Há sete anos da avaliação global da Agenda 2030, Goiânia ainda está muito longe de atingir as metas de sustentabilidade que foram propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os goianienses apontaram a situação da cidade em relação a agenda numa pesquisa de percepção da qualidade dos serviços públicos da prefeitura da capital de Goiás.

A Agenda Pública e o Instituto Ideia pesquisaram a percepção da população sobre a sustentabilidade nas 10 maiores capitais brasileiras. O levantamento ocorreu entre 28 de setembro e 1º de outubro deste ano, com respostas de 3.024 pessoas sobre o serviço público municipal. 

Para 33% dos goianienses a prefeitura da cidade não promove a igualdade de gênero e a inclusão social. Em relação à proteção do meio ambiente, 40% da população disse que o município não incentiva ações de combate às mudanças climáticas. A percepção de combate à pobreza e a desigualdade é de apenas 13% enquanto 50% discordam.

A transparência e eficiência da administração pública é bem avaliada por apenas 15% dos moradores, enquanto 45% negaram que a prefeitura escuta as necessidades da população e incentiva a participação pública dos cidadãos nas políticas públicas do município.

Desconhecimento da Agenda 2030

A pesquisa fez afirmações nas quais os moradores responderam “concordo”, “discordo” ou “nem concordo, nem discordo”. Chamou atenção que todos os percentuais positivos foram menores que o de certeza negativa e dúvida. O percentual de respostas “discordo” ficou entre 33% e 50% enquanto o percentual para a resposta “nem concordo, nem discordo” apresentou resultados entre 32% e 38%.

Na avaliação da Agenda Pública as porcentagens significativamente altas de respostas “não concordo, nem discordo” apontam o desconhecimento da população goianiense sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

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Futuro sustentável

A Agenda 2030 é um plano global assumido por 193 países-membros da ONU durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York, em setembro de 2015. Na reunião, os líderes globais das nações representadas estabeleceram 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável com outras 169 metas universais para transformar o mundo num lugar melhor para todos até 2030.

As metas favorecem as populações mais vulneráveis ao redor do globo, com foco nos direitos humanos e na responsabilização das pessoas, instituições privadas e públicas acerca das desigualdades. Além disso, a Agenda 2030 tem compromisso com a proteção do meio ambiente e toda a sua biodiversidade, como foco especial em combater as mudanças climáticas e mitigar os efeitos do aquecimento global. 

O Brasil comprometeu-se com a Agenda 2030. Então, assim, o país precisa que as metas sejam atingidas em todas as suas esferas políticas: federal, estadual e municipal. Logo, para que o Brasil alcance as metas que assume anualmente nas reuniões climáticas da ONU, é preciso que Goiânia contribua com o futuro sustentável do país.

Sustentabilidade na vida das pessoas

A pesquisa da percepção sobre a sustentabilidade nas 10 capitais brasileiras faz parte de um levantamento mais abrangente, que é a “Pesquisa Nacional: Qualidade dos Serviços Públicos nas Capitais”. O estudo existe porque a Agenda Pública é uma instituição especializada na formulação de políticas públicas, transição justa e inovação. 

Classificação das capitais brasileiras na pesquisa nacional sobre a qualidade dos serviços públicos (Fonte: portal/gestaopublica.org.br)

Em parceria com o Instituto Ideia foram levantados dados sobre os mais diversos temas, dentre os quais a entidade destacou a percepção dos moradores dessas cidades sobre a sustentabilidade. Os temas foram destacados de acordo com cada um dos ODS da ONU porque alguns podem tornar-se políticas públicas nos serviços públicos municipais básicos.

O diretor-executivo da Agenda Pública, Sergio Andrade, afirmou que a sustentabilidade aparece de maneira prática em diversos serviços públicos que as pessoas acessam diariamente. Além disso, ele acrescentou que a oferta desses serviços hoje é muito complexa. “É mais difícil entregar serviço público hoje porque eles não são iguais para todos. Então você precisa ouvir a população para entender como entregar uma melhor educação, saúde e mobilidade”, disse. 

