“Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos – o que é pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados- me trouxeram enorme tristeza”.

Este é um dos trechos do último texto de Aécio Neves como colunista da Folha de São Paulo, postado na madrugada desta segunda-feira (22). O senador tucano por Minas Gerais está afastado das atividades como parlamentar desde a decisão do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin, no último dia 18 de maio.

Defesa milionária

Um dia antes, na quarta-feira (17), Aécio foi citado em delação premiada feita por um dos proprietários do frigorífico JBS, Joesley Batista, conforme apurado pelo jornal O Globo. O empresário delatou que o tucano teria pedido uma quantia de R$ 2 milhões para pagar sua defesa na Lava Jato.

“Nos últimos dias, minha vida foi virada pelo avesso. Tornei-me alvo de um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui eleito por mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela polícia sem absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade”, diz o presidente nacional do PSDB.

Palavrões

Durante os áudios divulgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em que Aécio estaria negociando com Joesley a suposta propina, o tucano chega a proferir, em quase todo momento, uma variedade de termos de baixo calão. Sobre isto, o parlamentar afastado se desculpa no texto publicado na coluna da Folha.

“Além do mais, usei um vocabulário que não costumo usar, e me penitencio por isso, ao me referir a autoridades públicas com as quais já me desculpei pessoalmente. Mas reafirmo: não cometi nenhum crime!”, publicou.

Ainda no texto publicado pelo jornal, Aécio se dirige ao dono do frigorífico JBS, mais de uma vez, como “criminoso” e “sem escrúpulos”, e que teria sido ingênuo ao reunir-se com uma pessoa que queria “forjar citações que o ajudassem nos benefícios de sua delação”.

Doações ao PSDB

Sobre as doações ao partido em 2014, o senador afastado nega que tenha recebido propina, e que os R$ 60 milhões foram doados legalmente pela JBS para a campanha daquele ano. “Setores da imprensa vêm destacando uma acusação do delator de que, em 2014, eu teria recebido R$ 60 milhões em “propina”. Mas muito poucos tiveram a curiosidade de pesquisar e constatar que isso se refere exatamente aos R$ 60 milhões que a JBS doou legalmente a campanhas do PSDB naquele ano”, escreveu.

Irmã de Aécio

Andrea Neves foi presa na última quinta-feira (18), suspeita de intermediar o pagamento de R$ 2 milhões supostamente pedidos por Aécio para pagar a própria defesa na Lava Jato. Segundo delação de Joesley, a irmã do tucano pediu ainda R$ 40 milhões para comprar um apartamento no Rio de Janeiro.

“Errei ao procurar quem não deveria. Errei mais ainda, e isso me corrói as vísceras, em pedir que minha irmã se encontrasse com esse cidadão, que em processo de delação arquitetou um macabro e criminoso plano para obter certamente ainda mais vantagens em seu acordo”, afirmou Aécio.

Defesa

Por fim, o parlamentar afastado diz que vai dedicar o tempo para se defender perante a Justiça e que, por conta disso, deixa a coluna do jornal paulistano. “Diante da necessidade de dedicar-me integralmente à minha defesa, deixo de ocupar nesta Folha o espaço que, durante quase seis anos, ocupei semanalmente, buscando contribuir para aprofundar a discussão sobre os problemas do país”.

Michel Temer

Ingenuidade foi um argumento utilizado por Michel Temer (PMDB), também em entrevista à Folha. O presidente da República foi gravado pelo empresário da JBS em uma conversa na qual o principal líder da sigla suspostamente confirma que estaria mantendo a compra do silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. “Tem que manter isso aí, viu”, diz o peemedebista em um trecho da gravação.

Temer recebeu o dono da gigante alimentícia fora da agenda oficial, no dia 7 de março de 2017, nas dependências do Palácio do Jaburu, em Brasília, por volta das 23h. Após o envio da conversa ao STF, foi aberto inquérito. Em pronunciamento, Temer diz que não renunciará ao cargo, e que “Se quiserem, me derrubem, porque, se eu renuncio, é uma declaração de culpa”.