Durante as décadas de 1990 e 2000, a rivalidade entre Goiás e Vila Nova viveu seu auge. No período, os times disputaram diversas competições, desde o Campeonato Goiano, passando por torneios regionais e pelo Campeonato Brasileiro. No ano de 2001, a equipe esmeraldina tinha a oportunidade de construir um histórico e inédito hexacampeonato estadual, tendo sido campeão goiano entre 1996 e 2000.

No meio do seu caminho, contudo, estava seu principal rival, que não conquistava o título justamente no ano anterior à sequência, em 1995. Sem mencionar os eventos que aconteceram em 2000, com o rebaixamento do Vila Nova no Campeonato Goiano após protesto em virtude das decisões da arbitragem depois de jogo contra o próprio Goiás. 19 anos atrás, os colorados tiveram sua revanche.

Melhores colocados no hexagonal final do torneio estadual, Vila Nova e Goiás fizeram a decisão de 2001. No primeiro jogo, melhor para os colorados, que venceram no dia 27 de maio por 1 a 0, com gol de Finazzi. Foi o passo inicial para o que seria o 14º título do Campeonato Goiano dos vilanovenses, encerrando não apenas seu próprio jejum, como a sequência de triunfos do rival.

No dia 3 de junho, o Vila Nova voltou a bater o Goiás no estádio Serra Dourada, dessa vez por 3 a 1. Enquanto o zagueiro Rogério Corrêa, aos 12 minutos, e o meia Serginho, aos 51, marcaram no primeiro tempo, Túlio Maravilha, aos 22 da etapa final, consolidou sua artilharia com 16 gols no torneio. Do outro lado, Luciano Goiano descontou para o time perdedor aos 37.

Arturzinho, treinador do Vila Nova em 2001 (Foto: Miguel Schincariol/AE)

Entrevistado pela Sagres 730 nesta quarta-feira (3), durante o programa Hora do Esporte, Arturzinho, treinador do Vila Nova na época, afirmou que “é ótimo relembrar essa conquista. Reputo como uma das minhas principais conquistas como profissional. Tive a felicidade de conquistar vários títulos como técnico e atleta, mas essa foi muito significativa, até porque considero que foi contra o melhor Goiás de todos os tempos”.

O ex-comandante técnico ressaltou que “se você analisar que o Goiás tinha Harlei, Jonathan, Sílvio Criciúma, Índio, Marquinhos, Josué, que foi campeão do mundo e jogou em seleção brasileira, Danilo, Dill, Araújo e Fernandão, quer dizer, era um timaço, e conquistamos esse título vencendo os dois jogos finais”. Do seu lado, contava com um jovem Fernando Prass no gol, a dupla de zaga formada por Rogério Corrêa e Wladimir e um ataque com nomes como Túlio Maravilha, Anderson Barbosa, Finazzi e Wando.

Segundo Arturzinho, a equipe adversária era considerada imbatível na época. Inclusive, meses antes, em março, “tínhamos perdido para esse próprio Goiás a Copa Centro-Oeste jogando bem melhor. Eles jogavam pelo empate, o jogo acabou empatado e conseguiram o título, e ficamos com aquela dor na garganta de uma impossibilidade de conquistar dois títulos com a equipe do Vila Nova, um clube que tenho um carinho muito grande”.

O ex-treinador recordou o pouco tempo de formação da sua equipe, quando “tínhamos cinco meses de clube, e o Goiás era um time já formado há algum tempo, com jogadores acostumados a decisões”. De qualquer forma, pesou “a nossa capacidade de envolver psicologicamente, e lembro que ratificava quase que diariamente para o grupo que seríamos campeões, que eles eram capazes e que tínhamos um torcedor ávido à conquista, que precisávamos aproveitar aquele momento. Isso fez a diferença”.

