O Metaverso aproxima o mundo real do virtual, ainda mais com a nova geração tão imersiva no universo tecnológico. Jogos como Roblox e GTA RP, proporcionam experiências virtuais, nos quais deixam os jovens horas dentro do jogo. Com a nova realidade presente na vida da geração zennials – uma microgeração entre Millennials e a Geração Z -, e da geração Z, professores e escolas têm se adaptado ao Metaverso.

Até então, os jogos digitais eram vistos apenas como entretenimento. No entanto, o impacto dos games e a chegada do META na vida do estudante estimulou os centros educacionais a buscarem novas formas de ensinar. Consequentemente, alunos e alunas são passivos aos novos meios de aprendizagens, em comparação aos métodos tradicionais.

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Embora o Metaverso ainda esteja em construção, nele é possível criar avatares, personalizá-los, conversar com pessoas, jogar, comprar itens virtuais, entre outras ações que têm cativado os jovens. Também pode-se criar infinitos ambientes que levam o estudante a lugares que, até então, não iria presencialmente. Já imaginou visitar a Era Mesozoica, cerca de 251 a 65 milhões de anos atrás, quando os dinossauros foram extintos? Ou retornar para qualquer evento histórico? Isso é possível devido às infinidades de ambientes que podem ser criados no Metaverso.

Aulas dentro do Metaverso

Em uma nova jornada de adaptação e linguagem, a escola de robótica SuperGeeks é o primeiro centro educacional a criar um espaço no metaverso e ministrar aulas, com a interação dos alunos por meio de seus avatares.

“Desde o início, a SuperGeeks sempre teve cursos com foco em desenvolvimento de games e tecnologias de Metaverso como realidade virtual, realidade aumentada, inteligência artificial, robótica para realidade aumentada e muito mais. Somos a única escola do segmento que criou uma ferramenta educativa no Metaverso, onde conseguimos fazer com que os alunos interajam entre si e com os instrutores e com ferramentas pedagógicas”, explica Cássia Ban, CEO da SuperGeeks.

Em entrevista à Sagres, o professor Tiago Gonzada também aponta a relevância do ambiente virtual para a educação, desde a infância até a adolescência, e a metodologia aplicada nas salas de aula.

Confira a entrevista na íntegra:

Como o metaverso tem impactado a educação?

Tecnologia nos remete etimologicamente ao “saber fazer” ou “saber como fazer”. É daí que a discussão sobre “Metaverso e educação” tem, ao meu ver, um fundamento que suportará toda a construção pedagógica que vivenciaremos nos próximos anos. Precisamos entender que a maneira como se ensina (metodologia e técnica) é tão importante quanto o que se ensina (conteúdo) e para quem se ensina (educando e suas realidades).

O metaverso abrange novas tecnologias, novas maneiras de ensinar e aprender e, para além disso, novas formas de, dialeticamente, trocarmos experiências e saberes durante a produção e construção do conhecimento dentro do âmbito escolar. A pandemia nos forçou a desconstruir paradigmas e a apropriar-nos de novas tecnologias para que o processo pedagógico pudesse, ainda que muitas vezes de formato improvisado, ter um sentido de continuidade, o que levou toda a comunidade escolar a se reinventar, tanto professores quanto alunos, não ficando de fora a estrutura escolar, nas redes privadas e públicas.

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Creio que só teremos noção do impacto à medida em que nos distanciarmos no tempo desse período inicial de transição para propostas pedagógicas cada vez mais ligadas ao digital e suas derivações. Mas uma coisa é certa, o metaverso é uma dentre muitas ferramentas para as mais variadas propostas pedagógicas, não sendo uma finalidade em si, mas sim um meio, um instrumento para ampliar o engajamento para a produção conjunta do saber.

Quais são os benefícios e as desvantagens do metaverso na educação?

A tecnologia está para além do bem e do mal, uma vez que quem dá sentido a ela são as pessoas e suas ações e intenções, ainda mais dentro do espaço escolar. A tecnologia não é a solução para todos os desafios educacionais que vivemos, mas certamente é uma ferramenta que, se utilizada de forma adequada ao conteúdo e aos educandos, surtirá um efeito positivo, cumprindo seu propósito pedagógico.

