Ao ouvir “Adelia Prado” e “Literatura”, quais são os primeiros pensamentos que chegam até a sua mente? No ano passado, lembro de ter lido uma notícia sobre o aniversário de 88 anos da autora e, em um dos parágrafos, ao lado de seu nome, vinha junto a descrição clara e direta — a maior poetisa viva no país.

É um título e tanto. