A rápida evolução da tecnologia trouxe consigo uma constante renovação de aparelhos eletrônicos, como smartphones, laptops, tablets e outros dispositivos que se tornaram parte essencial de nossas vidas. No entanto, o descarte inadequado desses equipamentos tem se tornado uma preocupação crescente em relação aos impactos ambientais e à sustentabilidade. Nesse sentido, um projeto em Goiás, o Sukatech, tem exatamente esse objetivo: reciclagem de aparelhos eletrônicos e contribuir para um futuro mais verde e saudável.

De acordo com o superintendente da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Guilherme Resende, o Sukatech é um programa em parceria da pasta com a OSC Programando o Futuro. A ideia é a estruturação e a operacionalização de um Centro de Recondicionamento e Capacitação (CRC). O intuito é reciclar e recondicionar resíduos eletroeletrônicos, capacitar jovens e adolescentes na área e promover a educação ambiental.

“É uma forma de prolongar a vida útil dos equipamentos. Então, um dos objetivos da economia circular é reduzir a quantidade de lixo, se eu uso os equipamentos por mais tempo, estou reduzindo essa quantidade. Além disso, esses próprios jovens capacitados têm condições no futuro de trabalhar com esses temas. Então, é uma forma também de inclusão digital, já que muitos jovens não têm o conhecimento básico, e uma oportunidade profissional para trabalhar com economia circular”, revelou.

Com a crescente demanda por novos dispositivos eletrônicos, o descarte inadequado dos aparelhos usados se tornou um problema global. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o lixo eletrônico, também conhecido como e-lixo, é o fluxo de resíduos de equipamentos eletrônicos descartados, e seu volume tem aumentado a cada ano. Estima-se que o mundo gerou em 2021 cerca de 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico. Em Goiânia, são 1,5 mil toneladas por ano, de acordo com a Secti.

(Sede do Sukatech | Foto: Reprodução/Secti)

Prêmio Goiás Sustentável

A Secreatria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) premiou neste mês seis projetos de caráter sustentável. Na categoria ‘Políticas públicas, instituição pública e autoridade pública’, o Sukatech foi o vencedor do prêmio. Guilherme Resende citou algumas ações que permitiram o projeto vencer a disputa.

“Quando a gente promove o curso de manutenção de computadores, a gente testa. Os que não está funcionando, às vezes a gente pega peça de outro e recondiciona computadores. Depois, doamos para instituições sociais ou pessoas carentes. Nesse sentido, a gente já recondicionou 900 computadores, certificamos mais de 700 alunos, grande parte em vulnerabilidade socioeconômica. Além disso, recolhemos 224 toneladas de resíduos e grande parte deles foram reciclados, dando a correta destinação”, destacou.

O descarte incorreto de aparelhos eletrônicos pode levar a sérios impactos ambientais e à saúde humana. Muitos desses dispositivos contêm substâncias tóxicas, como chumbo, mercúrio, cádmio e retardantes de chama bromados, que podem contaminar o solo, a água e o ar quando descartados em aterros sanitários comuns. Além disso, a exposição a essas substâncias tóxicas pode causar danos neurológicos, problemas respiratórios e até mesmo câncer.

“Dentro do eixo de capacitação ambiental, a gente também faz caravanas nas escolas e instituições para recolher o material e conscientizar as pessoas da economia circular. Já visitamos várias escolas, foram mais de 11 mil alunos que foram mobilizados por essas campanhas. Esses resultados ainda estão acontecendo, porque o programa é previsto para ocorrer até o final do ano”, ressaltou.

Secti recebe prêmio do Goiás Sustentável pelo projeto Sukatech | Foto: Secti

Idealização

Reciclar aparelhos eletrônicos é uma das soluções mais eficazes para lidar com o crescente problema do lixo eletrônico. A reciclagem adequada desses dispositivos permite a recuperação de materiais valiosos, como metais preciosos, plásticos e vidros, reduzindo a necessidade de extrair recursos naturais. Além disso, a reciclagem ajuda a minimizar a contaminação ambiental e a reduzir as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção de novos aparelhos.

Governos e empresas têm um papel fundamental na promoção da reciclagem de aparelhos eletrônicos. Sendo assim, o superintendente da Secti explicou como foi a idealização para o projeto do Sukatech.

“Essa demanda já existia por parte da sociedade, que hoje está mais atenta a essas questões, mas também do ponto de vista legal com regulamentação de políticas. O Governo do Estado criou o programa em 2020 com foco nos eletroeletrônicos, porque outros materiais já têm uma certa atenção de outros atores da reciclagem. Então, os eletoeletrônicos precisavam de uma atenção especial do poder público”, argumentou.

Muitos países implementaram regulamentações e leis que exigem a reciclagem adequada desses dispositivos. Além disso, algumas empresas de tecnologia estabeleceram programas de reciclagem próprios, incentivando os consumidores a devolver seus aparelhos usados e oferecendo opções de descarte seguro.

