Eleições de 2010 têm tudo para se tornar uma fiel reedição do pleito de 1998: os nomes do PSDB e do PMDB na disputa devem ser os mesmos e os discursos utilizados por eles, também     Anapaula Hoekveld, do Jornal Tribuna do Planalto         As eleições de 2010 têm tudo para se tornar uma fiel reedição do pleito de 1998: os nomes do PSDB e do PMDB na disputa devem ser os mesmos e os discursos utilizados por eles, também.  Apesar da indefinição, o PMDB tende a lançar o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, para disputar o comando do governo de Goiás com o senador Marconi Perillo (PSDB). E, no meio do fogo cruzado entre peemedebistas e tucanos está, mais uma vez, a Celg. A iminência da reedição do confronto direto entre Iris e Marconi esquentou o debate sobre a situação financeira da estatal e acirrou os ânimos entre os dois grupos.   Há pouco mais de dez anos, quando disputou com Iris o comando do Estado, Marconi explorou a venda de Cachoeira Dourada e criticou a postura do PMDB em relação à Celg. À época, o assunto foi amplamente discutido pelos partidos que formavam o “Tempo Novo” e foi usado pela oposição para desqualificar a gestão do então governador Maguito Vilela (PMDB). Nas eleições seguintes, em 2002 e 2006, o tema foi recorrente. O que ainda há para ser dito sobre a gestão peemedebista na Companhia?   Para lideranças do PMDB, tudo o que o partido fez ou deixou de fazer com a Celg já foi exaustivamente explorado pela oposição em eleições anteriores. Peemedebistas ouvidos pela Tribuna foram unânimes em minimizar os efeitos da discussão sobre a dívida da Celg para a disputa eleitoral que se aproxima.   Eles argumentam que a população já foi bombardeada nas últimas eleições estaduais por esse assunto e que agora o enfoque da discussão deve ser outro: a recuperação da estatal. Os erros e acertos das gestões peemedebistas na Celg, segundo eles, não são mais novidade e já geraram todos os desgastes possíveis ao PMDB. Agora, defendem, é hora de pensar no futuro.   No entanto, o que se vê é que o PSDB tem conseguido requentar o debate e, por meio de uma sucessão de declarações e artigos publicados nos jornais da capital, está deixando o prefeito Iris Rezende, visivelmente, irritado. Na última semana, ao comentar o relatório da Fipe (USP), sobre a CPI que investiga o rombo nos cofres da Celg, o prefeito não conseguiu disfarçar o quanto ficou nervoso com as críticas à gestão da companhia durante seus governos. A discussão tirou Iris do sério e o PSDB, desde então, tem se aproveitado da situação.   A atitude do prefeito mostrou aos tucanos que o PMDB ainda não sabe direito como lidar com as críticas à gestão peemedebista da Celg. O partido não definiu o discurso, não se articulou nem se preparou para a discussão, apanhou nas últimas eleições com esse mesmo debate e está apanhando mais uma vez. Se a legenda não estruturar sua comunicação e definir estratégias claras para encarar a artilharia pesada do PSDB, a Celg pode ser, mais uma vez, o ponto central do debate eleitoral.   Isso mostra que a estratégia do PSDB de desacreditar a candidatura de Meirelles e insistir na tese da polarização entre Iris e Marconi foi acertada. Como a Tribuna mostrou em várias edições, os tucanos afinaram o discurso, e, de forma orquestrada, minimizaram os efeitos de uma candidatura meirellista ao governo estadual. E, além disso, trabalharam para reforçar a ideia de que 2010 seria o momento de reviver a disputa entre os dois principais ícones da política goiana da atualidade.    A intenção do PSDB era, justamente, tentar forçar um embate com Iris e se esquivar de Meirelles. Por quê? O presidente do BC é novo, tem prestígio no Brasil e exterior, não sofreu desgastes em Goiás e o partido teria ainda de encontrar um discurso contra ele. Com Iris, o discurso já está pronto, formatado e, como eles têm demonstrado, bem ensaiado.   Os pontos fortes e fracos do prefeito são conhecidos. E suas reações, previsíveis. Ao atacar o PMDB, os tucanos têm conseguido deixar o partido na defensiva. Nos últimos dias, foi assim: após a entrega do relatório da Fipe, Iris perdeu as estribeiras, criticou a lisura da CPI da Celg e pôs em xeque o trabalho da Fipe e as intenções do Tribunal de Contas do Estado. Com isso, o prefeito conseguiu desagradar a gregos e troianos. Em contrapartida, o senador Marconi Perillo aproveitou para elogiar o trabalho da CPI e da Fipe e criticar a postura do prefeito.   