Em uma palestra voltada para empresários, vencedores do Prêmio Nobel ressaltam a relevância da pesquisa básica para o avanço científico e econômico. Durante o evento realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), renomados cientistas, incluindo David MacMillan, Serge Haroche e May-Britt Moser, compartilharam suas perspectivas sobre o papel crucial da ciência na construção do futuro.

A visita dos premiados, organizada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Fundação Nobel e com o apoio da FAPESP, enfatizou a importância de fortalecer os laços entre academia e indústria. Em meio a um contexto global de desafios, como o negacionismo científico, os palestrantes destacaram conquistas recentes, como a confirmação das ondas gravitacionais e a descoberta de exoplanetas, evidenciando a vitalidade da pesquisa básica.

Haroche, por exemplo, ressaltou a necessidade de um ambiente que promova uma ciência ascendente, partindo da base para o topo, em contraposição à predominância de projetos ambiciosos de cima para baixo.

“Os resultados, às vezes, vêm de áreas inesperadas. A história nos dá muitos exemplos de pesquisas básicas que, tempos depois, propiciaram grandes aplicações tecnológicas. O princípio físico do laser foi visualizado por Einstein em 1916. Hoje, o laser é um componente fundamental do sistema mundial de comunicações. Precisamos estimular a ciência básica em todas as direções possíveis e esperar que as aplicações venham. E, antes da ciência, necessitamos de educação básica. Para isso, é imprescindível garantir bons salários para os professores”, disse.

Colaboração

MacMillan, por sua vez, sublinhou avanços significativos na pesquisa sobre o envelhecimento e enfatizou a importância da colaboração entre instituições acadêmicas e empresas, exemplificando com os numerosos acordos de sua equipe de pesquisa na Universidade de Princeton com empresas farmacêuticas. “Obtivemos da indústria um aporte de US$ 100 milhões para a pesquisa”, contou.

Além de uma conversa até certo ponto informal entre os três cientistas, animada pelo diretor científico Smith, May-Britt Moser participou também de um painel sobre “Como aumentar a diversidade na ciência”. Com a presença de interlocutores brasileiros, o painel destacou as limitações que ainda existem para a participação de mulheres, negros e grupos minoritários no processo científico.

“Existe, infelizmente, uma situação pendular no mundo. Na Noruega, as universidades eram muito abertas para o mundo todo. Agora, estão mais fechadas, voltando-se, principalmente, para estudantes europeus”, falou.

Curiosidade

Mas, perguntada sobre o que diria para uma menina que, como ela mesma na infância, manifestasse muita curiosidade científica, Moser foi enfática: “Por que eu deveria dizer para uma menina algo diferente do que eu diria para um menino? Precisamos quebrar essas caixas, esses rótulos. Embora eu ame ser avó, não quero ser definida como avó. Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”, clamou. E fez questão de repetir a fórmula: “Vivam uma vida sem rótulos. Sejam anjos de luz!”.

Entre vários convidados, participaram do encontro na Fiesp Erika Lanner, CEO e diretora do Nobel Prize Museum em Estocolmo (Suécia); Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências; Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Superior da FAPESP.

Além deles, Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, e Pedro Wongtschowski, membro do Conselho Superior da FAPESP e do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp. Zago ressaltou a importância da “liberdade de pesquisa e a responsabilidade das agências de fomento para uma ciência realmente criativa”.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade

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