Participação

A reciclagem de aparelhos eletrônicos envolve uma série de etapas. Primeiro, os dispositivos passam por pontos de recolhimento especializados ou centros de reciclagem. Em seguida, ocorre o desmonte e a separação dos diferentes materiais que os compõem. Os componentes eletrônicos vão para processos específicos de recuperação de metais e outros materiais valiosos. O restante dos materiais, como plásticos e vidros, é direcionado para a reciclagem convencional.

“Hoje a gente está fazendo a campanha com aquelas escolas que estão abrindo suas portas para nós. Então, a gente faz uma consulta e nessas escolas a gente chama atenção para toda essa educação ambiental. A gente também poderia ir para o setor privado e fazer com outras instituições, mas não temos braços ainda para tentar atingir esse público. Além disso, a gente já entende que o setor privado já dá atenção para essa discussão e está amadurecendo no setor público. De qualquer modo, estamos abertos a demandas, qualquer pessoa pode procurar a Secti, o programa Sukatech e buscar parcerias”, explicou.

“As próprias ONGs têm sido alvo do programa na doação desses computadores recondicionados. A gente constuma dizer que a cada três computadores sucateados que recebemos, transformamos em um que funciona e doa. Para escolas, inclusive, algumas nem tem laboratório de informática e a gente já deixou alguns montados para escolas que foram parceiras do programa”, completou.

Guilherme Resende ainda explicou que as pessoas também podem doar eletroeletrônicos. “O ponto de coleta hoje mais evidente é o que está no Palácio Pedro Ludovico, na Praça Cívica, mas temos outros. Na Secretaria de Estado da Economia e queremos colocar um na Secretaria de Educação, na Saúde, Segurança, enfim, os órgãos que tem mais circulação de pessoas”, afirmou.

Ponto de coleta do Sukatech | Foto: Reprodução/Secti

Desafios

No entanto, a reciclagem de eletroeletrônicos enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a falta de conscientização e informação por parte da população. Muitas pessoas ainda não sabem como e onde descartar corretamente seus dispositivos eletrônicos usados, o que leva a um descarte inadequado. É essencial que governos, empresas e organizações da sociedade civil trabalhem juntos para educar as pessoas sobre a importância da reciclagem e disponibilizem locais de coleta apropriados.

“O projeto é importante para promover a cultura da sustentabilidade. Tem gente que joga o eletroeletrônico no lixo e, mesmo que seja um lixo seco, ele vai passar por um centro de triagem e feita uma sepração. Então, muitas pessoas não têm nem a consciência que o eletroeletrônico merece descarte separado, assim como as pilhas e até mesmo medicamentos”, comenta Guilherme Resende.

Outro desafio é a complexidade do processo de reciclagem de eletroeletrônicos. Esses dispositivos são compostos por uma grande variedade de materiais, muitos dos quais requerem técnicas especializadas para serem separados e processados de forma segura e eficiente. Além disso, a presença de substâncias tóxicas, como mercúrio e chumbo, exige cuidados específicos durante o manuseio. É fundamental que as instalações de reciclagem estejam devidamente equipadas e sigam padrões rigorosos de segurança e proteção ambiental.

Aparelhos eletroeletrônicos doados a Sukatech | Foto: Reprodução/Secti

Mudança de atitude

Felizmente, há avanços significativos na área da reciclagem de eletroeletrônicos. Muitos países têm implementado leis e regulamentos que incentivam ou exigem a reciclagem desses dispositivos. Além disso, empresas de tecnologia e fabricantes estão se comprometendo cada vez mais com a produção de aparelhos mais duráveis, reparáveis e facilmente recicláveis. Essas ações são essenciais para promover uma economia circular, na qual os materiais são reutilizados repetidamente, reduzindo a demanda por recursos naturais.

“Com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, hoje as empresas são obrigadas a fazer a logística reversa, ou seja, elas precisam dar um retorno de uma parte dos equipamentos que produzem. Hoje isso ainda é pequeno, varia de produto para produto, no caso de embalagem, por exemplo, é 22%. Alguns países reciclam mais da metade do lixo que consomem e nosso objetivo é esse, chegar no número maior possível de reutilização”, projetou o superintendente.

Diversas iniciativas de reciclagem de eletroeletrônicos têm surgido ao redor do mundo. Programas de coleta seletiva, parcerias entre fabricantes e empresas de reciclagem, e campanhas de conscientização têm se mostrado eficazes na promoção da reciclagem adequada. Além disso, muitas empresas estão implementando programas de recompra e reciclagem de seus próprios produtos, incentivando os consumidores a retornar os dispositivos usados para serem reciclados.

A reciclagem de eletroeletrônicos desempenha um papel vital na construção de um futuro sustentável. Ao evitar o descarte inadequado desses dispositivos, podemos reduzir a pressão sobre os recursos naturais, minimizar a poluição ambiental e promover a economia circular. No entanto, para que isso se torne uma realidade, é necessário o envolvimento de todos os setores da sociedade, desde os governos e empresas até os consumidores. Somente por meio de esforços conjuntos podemos garantir um mundo mais limpo e saudável para as gerações futuras.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 11 e 12 – Cidades e Comunidades Sustentáveis e Consumo e Produção Responsáveis

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