
Ter estado exposto a situações de risco acrescido para doenças sexualmente transmissíveis (aguardar 12 meses após a exposição).
Pessoas que tiveram contato com pacientes infectados ou com suspeita de covid-19 ficam impedidas de doar sangue pelo prazo de 7 dias
Pessoas que foram consideradas caso suspeito ou confirmado, devem aguardar o prazo é de 10 dias após a remissão dos sintomas.
Vacinas têm um período de inaptidão que varia entre 48 horas e 12 meses. Saiba o período de cada uma clicando aqui.

Critérios definitivos de impedimento para doar sangue:
Ter passado por um quadro de hepatite após os 11 anos de idade;
Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo sangue: Hepatites B e C, Aids (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas;
Uso de drogas ilícitas injetáveis;
Malária.

Intervalos para doação de sangue
Homens – 60 dias (máximo de 04 doações nos últimos 12 meses).
Mulheres – 90 dias (máximo de 03 doações nos últimos 12 meses).

Recomendações úteis após a doação de sangue:
Permanecer sentado por 5 a 10 minutos;
Manter o curativo no braço pelo menos por 4 horas;
Tomar o lanche oferecido pelo Hemocentro;
Evitar dobrar o braço puncionado por 30 minutos;
Aumentar a ingestão de líquidos nas próximas 24 horas;
Não ingerir bebidas alcoólicas por 12 horas;
Não fumar por cerca de 2 horas;
Evitar grandes esforços físicos por 12 horas;
Não desempenhar atividade de risco (manipular máquina de corte ou torno, trabalhar em andaimes ou grandes alturas, dirigir transporte coletivo ou motocicletas).

O que fazer se apresentar [pós-doação de sangue]:
Hematoma ou mancha arroxeada no local:
Aplicar compressas de gelo no local nas primeiras 6 horas. Se permanecer procure o Departamento Médico e Serviço de Enfermagem do Hemogo, ou posto de saúde mais próximo de sua casa.

  • Flebite (vermelhidão e dor no local):
    Aplicar compressas de água morna no local e procurar o Departamento Médico e Serviço de Enfermagem do Hemogo ou posto de saúde mais próximo de sua casa.
  • Mal estar ou desmaios:
    Sentar e colocar a cabeça abaixo dos joelhos ou deitar com os pés em nível acima da cabeça.
  • Dor no braço que realizou a doação, tontura, fraqueza e aumento da frequência cardíaca:
    Comunique ao Hemocentro caso apresente qualquer sinal ou sintoma descrito acima ou qualquer sinal de processo infeccioso, como febre ou diarréia, até 14 dias após a doação.

Com informações do Hemocentro de Goiás

*Esse conteúdo está de acordo com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 03 – Saúde e Bem Estar

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