Durante muitos anos, o trabalho presencial foi a única alternativa para a maioria das pessoas, com o trabalho remoto sendo praticamente inexistente, mesmo com os avanços tecnológicos. Contudo, a pandemia redefiniu essa dinâmica, tornando o trabalho remoto uma realidade essencial.

Com o retorno à “normalidade” após a vacinação, muitas empresas, que haviam adotado modelos remotos ou híbridos, reintroduziram o trabalho presencial em diferentes escalas. Para avaliar o impacto dessas mudanças, o Infojobs e o Grupo RH conduziram uma pesquisa revelando que 64,4% dos profissionais que transicionaram do home office para o trabalho presencial experimentaram uma queda na qualidade de vida.

A pesquisa, que contou com 1.008 respondentes, destacou que 55,9% eram do sexo feminino, 45,9% do sexo masculino, e a faixa etária predominante era entre 35 a 44 anos (34,7%). Além disso, 65,4% residiam no sudeste do Brasil. A capacidade de trabalhar remotamente tornou-se um critério crucial na aceitação ou recusa de propostas de emprego, indicando uma mudança nas prioridades dos profissionais.

“Muitas vezes, o trabalhador gasta duas ou três horas para chegar ao local de trabalho, não só por distância, mas trânsito também. O profissional fica cada vez mais cansado, com menos tempo para fazer um curso, ficar com a família, ter um momento de lazer, relaxar ou outra atividade prazerosa, o que pode refletir positivamente no desempenho, mas a ausência dessas rotinas que se tornou mais comum na pandemia prejudica a qualidade de vida”, comenta Ana Paula Prado, CEO do Infojobs.

Mais números

Quanto à produtividade, 58,3% dos entrevistados sentiram-se menos produtivos no ambiente presencial, enquanto apenas 21,3% relataram aumento na produtividade. A falta de ações efetivas do setor de Recursos Humanos foi apontada por 73,9% dos participantes como um fator contribuinte para essa percepção negativa.

“Os resultados revelam um enorme desafio que os RHs já estão tendo que administrar e que tende a ficar ainda maior no futuro próximo: conciliar as diretrizes da gestão organizacional com aquilo que quer e busca o colaborador. A maioria das empresas parece querer voltar ao mundo pré-pandemia, sendo que poucas consultaram as pessoas se era isso que queriam”, comenta Daniel Consani, CEO do Grupo TopRH.

Em termos de iniciativas adotadas, apenas 23,1% destacaram horários flexíveis, 21,8% mencionaram ações relacionadas ao bem-estar e saúde mental, e 18,4% citaram melhorias nas instalações físicas do escritório.

“Foram criadas pouquíssimas iniciativas, mas o foco é e sempre deve ser proporcionar maior equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional, além de criar ações de engajamento, como treinamentos para o desenvolvimento e interação dos colaboradores”, afirma Ana Paula Prado.

Impactos

A pesquisa revelou uma escassez de esforços setoriais para mitigar os impactos adversos. Profissionais compartilharam inicialmente nas redes sociais as vantagens do trabalho remoto, contrastando com as reflexões sobre a vida no presencial.

Para Daniel, profissionais de RH despreparados para receber os colaboradores presencialmente e que não implementam iniciativas adequadas podem enfrentar desafios significativos. “Nunca foi tão importante atuar diretamente na construção de uma cultura organizacional forte, que foque na transversalidade e transparência da gestão, entendendo que cultura e propósito devem ir muito além dos ‘muros’ da organização”, opina.

Em 78,5% dos casos, as empresas não consultaram os colaboradores antes de retornar ao trabalho presencial ou híbrido. Dos respondentes, 47,2% estão no formato 100% presencial, 33,2% no modelo híbrido e 19,5% trabalham exclusivamente remotamente. Entre os que têm algum componente presencial, 55,7% vão ao escritório de 5 a 6 vezes por semana, e 23,7% de 3 a 4 vezes.

Diante desse cenário, 58,4% dos participantes expressaram o desejo de mais dias de trabalho remoto e menos presenciais. Além disso, 85,3% afirmaram que aceitariam uma oferta de trabalho com mais dias de home office, destacando o crescente interesse dos profissionais nesse modelo.

Mudanças

Quanto às mudanças culturais nas empresas, os pontos críticos incluíram reuniões desnecessárias (18,6%), liderança despreparada para a gestão remota (14,2%) e liderança tóxica (12%).

“Ainda há tempo de reverter esse cenário. O RH precisa olhar as necessidades coletivas e individuais e estabelecer políticas para tornar a situação mais confortável para todos, sempre apoiadas pelas lideranças, que atuam em linha de frente com os colaboradores. Precisamos levar em consideração que reter talentos é um dos maiores desafios atuais, portanto, empresas que querem manter bons funcionários, precisam conferir e recalcular a rota em tempo real, para garantir valorização e bem-estar de quem trabalha na organização. Funcionários felizes percorrem distâncias maiores sentido aos resultados almejados”, conclui a CEO do Infojobs.

Uma pesquisa realizada por acadêmicos da Universidade Cornell em parceria com a Microsoft revelou que o trabalho remoto não apenas oferece uma alternativa viável, mas também apresenta benefícios significativos para o meio ambiente. Conforme os resultados indicam, a prática do trabalho remoto pode resultar em notáveis vantagens ambientais, incluindo a redução das emissões de carbono associadas às atividades corporativas.

Comparativamente aos profissionais que se deslocam até o local de trabalho, aqueles que adotam o trabalho remoto em tempo integral conseguem reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em até 54%. Em situações de esquema híbrido, a redução é de 11% para aqueles que trabalham remotamente dois dias por semana e aumenta para 29% quando a opção é trabalhar quatro dias por semana em casa.

Benefícios ambientais

Em uma entrevista ao The Washington Post, Longgi Yang, gerente de pesquisas da Microsoft, ressaltou que para que os benefícios ambientais sejam expressivos, é crucial que a adoção do trabalho remoto seja consistente. “Este estudo fornece dados muito importantes para uma dimensão com a qual as pessoas se preocupam muito quando decidem uma política de trabalho remoto”, completa.

O pesquisador também destacou que, embora nem sempre as residências apresentem eficiência energética comparável aos edifícios comerciais, e que as impressoras utilizadas em domicílio são geralmente menos eficientes do que as encontradas nos ambientes de escritório.

“Embora o trabalho remoto mostre potencial na redução da pegada de carbono, a consideração cuidadosa dos padrões de deslocamento, do consumo de energia dos edifícios, da propriedade de veículos e das viagens não relacionadas ao deslocamento é essencial para concretizar plenamente seus benefícios ambientais”, afirma o estudo.

“Para ter um plano abrangente para algo como isto, é preciso olhar para mais do que apenas o local de trabalho. As outras escolhas que as pessoas fazem nas suas vidas também terão impacto nas emissões que criam e que as organizações também podem criar”, disse John Trougakos, professor de comportamento organizacional e gestão de recursos humanos na Universidade de Toronto-Scarborough.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 08 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico

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