Desde então, o PMDB se deparou com uma avalanche de acusações por parte dos tucanos e seus aliados e ainda está patinando para conseguir responder às críticas dos adversários. Enquanto o partido não definir o discurso, o PSDB vai tirar vantagem dos resultados da CPI que, aliás, não os isentam de culpa pelo rombo nos cofres da companhia.   O fato é que tudo é uma questão de organização e estratégia. O PSDB também é responsável pela atual situação da estatal. Não há dúvidas. O PMDB poderia, e pode, explorar isso. O problema é que o partido não define suas estratégias, as táticas de ataque e defesa, é movido apenas pela intuição e, por isso, está apanhando tanto. Se os peemedebistas conseguirem mostrar os erros cometidos pelos tucanos na gestão da Celg e capitalizar isso, pode ser que essa discussão se enfraqueça e o enfoque do debate sobre a Celg se volte à resolução dos problemas e ao futuro da companhia. Afinal, se o PMDB conseguir se articular, esse debate ainda pode gerar muitos desgastes aos tucanos.   Impasse com dias contados Após mais de dois anos de negociação, finalmente, o impasse entre a Eletrobrás e a Celg para reequilíbrio das contas da estatal parece estar com os dias contados. O bom relacionamento do governador Alcides Rodrigues (PP) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve possibilitar ao governo a chance de salvar a companhia. A próxima reunião do Conselho de Administração da Celg deve ser realizada nesta semana, para apreciação da proposta final do acordo entre o governo estadual e a Eletrobrás.   Mas, essa missão não é nada fácil: a Eletrobrás ainda quer 41% das ações da empresa. Só não se sabe ainda quanto ela pretende pagar por elas. A proposta inicial era de R$40 milhões. No entanto, o governo estadual contratou uma empresa de consultoria que está avaliando o valor da companhia e deve sugerir um acréscimo nesse montante.   De acordo com o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, após a apresentação desse relatório da empresa de consultoria, que está prestes a ser finalizado, o governo deve discutir novamente com a Eletrobrás o preço da venda das ações da Celg. Enquanto isso, o empréstimo de R$1,35 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, poderá ser liberado para o pagamento das dívidas emergenciais da estatal com o sistema elétrico.   Dívida De acordo com a Fipe, a Celg tem uma dívida calculada em R$4,1 bilhões. Além disso, há três anos a empresa não pode reajustar as tarifas de energia por causa da inadimplência, o que acabou gerando perdas anuais de cerca de R$400 milhões. Com a venda das ações para a Eletrobrás, o governo de Goiás continua no controle da Celg e evita a federalização da companhia.   Vender ações da companhia à Eletrobrás não é a decisão ideal para o Estado nessa negociação com o governo federal. Mas, ao que tudo indica, é a solução possível para tentar cobrir o rombo feito nos cofres da empresa ao longo de sua existência.   Guerra declarada 12/01 “O governo de Marconi deixou déficit de cem Cachoeiras Douradas ao repassar dívida fiscal de R$ 100 milhões mensais para o sucessor e ainda 300 obras inacabadas.” Maguito Vilela   Guerra declarada 14/01 “Não adianta culpar outros, como faz o PSDB, quando o problema é falta de competência. Lula pegou um monte de empresas privatizadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e nem por isso quebrou o País. Mesmo diante da pressão de FHC, que exigia a privatização de todas as nossas estatais, como a Metago, Crisa e outras, para renegociar a dívida do Estado, vendi apenas Cachoeira Dourada para garantir a rolagem da dívida e o recebimento de créditos por parte do Tocantins.” Maguito Vilela   Guerra declarada 13/01 “Maguito é um mitômano contumaz e embarca na mentira do governo sobre o déficit para justificar o fato de ser o carrasco e o coveiro da Celg com a venda de Cachoeira Dourada”. Marconi Perillo   Guerra declarada 15/01 “Maguito não tem como sair desta armadilha que ele próprio criou. Ele cavou a crise, a dificuldade da Celg ao vender Cachoeira Dourada. Isto é insofismável. Não adianta arrumar desculpa. A maior demonstração da incompetência do prefeito quando foi governador do Estado é a própria administração dele em Aparecida. Basta ir até lá para perceber que a cidade está se transformando em um verdadeiro queijo suíço.”