E ainda apontou: “sustentabilidade não é uma pergunta fácil, nós precisamos transformar as perguntas para que o cidadão entenda que a sustentabilidade é muito maior: estamos falando de emprego, transparência, saúde, educação, qualidade do meio ambiente e inclusão. E essas dimensões precisam ser separadas e, assim, temos alguns pontos de atenção especificamente sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.

Sergio Andrade (Foto: LinkedIn)

Saúde negativa e segurança positiva

Os indicadores mostraram que a avaliação de Goiânia é baixa para algumas políticas de proteção social para a população mais vulnerável e na área da saúde. Sergio Andrade contou que a pesquisa nacional já apontava a saúde como um grande ponto de atenção em Goiânia, com as filas e o tempo de espera para atendimentos e agendamentos de exames no topo da falta de qualidade do serviço. 

A presença da saúde goianiense no topo das reclamações chamou atenção em relação às demais capitais pesquisadas, que apresentaram a segurança como o principal ponto de atenção. 

“A segurança em todo o país aparecia como uma avaliação importante, mas em Goiânia tivemos um comportamento diferente das demais. Nós tínhamos a qualidade da administração pública, ou seja, como a prefeitura se organiza e constrói os seus serviços públicos no maior ponto de atenção, seguido de saúde pública e só então a segurança aparecia naquela pesquisa”, disse.

Políticas sociais

É nas políticas sociais que aparece a percepção para 33% dos goianienses que a prefeitura não promove a igualdade de gênero e a inclusão social. Além dos 50% que apontaram a baixa quantidade de ações de combate à pobreza e a desigualdade. Para o diretor-executivo da Agenda Pública são políticas de difícil percepção da população.

“Meio ambiente, inclusão e gênero são políticas difíceis de serem compreendidas pela população, não é tão fácil. Então, olha, o que é uma política de clima? A gente sabe que é difícil comunicar na prática o que é isso”, contou. 

Andrade destacou a necessidade da população conhecer do que se tratam essas políticas e a forma prática como as ações acontecem na vida das pessoas. 

“Elas não são os pontos mais levantados pelos cidadãos, mas é uma política mais difícil de ser compreendida. Então, como um ponto de atenção, eu diria que a prefeitura precisa traduzir melhor as suas ações no caso dessas duas políticas, com um esforço realmente significativo em saúde e também em sistemas de inclusão e proteção social. Esses são temas em que a prefeitura realmente precisa investir suas ações uma vez que o prazo é de sete anos para as metas serem avaliadas”, disse.     

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Goiânia é destaque na mobilidade

Apesar de indicadores abaixo do esperado para políticas sociais, os moradores de Goiânia apresentaram percepção positiva para a segurança e a mobilidade na cidade. “Educação e mobilidade são pontos favoráveis à gestão municipal”, disse Andrade. Os pontos são favoráveis para a gestão municipal em relação a outras regiões do Centro-Oeste. 

A mobilidade, para Andrade, é um ótimo aspecto para a população compreender como a sustentabilidade impacta e está presente no dia a dia.

“Quando nós pensamos no que Goiânia pode fazer para criar uma política que realmente enfrente as mudanças climáticas, nós estamos falando de mobilidade. Nós podemos ter uma mobilidade que use menos combustível fóssil, que as pessoas precisem deslocar-se menos dentro da cidade. Essencialmente o dever de casa das capitais está principalmente no tema da mobilidade com a descarbonização da frota”, afirmou.  

A vocação regional é essencial

Sergio Andrade defende que ouvir a população a respeito dos serviços públicos é fundamental e que ao relacionar as políticas à sustentabilidade é necessário respeitar também a vocação regional. 

“Goiás é um estado agrícola e tem uma vocação importante que contribui muito fortemente com o PIB nacional que diz respeito a agricultura e nesse caso estamos falando de uso da terra. Ou seja, como é que nós podemos recuperar pastagens para que essas áreas devastadas possam evitar que nós desmatemos ainda mais o Cerrado? Então isso é uma coisa prática que está no dia a dia”, disse.

