Desde 2018, o Amazonas experimenta uma redução significativa em sua superfície de água, com os 3,56 milhões de hectares de setembro passado representando uma diminuição de 1,39 milhão de hectares em relação aos 4,95 milhões registrados em setembro de 2022. Esse último marco havia superado a média histórica estabelecida a partir de 1985 e representou o pico de superfície de água desde então.

Vinte municípios do estado enfrentaram quedas substanciais na extensão de suas áreas aquáticas. Barcelos, situado no centro do Amazonas, lidera o ranking com uma perda de 69 mil hectares entre setembro de 2022 e setembro de 2023.

Em seguida, encontram-se Codajás (47 mil hectares), Beruri (43 mil hectares) e Coari (40 mil hectares), todos com perdas superiores a 40 mil hectares de superfície de água. Parintins (36 mil hectares), Maraã (36 mil hectares), Manacapuru (29 mil hectares), Itacoatiara (25 mil hectares), Anori (24 mil hectares) e Autazes (23 mil hectares) fazem parte do grupo com perdas superiores a 20 mil hectares de superfície de água nesse período.

Outros dez municípios experimentaram perdas entre 10 mil e 20 mil hectares. É importante destacar que todos esses municípios, que testemunharam as maiores perdas de superfície de água no Amazonas, estão sob estado de emergência ou alerta, afetando comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, indígenas e áreas urbanas.

Os pesquisadores também identificaram pontos críticos afetados pela redução da superfície de água, como a seca no Lago Tefé, que resultou na morte de mais de 100 botos. Imagens de satélite evidenciam a seca de lagos inteiros em áreas de várzea na RESEX Auatí-Paraná. O Lago de Coari também enfrentou a escassez de água, afetando o acesso a alimentos, medicamentos e o calendário escolar. Entre Tefé e Alvarães, a seca gerou extensos bancos de areia.

Impacto

Carlos Souza, coordenador do MapBiomas Água e autor principal do relatório técnico, explicou que a redução da água foi identificada em rios, lagos e áreas úmidas. “O impacto na biodiversidade aquática tem sido reportado em várias localidades, mas ainda não foi estimado, podendo atingir proporções alarmantes. Além disso, o Amazonas encontra-se com alta vulnerabilidade a queimadas, o que aumenta o risco às populações e à economia”.

“Os efeitos do El Niño severo de 2023 e do aquecimento do Atlântico Norte têm sido considerados, por especialistas, como os principais fatores que estão contribuindo com a seca severa na região, o que pode ser de maior intensidade do que a seca de 2010. As mudanças climáticas e o desmatamento, por sua vez, são considerados a principal causa das secas, cada vez mais frequentes e severas na Amazônia”, afirma Souza.

O mapeamento foi realizado combinando imagens Landsat com imagens Sentinel-1 (radar) para superar os desafios de cobertura de nuvens. No entanto, o estudo adota uma abordagem conservadora, sugerindo que a extensão da perda de água pode ser ainda mais crítica. Essas análises foram conduzidas por Bruno Pereira e Carlos Souza Jr., pesquisadores do Imazon que fazem parte do MapBiomas.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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