Em relação ao elenco, “não tínhamos um líder em termos de condução do grupo, mas tínhamos um líder técnico. O Túlio era esse líder técnico, enquanto o Fernando Prass, apesar de muito jovem, tinha uma condução dentro do campo e no treinamento, de tão esforçado e dedicado que era, que passava esse perfil para os outros. Tínhamos o Wladimir, o nosso capitão, um garoto vindo do Goiás e que admiro muito, era um líder, mas sem alarde e confusão”.

“Tínhamos o próprio Donizete, que faleceu, infelizmente, um jogador de muita garra, e às vezes até ultrapassava um pouco o limite e tínhamos que controlá-lo. Mas costumo dizer que não foi uma liderança única que fez esse um time vencedor, foi de termos embutido na mente dos jogadores de que eram capazes. Na final, entraram todos, inclusive os reservas que não disputariam a partida, para tirar a fotografia. Para fazer isso, você tem que ter uma confiança muito grande e o grupo tem que acreditar que a possibilidade do título é enorme. Foi isso que aconteceu e essa foto deve estar no Vila Nova até hoje”, completou.

Por outro lado, a final poderia não ter sido contra o Goiás. Na última rodada do hexagonal, o Vila Nova estava praticamente garantido na decisão e até com uma derrota poderia se classificar, porém conquistou vitória por 2 a 1 sobre a Anapolina que o deixou com 12 pontos. Resultado que trouxe alívio para o Goiás, que empatou em 3 a 3 com o Real Clube de Itumbiara, fechando a fase com nove pontos, dois a mais que a Anapolina – se vencesse o Vila Nova, a ‘Xata’ teria se classificado.

Arturzinho relembrou que, “faltando três ou quatro minutos, acabou o jogo na Serrinha e a torcida começou a gritar para entregar. Alguns jogadores, por já estarem em Goiânia há algum tempo, conhecerem o futebol goiano e saber da dificuldade que era vencer uma final do Goiás, queriam que perdêssemos. Seria fácil, estávamos com um gol de diferença e era só dar duas bolas, eles faziam dois gols, acabava o jogo e iríamos disputar a final com a Anapolina”.

“Lembro que fiquei irritado, esbravejando fora do campo, e para sorte minha quem não estava nesse complô era o Fernando Prass. Ele logo fez uma defesa dificílima e começou a esbravejar com os outros atletas”, contou. O ex-treinador revelou ainda uma conversa com dirigentes colorados, que o questionaram por não ter ‘entregado’ o jogo para evitar uma decisão contra o rival.

“Expliquei para ele que não tenho esse tipo de conduta e não vou fazer isso nunca na minha vida. Um dirigente ficou muito invocado e falou ‘você não sabe a história do futebol goiano, o Goiás já perdeu para não disputar o campeonato conosco’. Fui muito enfático, e isso deu uma confusão danada, e falei ‘não se preocupe, porque seremos campeões em cima do Goiás’. Ele, de uma forma insensata, falou ‘tomara que isso aconteça’, já me precavendo caso não ganhássemos o campeonato de que iria embora na mesma hora”, relatou.

Ficha técnica: Vila Nova 3-1 Goiás

Segundo jogo da final do Campeonato Goiano de 2001
Data: domingo, 3 de junho de 2009
Local: estádio Serra Dourada, em Goiânia, Goiás

Vila Nova: Fernando Prass; Aírton, Rogério Corrêa, Wladimir e Dejair; Cléber Goiano (Saymon), Donizete, Carioca e Serginho (Wando); Túlio e Anderson Barbosa (Finazzi). Treinador: Arturzinho

Goiás: Harlei; Cláudio, Índio, Silvio Criciúma e Marquinhos (Zé Carlos); Josué, Marabá, Danilo e Fernandão; Dill e Araújo (Luciano Goiano). Treinador: Vica

Gols: Rogério Corrêa (Vila Nova), aos 12 minutos do primeiro tempo (1-0); Serginho (Vila Nova), aos 51 minutos do primeiro tempo (2-0); Túlio (Vila Nova), aos 22 minutos do segundo tempo (3-0); Luciano Goiano (Goiás), aos 37 minutos do segundo tempo

Confira na íntegra a entrevista de Arturzinho à Sagres 730