Em resolução publicada pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) em de fevereiro de 2023, a autonomia oficial dos carros elétricos terá de ser divulgada com uma redução de 30%. A partir de agora, as montadoras deverão respeitar as normas do PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular), que de modo prático, sempre informa o pior cenário para o consumidor.

De acordo com informações publicadas no site oficial do Inmetro, a intenção com a diminuição na divulgação da autonomia dos carros elétricos, serve para aproximar os valores obtidos em testes de laboratórios com as condições reais das ruas, com uma informação mais fiel para o consumidor.

Um exemplo para a mudança na divulgação se deve ao fato de que os testes feitos em laboratórios possuem condições mais favoráveis, afinal são realizados com motoristas treinados, temperatura e umidade controladas, simulação em um trajeto plano, com tráfego leve, veículo sem carga e com pneus calibrados.

“Não há mudança no método de ensaio, mas sim uma novidade na apresentação da informação para o consumidor, que passa a ver, na tabela, a autonomia do veículo em distância percorrida, e não a conversão em km/l, como era feito anteriormente. Esse formato de apresentação dos dados acompanha a evolução do mercado de carros elétricos e vem sendo discutido com toda a indústria há alguns anos, tendo passado inclusive por processo de consulta pública em 2020”, comentou Hércules Souza, chefe da Divisão de Verificação e Estudos, do Inmetro

Contraponto

Mesmo com a análise do Inmetro tendo como base a metodologia utilizada pela EPA (Environmental Protection Agency) dos Estados Unidos, referendada pelas montadoras e importadoras no Brasil desde 2020, a ABRAVEi (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores), argumenta que mais variáveis sobre as condições de tráfego também devem ser divulgadas, afinal os carros elétricos são novidades para o consumidor brasileiro, pois entraram de vez no mercado nacional apenas em 2015.

“A redução de 30% na autonomia tenta cobrir as piores condições, mas nem todos os dias você vai trafegar nas situações mais favoráveis ou nas piores condições. Por ser uma tecnologia nova, as pessoas pegam os números apresentados como teto e não como uma referência. Então quando vamos discutir autonomia dos carros elétricos, também devemos levar em consideração dois fatores: tamanho da bateria e potência do motor. Uma bateria maior, você tem mais autonomia; um motor mais potente, você gasta mais”, explicou rodrigo de Almeida, vice-presidente da ABRAVEi.

Nos próximos dias, a ABRAVEi deve lançar a plataforma IAVEL (Índice de Autonomia de Veículos Elétricos Leves). Segundo Rodrigo Almeida, as impressões de usuários de veículos elétricos serão levadas em consideração.

“Vamos criar um índice nosso, baseado nas informações dos nossos usuários, como as condições de circulação. A nossa preocupação é tentar mostrar com calma, um pouquinho da prática, do campo, com informações baseadas no dia a dia. Criamos esse projeto, porque entendemos que depois de toda essa celeuma por causa da etiquetagem do Inmetro, seria importante a gente ter as impressões dos usuários. Teremos um site específico pra isso, com uma moderação, com informações fiéis dos colaboradores, que terão de ser identificados com e-mail real e telefone”.

Rodrigo Almeida, também fez uma relação dos veículos a combustão com os elétricos sobre a medição da autonomia. A maneira como o motorista dirige, e as condições dos veículos, se aplicam aos dois modelos.

“Varia muito. Se pegar um carro movido a combustão, rodar com o giro alto, com muita carga e pneus descalibrados, ele vai gastar mais. Mesmo no carro a combustão, autonomia é uma referência, não é uma verdade absoluto. Isso também se aplica aos veículos elétricos”.

Futuro do mercado

De olho no futuro, a divulgação da autonomia dos veículos elétricos com a redução de 30%, pode ser prejudicial para o mercado. Assim analise o representante da ABRAVEi.

“Essa penalização acaba não favorecendo o mercado, que ainda é embrionário. Pra se ter uma ideia, os veículos elétricos já seguem padrões americanos e europeus, que levam em consideração uma série de fatores. Aqui no Brasil, a impressão que se tem é que são ainda mais conservadores, o que afasta os consumidores”, lembra Rodrigo Almeida, que defende uma troca maior de informações sobre os veículos elétricos.

“É inquestionável a competência do Inmetro, mas quando o consumidor não pode trocar informações, vai se assustar. Esse cenário está focado em uma condição muito agressiva, mas não é o único possível”.

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