(Foto: divulgação/internet)

Tá legal, vou falar a verdade: me dá um pouco de vergonha de falar de Breaking Bad aqui. Porque o intuito do blog é estimular a troca de ideias, geralmente sobre produções mais frescas, e me soa absolutamente estranho propor uma discussão já ultrapassada. Afinal, todo mundo já assistiu a série. Já leu milhares de artigos. Já colocou na sessão dos favoritos da Netflix, ou comprou aquelas edições de colecionador pra enfeitar a estante. Não é?

Meu receio é que sempre existem os incautos a atrapalhar as estatísticas. E pode ser – veja bem, não acredito que isso ocorra, mas é sempre válido prevenir – pode ser que alguém ainda não tenha assistido. Então essa postagem aqui vale mais como um serviço de utilidade pública. Como vacinação contra a febre amarela, ou contra a H1N1, por exemplo (Aliás, vacinem-se! A coisa tá feia!).

Assista Breaking Bad. Se você ainda não assistiu, inclua na rotina, pelo seu próprio bem. Faça exercícios regularmente, tenha uma dieta balanceada e assista Breaking Bad. Porque é simplesmente uma das melhores coisas que já foram criadas nos últimos 20 anos. Tá no mesmo hall de Família Soprano.

A primeira coisa que você precisa saber é que a série foi destinada a ter um final. Não é como novela do Manoel Carlos, que ganha mais ou menos capítulos conforme a reação do público. Foram planejadas cinco temporadas. A primeira é curtinha, com sete episódios, só para te apresentar o drama. As três seguintes seguem o novo formato americano de 13 episódios. E a quinta, com 16 episódios, foi dividida em duas partes, naquela mesma estratégia do paradigma Família Soprano. O final bota a pedra em cima. Fácil de assistir, missão simples.

A questão é que essas cinco temporadas te levam por uma montanha-russa de emoções tão complexa, que já vi gente não dar conta do recado e parar na metade. O drama é intenso, te puxa, te sufoca, te deixa em êxtase. Perplexo, por vezes. Não tenha medo! Experiência audiovisual de qualidade é isso!

A trama criada por Vince Gilligan em 2008 (está batendo 10 anos!) gira em torno de Walter White (interpretado pelo mais do que ótimo Bryan Cranston, elogiado publicamente por Anthony Hopkins pelo papel), um excelente professor de química com uma carreira ordinária, que complementa sua renda trabalhando num lava-jato. Vidinha bem mais ou menos. Até que descobre estar doente. Câncer de pulmão, estágio avançado.

Sem perspectivas para sua própria vida, mas com a responsabilidade de deixar uma vida digna para a esposa grávida Skyler (Anna Gunn) e para o filho portador de necessidades especiais Walter Jr. (RJ Mitte), Walter se vê numa sinuca de bico. E quando Jesse Pinkman (Aaron Paul), um de seus alunos do ensino médio, se revela um traficante medíocre de bairro, Walter vê a oportunidade ideal para potencializar seus ganhos utilizando seus conhecimentos em química: produzir metanfetamina com alto grau de pureza.

De se perceber que um professor de ensino médio escolher como saída “cozinhar” um tipo de droga potente e altamente viciante, é claro que temos uma premissa matadora. É simplesmente hipnotizante tentar descobrir onde esse cara vai chegar. Porque a evolução é gradual, mas visível, implacável. E vai ficando cada vez mais impactante quando a gente – e o Walter – passa a perceber que a vida vale mais do que dinheiro. E a vida é prazer, pulsão de vida e de morte, é muito mais do que um emaranhado de afazeres diários. Que tipo de consequência pode surgir para um sujeito cada vez mais viciado em viver, em sentir, em buscar o poder? Viciado em si mesmo!  

Walter e Pinkman funcionam extremamente bem juntos. São o anti-Batman & Robin. Aliás, existem, no universo da série, todos os elementos fundamentais para se cravar mais um ícone na cultura pop: trilha sonora embriagante, figurinos memoráveis, bordões típicos, cenas emblemáticas. Está tudo lá. Como num filme de Tarantino, um desenho animado de Hanna-Barbera, um personagem de Kubrick, uma HQ de Alan Moore ou um álbum do Pink Floyd.

Então corre lá. Vá se viciar nessa droga poderosa que é Breaking Bad. Se é que ainda não o fez até hoje.