O metaverso, em tese, traz a expectativa de ampliar possibilidades educacionais, como permitir um acesso a conhecimentos que demandariam um investimento maior de tempo e de recursos materiais, por exemplo, uma criança visitar um museu em um país distante. Acredito que, se utilizado de maneira coerente, podemos ter um aumento do engajamento dos alunos para as trocas de saberes dentro das aulas, permitindo que o docente crie propostas de utilização da ferramenta que supram demandas dos próprios alunos, permitindo certo protagonismo para os educandos dentro dos momentos de aprendizagem, tornando mais significativo para eles a utilização das tecnologias recentes.

Como toda nova tecnologia chega ao público em geral a um custo elevado, acredito que, em um primeiro momento, nem toda comunidade escolar terá à disposição toda estrutura material e conhecimento para trabalhar plenamente dentro do metaverso, o que diminuiria a velocidade de sua implementação mais abrangente. Por outro lado, existe a possibilidade de buscar capacitação e se preparar previamente para um contato mais intenso com as novas possibilidades educacionais dentro do metaverso.

A necessidade de uma reestruturação das práticas de aprendizagem deverá ser cada mais acentuada à medida que novas tecnologias surgem em intervalos menores de tempo, o que pode fragilizar a relação “real e virtual”, sendo o professor, um mediador dessa relação em direção à proposta pedagógica estabelecida previamente ao uso do metaverso.

Quais são os métodos educativos aplicados nas salas de aula?

O metaverso não trará grandes inovações que revolucionarão as práticas pedagógicas em curto prazo. A nova tecnologia aprofundará algumas das propostas já existentes de realidade virtual. O que teremos inicialmente será uma adaptação de atividades já realizadas de forma virtual, mas não tão imersiva quanto a proposta do metaverso. Por exemplo, visitar as antigas pirâmides no Egito é uma atividade, ainda que financeiramente alta, possível de se realizar. Porém, visitá-las durante o auge do Egito Antigo é algo intangível, uma vez que apenas com a viagem temporal seria realizável.

O metaverso nos permitirá viver esta experiência virtualmente mais próxima do real. Ter a oportunidade de vivenciar um passado remoto ou explorar outros planetas pode ser um caminho para novos métodos educativos, que permitirá uma assimilação mais prática do que ver um filme, ler um livro ou ouvir uma história. Interagir com o passado dentro do metaverso pode ser uma das oportunidades pedagógicas que um professor de História ou Antropologia utilizará como método de ensino.

Como é ministrar aula no metarveso?

Inicia no processo de preparação da aula. Partindo do tripé “metodologia, conteúdo e educando”, visando a construção do momento da aula a partir da relação deste três pilares igualmente importantes. Uma vez definido que o metaverso está dentro da proposta metodológica, o conteúdo se alinha à essa proposta e os educandos são parte da ação pedagógica, pode-se então pensar em uma aula dentro do metaverso. Independente de como a tecnologia será usada, a relação professor e aluno precisa ser sempre a de trocas de saberes e de estímulo à construção coletiva do conhecimento. Sendo assim, o professor precisa estar tão imerso quanto o aluno dentro da proposta para que ela tenha valor significativo para o processo educacional.

Para isso é necessário a estrutura (hardware e software) e o domínio, ainda que não total, da tecnologia e de suas possibilidades dentro da atividade proposta, tendo sempre em mente que a aula pode caminhar para diferentes lugares, espaços e tempos, o que torna esse ambiente mais democrático, encorajador e dinâmico.

Qual a relevância das escolas e os professores estarem imersos no metaverso?

A escola deve sempre dialogar com a realidade da comunidade na qual está inserida, e quanto mais o metaverso for se consolidando e se tornando parte do cotidiano, mais a escola precisa estabelecer essa relação em seu plano de ação educacional. Aderir ao metaverso pode ser um grande desafio diante de tantas dificuldades econômicas e culturais, uma vez que nem todos têm acesso aos recursos necessários para trabalhar dentro deste espaço virtual ou não têm acesso à informação e capacitação para realizar tais atividades, havendo muitas vezes até uma desconfiança e insegurança em relação à nova tecnologia. Insegurança essa que só pode ser desconstruída a partir do conhecimento técnico de seu funcionamento e suas possibilidades pedagógicas.

Estar em contato com o metaverso, à medida em que ele se estabelece, é dialogar com a comunidade e proporcionar à ela um maior contato com essa nova tecnologia, capacitando e sendo capacitada, num movimento dialético, a escola e a comunidade em que ela faz parte. A escola ganha certo protagonismo, uma vez que será uma das únicas oportunidades de muitos educadores, educandos e outros atores da educação, de se formar e informar a respeito do metaverso a partir de uma proposta educacional.

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