Andrade citou as queimadas, os cursos d’água e os fertilizantes como assuntos intrinsecamente ligados à sustentabilidade em Goiás. Portanto, disse ele, o discurso sobre ações sustentáveis está muito presente nas atividades cotidianas das pessoas aqui no estado.

“Os fertilizantes têm papel muito importante nas discussões climáticas porque eles geram CO2. Então, com uma política do estado e do governo federal nós podemos pensar em como trabalhar o uso da terra, novas práticas agrícolas, plantio direto, recuperação de pastagens, a questão de projetos de carbono e também podemos ter políticas para o campo que ajudem a tornar a agricultura mais produtiva”, destacou.  

Missão 2030

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Foto: Reprodução/ONU)
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Foto: Reprodução/ONU)

O discurso é global, mas as ações sustentáveis, defendeu Sergio Andrade, precisam mudar a vida das pessoas. Estamos falando de pessoas em situação de pobreza, fome e desigualdades. As metas dos ODS visam proteger o meio ambiente e sua biodiversidade seja na terra, na água ou em todas as formas que as atividades humanas alteram o ecossistema natural e provocam as mudanças climáticas.

Para agir, há mudanças positivas como a agricultura sustentável e o incentivo às fontes de energia limpa, sendo assim, expectativas de mudanças daquilo que conhecemos na indústria e na infraestrutura. 

Portanto, o novo mercado busca inovação para promover o crescimento econômico responsável e sustentável. E, então, todas as mudanças impactam na qualidade da educação e na saúde e no bem estar da população, desde a alimentação adequada ao acesso a serviços básicos de água e saneamento.

Assim, a missão das pessoas, instituições públicas e privadas é alcançar todas essas melhorias até 2030. Mas para isso, as ações buscam mudanças no padrão de produção e consumo que sejam inclusivas e eficazes e implementadas por meio de parcerias.

Situação do Brasil

Faltam menos de sete anos para a avaliação global da implementação dos 17 ODS da Agenda 2030. A Agenda Pública reforçou a necessidade de estratégias para acelerar e potencializar iniciativas para o desenvolvimento sustentável. 

Uma das iniciativas para alcançar as metas partiu da própria entidade e chama-se BR22+8, projeto criado no contexto político de 2022. A partir deste ano, a Agenda Pública levou o projeto para a Comissão Nacional dos ODS, instituída via decreto pelo governo federal. Sergio Andrade comentou a situação do Brasil no cenário para cumprir as metas até 2030.

“Nós vamos cumprir algumas e outras ficarão pelo caminho, mas não significa que não haja esforço concreto em todas elas. Então, eu vejo que os maiores desafios são as áreas sociais, pois o Brasil tem um esforço e contribuição na política climática que me parece ser consistente”. 

Sergio aponta que os desafios do país nas questões climáticas estão relacionados à agricultura, agropecuária e ao desmatamento na Amazônia. Entretanto, para ele, de forma geral os esforços podem “dar frutos até 2030”. 

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Desafios dos próximos seis anos

O diretor-executivo da Agenda Pública frisou que as políticas sociais devem avançar nos próximos seis anos para o país atingir as metas estipuladas em 2015. “Nas grandes agendas de inclusão o Brasil precisa ser mais ambicioso: a gente ainda tem indicadores de insegurança alimentar expressivos, tivemos que voltar com várias iniciativas de combate à fome e nós temos uma separação enorme entre brancos e negros, 10 anos separam os negros dos brancos no país”, argumentou.       

Andrade reforçou a importância de fortalecer as políticas sociais por causa da alta taxa de mortalidade entre a população jovem. Segundo ele, o aspecto revela a existência de “um desafio da segurança pública” no país.

“A gente precisa criar políticas que não tenham esse resultado tão incipiente. Nós não podemos ver pessoas morrendo, principalmente os nossos jovens negros, eles precisam estar nas escolas e precisam ter oportunidades reias na sociedade. Então eu diria que o foco na população negra e nas mulheres é fundamental se nós quisermos olhar para onde de fato está a brecha no Brasil nesses casos”, finalizou.

Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).