Foi observando o uso exacerbado de telas, especialmente com a ausência de aulas durante o período da pandemia, que a argentina Andrea Lambertucci idealizou o projeto Varandas do Jalapão. Há oito anos no Brasil, e quase três anos morando na região, a arte educadora ambiental explica que a biblioteca itinerante nasceu da necessidade de aproximar o universo da literatura infantil às crianças das comunidades mais isoladas do Jalapão.
O projeto trabalha com laboratórios de leitura onde as crianças têm autonomia de explorar e ler com a ajuda dos mediadores.
“Nosso acervo passa por uma curadoria onde zelamos que o conteúdo dos livros traga assuntos socio ambientais e seja representativo. O nome ‘Varandas do Jalapão’ se refere à itinerância da biblioteca, já que no Jalapão tudo acontece nas varandas das casas, e é nelas justamente onde monto a biblioteca itinerante e fazemos as atividades de arte e educação junto com as crianças e as famílias”, explicou.
Dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) propostos pela ONU para 2030, o Varandas se apoia principalmente nos ODS 10 – Redução de Desigualdades e ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima, com a utilização da literatura como ferramenta de desenvolvimento, além da contação de histórias de educação ambiental no teatro de papel ‘Kamishibai’.
Como surgiu
Andrea explica que quando ela, o companheiro Rodrigo, e as filhas Rosa e Luísa se mudaram para o Jalapão, durante a pandemia, buscou alternativas e opções educativas saudáveis para as crianças – as suas e as da vizinhança.
“Fui gestando ideias e práticas que terminaram sendo os ensaios do que hoje é o Varandas. Finalmente, quando minha filha Rosa começou o ensino fundamental, percebi a grande dificuldade que enfrentamos hoje – os familiares e os educadores – para incentivar a leitura nas infâncias. As telas terminam ocupando muito do tempo lúdico e recreativo das crianças e muitas famílias não têm acesso a livros de qualidade para poder fomentar a leitura desde cedo. Em alguns contextos, infelizmente, os livros terminam sendo objetos de luxo, raridades”, lembrou.
A partir desse momento e da conversa com as famílias, a educadora percebeu ainda que a região tem uma demanda por atividades culturais. Andrea afirma que o projeto “não leva cultura às comunidades, a cultura está ali, viva”, mas admite que a cultura regional está ameaçada pela eminente inversão de valores e a falta de cuidado com aspectos do turismo na região.
O olhar regional
Considerando esse contexto, o Varandas reforçou a sua preocupação em dar atenção às questões regionais, com um olhar para a representatividade.
“Muitas vezes as crianças das áreas rurais sentem vergonha ao se encontrarem com turistas de contextos urbanos, pois as realidades são muito diferentes. O Varandas, na verdade, é um espaço de troca, de escuta, onde juntos praticamos a cultura. Temos um grande zelo no nosso acervo, onde cuidamos que os livros tragam questões socioambientais pertinentes e sejam representativos. Como uma menina jalapoeira se sentiria ao ouvir contos de princesas loiras, brancas, em belos castelos? A representatividade adiciona valor e oportuniza a possibilidade deles se acharem protagonistas das suas histórias”, relatou.
A educadora afirma que compartilhar a biblioteca itinerante ambiental é “como abrir um monte de janelas de esperança, de imaginação”. Andrea reforça que a experiência é engrandecedora para todos que participam, inclusive para ela e os outros adultos.
“É uma sensação absolutamente enriquecedora, de encantamento. Quando elas se encontram com nosso tapetão cheio de livros, mergulhamos eles num ato muito bonito de presença, de respeito. Eu também aprendo muito, porque parte das dinâmicas de criação que ofereço convida que as próprias crianças me contem e inventem as suas histórias e relatos. Ouvir e ser ouvido é sumamente importante. As crianças se sentem importantes quando nós adultos os escutamos. Tudo o que acontece é muito enriquecedor”, pontuou.
Parceria
Com a adesão das famílias e o interesse cada vez maior no incentivo à leitura, o projeto foi ganhando corpo e a parceria da comunidade, o que é importante, considerando a dificuldade logística da região do Jalapão, que demanda carro com tração 4×4 para acessar boa parte dos locais.
A família de Andrea, que possui um carro mais simples, conta com o apoio de parceiros e o reconhecimento da importância do projeto, que passou a ser integrado em ações do Naturatins, órgão do Governo do Tocantins responsável pelo Parque Estadual do Jalapão.
“Felizmente este ano a Rejane Nunes, diretora da Area de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão, que já vinha observando as diversas iniciativas ambientais do Varandas, me convidou para ser colaboradora eventual do Naturatins. Isso permitiu que participássemos paralelamente das reuniões programadas do Manejo Integrado do Fogo (MIF), levando propostas de arte educação ambiental para os jovens e crianças das comunidades. Essa integração deu muito certo, e complementou bastante o trabalho de Educação Ambiental desenvolvido pelo Naturatins”, explicou.
Como apoiar
Para garantir a sustentabilidade financeira do projeto, o Varandas do Jalapão tem algumas iniciativas como o financiamento coletivo. Os interessados em contribuir podem fazê-lo através da plataforma Apoia.Se. Além disso, a equipe confecciona ecobags com frases e estampas regionais que são vendidas no site do projeto e em lojas parceiras na cidade de Mateiros: Sempre Viva, ACAPPM e Pé de Copaíba. Se deseja doar livros, é necessário fazer o contato com a equipe do projeto, pois as publicações selecionadas passam por uma curadoria para atender o propósito da iniciativa. O contato pode ser feito através do instragram Varandas do Jalapão.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) – ODS 10 – Redução das Desigualdades e e ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.
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