Em 2022, o Brasil completou 90 anos da instituição do Sufrágio Universal, que permitiu o direito ao voto às mulheres brasileiras. Mas, quase um século depois, a participação das mulheres na política brasileira está longe de ser ideal.

Em entrevista à Sagres, nesta terça-feira (08), a cientista política Mayra Goulart fez uma análise do cenário político para as eleições de 2022 e do processo histórico da participação das mulheres no Brasil. Ela disse que, apesar dos avanços conquistados durante estes anos, muita coisa ainda precisa evoluir.

“Não há estímulos para a participação da mulher na política. Escolher mulheres que não tem força política, que não vão se eleger apenas para cumprir a cota de 30% é revoltante. Até mesmo aquelas que conseguem se eleger depois são cerceadas por manobras masculinas. Mesmo assim, tudo é obstaculizado pelos chefes de partidos, que são majoritariamente homens e que não tem interesse que elas sejam conhecidas e ganhem protagonismo” afirmou Mayra.

Um estudo realizado pela União Interparlamentar, organização internacional responsável pela análise dos parlamentos mundiais, mostra que dentre 192 países, o Brasil aparece na 142° colocação do ranking, com apenas 15% de participação de mulheres na política nacional.

História

Questionada se a evolução do processo histórico da mulher na política seria demasiadamente lento ou se seria um processo natural, Mayra Goulart explicou que as conquistas foram alcançadas pouco a pouco e que sempre esbarraram na oposição masculina.  

“A história do voto feminino não pode ser pensada como uma linha reta. Ela é cheia de percalços e evoluções e está ligada à estrutura de sociedade patriarcal. Em 1932, com a instituição do Sufrágio Universal, as mulheres não eram obrigadas a votar, elas seguiam dependendo da autorização de seus maridos ou pais, ou seja, de presenças masculinas, para poderem votar “, completou.

A especialista disse ainda que as evoluções acerca da equidade de direitos femininos na política passam pelo filtro da elite branca e masculina que por outros meios, acaba por podar e desestimular o futuro político das candidatas.

“Na Constituição de 46 a não obrigatoriedade é mantida e fica ainda mais evidente quando diz que só eram obrigadas a votar as mulheres que tinham autonomia financeira, ou seja, que não dependiam do controle dos seus maridos. Apenas na Constituição de 1988 é que isso foi mudar, ou seja a apenas 34 anos. Mesmo assim, hoje ainda existem muitos bloqueios, melindres, que partem dos homens para sabotar a participação das mulheres na política”, afirma a cientista política.

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Questionada acerca das declarações feitas pelo deputado estadual por São Paulo, Arthur do Val, sobre mulheres ucranianas, a especialista defendeu que o pensamento dito como “masculino” precisa ser revisto e que o deputado precisa ser punido.

“Os homens precisão se reinventar. Grupos paralelos de conversas em que são reproduzidos discursos machistas, de ódio, racismo e sexismo, só legitimam um comportamento que causa violência e morte. Essa afirmação de que ‘preciso de espaço para me expressar livremente’ é um absurdo. Esse caso não pode ficar impune, ele precisa perder o mandato e ser punido de maneira contundente”, reforça.

Confira a entrevista completa:

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