A Independência do Brasil completou 200 anos, nesta quarta-feira, 7 de setembro de 2022. Apesar da data histórica do bicentenário, segundo o professor e cientista político Frank Tavares, o presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou tom eleitoreiro durante o tradicional desfile-cívico e transformou a Esplanada dos Ministérios num palanque, que não contou com as presenças dos representantes do Legislativo e do Judiciário. Frank avaliou que o discurso presidencial não foi condizente com a data.

Assista a análise na íntegra:

“Infelizmente, numa data tão relevante, a República foi envergonhada em um espetáculo eleitoral. E isso me parece mais sério do que aqueles arroubos que aconteceram no ano passado”, disse.

Tavares se referiu à crise institucional entre os Poderes da República que se intensificou após o 7 de setembro de 2021. Para este ano, foi criada uma expectativa em torno da data histórica do bicentenário. Mas a convocação de Bolsonaro para atos políticos para o Dia da Independência deixou a celebração ofuscada. 

“A primeira constatação que se deve fazer é que a data de ontem (7 de setembro) do ponto de vista histórico não seria uma data qualquer, eram 200 anos da independência do país”, destacou. 

Para o cientista político, os 200 anos da Independência seriam um marco histórico para os brasileiros celebrarem a República e refletirem sobre a construção do país, além dos interesses e estratégias para o futuro. 

“O país tem um papel relevante a cumprir no que diz respeito ao refreamento do aquecimento global e a produção de um tipo de crescimento que respeite a biodiversidade. Um país que tenha uma cultura pujante, uma história de resistência, de entrelaçamento em diferentes perspectivas e que é muito interessante. Poderia ao longo deste ano, com um ápice no dia 7 de setembro, parar para conversar sobre si”, opinou.

Discurso presidencial

O desfile-cívico na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, é o evento oficial do Planalto nas comemorações da independência do país. O presidente Jair Bolsonaro deixou a solenidade institucional e discursou para apoiadores em um trio elétrico. Na análise do cientista político, o discurso foi “absolutamente sem precedentes”. 

“Não há liderança no mundo, hoje, que pegue um microfone para falar as jocosidades, os machismos, o baixo nível que aconteceu ontem. Portanto, o fato do presidente não ter ameaçado golpe, não ter dito que vai derrubar o regime, se torna até menor diante do fato de que os 200 anos da Independência do Brasil foram convertidos em um palanque eleitoral com um discurso de um nível tão baixo”, avaliou.

Frank Tavares afirmou que Bolsonaro conseguiu espaço na imprensa e a atenção da sua base eleitoral e dos eleitores que o rejeitam, utilizando a tática do falem bem ou mal, mas falem de mim. Mas acredita que o discurso pode não ter consolidado a estratégia. 

“Há muitos estudos de comunicação política, marketing político e comportamento eleitoral que de fato chancelam essa tese. Mas eu não sei se nesse caso específico o discurso de fato não conta. Que o discurso não é relevante e basta a exposição. O que ocorre é que o discurso presidencial pode não ter sido interessante nem mesmo para manter coesão junto às bases eleitorais do presidente”, concluiu.  

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