CÉZAR FEITOZA E JULIA CHAIB / BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu escantear o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da coordenação de segurança da posse do petista.
A decisão se deu por desconfiança em relação ao trabalho da pasta comandada pelo ministro Augusto Heleno, um dos mais próximos auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Por decreto, cabe ao Gabinete de Segurança Institucional coordenar a área de segurança de eventos com a presença do presidente. Na posse, no entanto, o trabalho envolve mais instituições, que devem assumir responsabilidades da pasta.
Sem acionar o GSI, a transição tem tratado com a Polícia Federal sobre a coordenação da segurança da posse de Lula, em 1º de janeiro.
Os desacertos entre a equipe do novo governo e o GSI começaram na primeira segunda-feira (7) após a instalação do grupo petista no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), a sede da transição em Brasília.
Policiais federais que compõem a equipe de segurança de Lula foram surpreendidos com a chegada de cerca de 30 agentes do GSI ao local.
O comando da equipe do petista conversou com os integrantes do GSI e informou que não seria necessária a permanência deles, especialmente nas áreas em que o presidente eleito frequentar.
De acordo com relatos de agentes da PF, o Gabinete de Segurança Institucional atuou na transição do ex-presidente Michel Temer (MDB) para Bolsonaro, em 2018. Por isso, a pasta teria entendido que o modelo se repetiria neste ano.
A justificativa dentro da transição passa por dois argumentos principais. Aliados de Lula afirmam que a PF ficará responsável pela segurança porque acompanha Lula desde a campanha eleitoral. Para eles, a continuidade do trabalho da corporação é natural.
Por outro lado, petistas dizem que Heleno deu declarações recentes que colocam sua atuação sob suspeita. Como exemplo, eles citam uma fala recente do ministro, que disse a apoiadores de Bolsonaro que Lula “infelizmente” não estava com problemas de saúde.
“Esse negócio do Lula estar doente, não está, infelizmente […] Vamos torcer para que tenhamos um futuro melhor. Na mão do cachaceiro, não vai”, declarou o atual chefe do GSI.
Com o desconforto, o GSI deve ficar limitado a atuar após a assinatura do termo de posse –momento em que, oficialmente, a segurança de Lula passará a ser feita pela pasta. Após esse ato, o gabinete não estará mais subordinado a Heleno.
Além do GSI, a transmissão presidencial também conta com a participação da PF (Polícia Federal), Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Comando Militar do Planalto e as equipes de segurança do Congresso Nacional, STF (Supremo Tribunal Federal) e Itamaraty.
A equipe de Lula também possui receios com a Secretaria de Segurança Pública do DF. O governador Ibaneis Rocha (MDB) avalia a possibilidade de levar de volta à pasta o atual ministro da Justiça, Anderson Torres, alinhado ao bolsonarismo.
O titular da secretaria do governo distrital, o delegado da PF Júlio Danilo, afirmou à reportagem que as forças de segurança da capital federal estão prontas para auxiliar na posse de Lula.
“Toda a segurança do perímetro é responsabilidade nossa. Controle de trânsito, de acesso das pessoas. A gente vai botar uma linha de revista –é natural, isso ocorre em toda a manifestação–, para evitar que alguém entre com canivete, com arma, fogos de artifício”, disse.
Júlio Danilo também avaliou que o GSI precisa participar da segurança da posse, por considerar que a pasta ficará responsável pela segurança de Lula durante o novo governo petista e pela responsabilidade do gabinete de proteger o Palácio do Planalto.
“Hoje, a segurança aproximada do presidente está com a Polícia Federal, e a PF deve assumir a coordenação [da segurança da posse]. Eu não posso te precisar se isso é por determinação da equipe de transição do presidente, mas há um entendimento no sentido de que o GSI tem que participar”, disse. “Mesmo porque, acabou a posse, a Polícia Federal sai e quem assume a segurança é o GSI”.
Na terça-feira (22), Augusto Heleno participaria de uma comissão da Câmara para prestar esclarecimentos sobre os eventos de 7 de Setembro. O ministro, no entanto, apresentou um atestado médico para justificar sua ausência.
O documento, obtido pela Folha de S.Paulo, é assinado por Sebastião José da Rocha Neto, médico da Presidência. “Atesto que Augusto Heleno Ribeiro encontra-se sob meus cuidados profissionais, devendo ser dispensado(a) do serviço por 3 (três) dia(s), a contar de 21/11/2022”, diz o atestado.
Fontes do Planalto afirmaram que Heleno está com sinusite. Em resposta, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara aprovou nesta quarta uma convocação do ministro.
Procurado pela reportagem, o GSI não se manifestou.
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