O Tom Maior trouxe a série Adolescência da Netflix para um debate importante no quadro Sem Filtros. A produção que conta a história de um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola mostra como a saúde mental de adolescentes é um desafio para as famílias. O bate-papo com o psicólogo Alex Pereira rendeu muitos assuntos, entre eles a proximidade de pais e filhos e a relação dessa geração com as redes sociais.
“Os adolescentes muitas vezes não têm muita noção das consequências das atitudes deles e isso acontece pela fase do desenvolvimento, é natural isso. E o tanto é importante os pais estarem sempre acompanhando, os pais monitorarem o uso de redes sociais, das amizades. O que eu comento muito com os pais é sempre aproximar dos amigos dos filhos, conhecer os amigos, porque quando a gente sabe com quem o meu filho está andando eu entendo um pouco mais do universo dele”, disse o psicólogo.
Não tem como falar sobre a atual geração de adolescentes sem falar da relação que eles têm com as redes sociais. É comum ouvirmos a expressão “já nasceu com o celular na mão” quando eles são o assunto, mas a verdade é que o celular e o acesso à internet e tecnologia só são possíveis para crianças e adolescentes quando proporcionados por um adulto, no caso os pais.
A presença dessa faixa etária na internet e nas redes sociais e o uso de coisas que ali existem molda a percepção que eles têm da realidade e, assim, uma coisa criada para um fim positivo pode, na verdade, causar danos à saúde mental dos adolescentes. “Hoje eu vejo que os celulares, as redes sociais que a função é aproximar as pessoas, mas acaba afastando um pouco. Aproxima do mundo virtual, mas aqui no mundo físico, o real, isso acaba tendo um afastamento”, destacou.
Saúde mental em tempos de internet
A fase da adolescência sempre foi difícil em todas as gerações. É nessa faixa etária que há uma maior liberdade de escolhas e encaminhamento para a independência plena, há maior percepção de mundo, a formação da personalidade fica mais visível e tudo isso ocorre em meio a dilemas históricos da adolescência, como o desejo de aceitação, o medo de ser rejeitado, a construção de uma imagem social baseada na aprovação do outro.
Alex Pereira reconheceu que são dilemas que sempre foram complexos para adolescentes, sobretudo pela questão do impacto da avaliação do outro. Segundo o psicólogo, as redes sociais são mecanismos de comunicação que amplificam essas mensagens e tensionam esses acontecimentos. Ele exemplificou que anteriormente situações de bullying, ofensas ou discussões ficavam na escola. Mas hoje isso é diferente.
“Hoje em dia parece que acontece alguma coisa na vida do adolescente e isso vai para a rede social, vai para os aplicativos de comunicação, para os grupos. Isso se intensifica cada vez mais e o adolescente por si só está nessa fase de transição. Então, ele é muito sensível a esses julgamentos, esses impactos e quando ele percebe que está sendo massificado com esse julgamento, com essa crítica, ele começa a não saber lidar com isso”, afirmou.
Relação de pais e filhos
O mundo atual convive com os desafios das tecnologias, pois elas facilitam a vida e possibilitam conexões ao mesmo tempo que amplificam aspectos negativos relativos à saúde mental. Dentro disso, está o papel da família e como é a relação entre pais e adolescentes. Alex Pereira destacou a importância de um vínculo forte nessa relação e a necessidade de uma comunicação aberta.
“Desde pequeno sempre manter essa comunicação aberta, se aproximar do filho e entender o que ele gosta de fazer, identificar os interesses que ele tem e talvez a sua opinião enquanto pai não importe tanto nesse momento. Então, se ele gosta de desenhar, mas você não gosta, desenha com ele mesmo sem gostar, porque você é adulto, tem capacidade de lidar com seus desconfortos e com os seus incômodos”, afirmou.
Construir uma relação a partir dos interesses do adolescente é uma forma de estar sempre próximo e de se abrir para que ele também conheça os seus gostos e interesses. Pereira disse que os adolescentes também têm interesse em agradar os pais e afirmou que desenvolver esse laço desde a infância é um caminho para que na adolescência eles sejam pessoas mentalmente saudáveis.
“Se eu construir isso desde a infância, quando chega na adolescência esse filho se sente mais à vontade de falar com esse pai, porque esse pai é compreensivo, essa mãe entende o que ele está passando e não vão só criticar ou dizer que tem que fazer isso ou aquilo. O importante é ter essa escuta ativa de poder sentar frente ao seu filho e escutar o que ele tem a dizer, não julgar tanto. Às vezes o filho não quer que você ache a solução para o problema, ele só quer ser ouvido, abraçado e que você diga é difícil ser julgado e a gente passa por isso na vida, enquanto adulto a gente passa por isso”, disse.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e bem-estar e o ODS 04 – Educação de Qualidade.
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