USP entra para o livro dos recordes com descoberta sobre megalago  

A ciência brasileira entrou para o livro dos recordes com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo na descoberta científica de um antigo lago, considerado o maior do mundo.  

Liderada pelo geocientista Dan Palcu, enquanto fazia pós-doutorado na USP, a pesquisa é de junho de 2021 e foi realizada em colaboração com universidades da Holanda, Rússia, Alemanha e Romênia.  

“Durante muito tempo acreditou-se que ali existia um mar pré-histórico, conhecido como Mar Sármata, mas agora temos evidências claras de que durante cerca de 5 milhões de anos este mar tornou-se um lago – isolado do oceano e cheio de animais nunca vistos em outros lugares ao redor do globo”, explica o cientista brasileiro.  

Nomeado como Paratethys, o maior lago do mundo cobriu uma vasta área de cerca de 2,8 milhões de quilômetros quadrados. O estudo indica que ele continha mais de 1,8 milhão de quilômetros cúbicos de água salobra — com uma maior quantidade de sal, e existiu há aproximadamente 11 milhões de anos, estendendo-se da região leste dos Alpes até o atual território do Cazaquistão. 

A descoberta 

A descoberta que entrou para o Guinness foi resultado de anos de expedições e pesquisas intensivas na Europa Oriental e na Ásia. Para fazer a descoberta os cientistas utilizaram a técnica chamada magneto-estratigrafia – que aplica o registro das inversões de polaridade do campo magnético da Terra nas rochas como ferramenta de datação – e reconstruções paleogeográficas digitalizadas para determinar o tamanho e o volume do Paratethys.  

O estudo aponta que o volume do lago é dez vezes superior ao total dos lagos de água doce e salgada existentes atualmente no mundo. Anteriormente, acreditava-se que a região abrigava um mar pré-histórico, conhecido como Mar Sármata. As evidências encontradas pelos pesquisadores, no entanto, indicam que esse mar transformou-se em um lago isolado. Ele deve ter sido habitado por espécies animais únicas, como a Cetotherium riabinini – a menor baleia já encontrada. 

O megalago 

Ao longo dos seus estimados 5 milhões de anos de vida, o megalago Parethys sofreu alterações em sua extensão devido a mudanças climáticas e atividades de placas tectônicas. Antigas bacias do megalago, o Mar Negro, Mar Cáspio e o Mar Aral, são os principais remanescentes do que foi o Parethys.  

“Nossas investigações vão além da simples curiosidade. Elas revelam um ecossistema que responde de forma extremamente aguda às flutuações climáticas. Ao explorar os cataclismos que este antigo megalago sofreu como resultado das alterações climáticas, obtemos informações valiosas que podem elucidar potenciais crises ecológicas desencadeadas pelas alterações climáticas que o nosso planeta atravessa atualmente, especialmente esclarecimentos sobre a estabilidade de bacias de águas tóxicas como o Mar Negro”, explicou Palcu.  

Os pesquisadores também revelaram a história tumultuada do Paratethys, marcada por múltiplas crises hidrológicas e períodos de seca: durante a crise mais grave, o megalago perdeu mais de dois terços da sua superfície e um terço do seu volume, com o nível da água caindo até 250 metros. Isso teve um impacto devastador na fauna, e muitas espécies foram extintas. 

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 14 – Vida na Água.

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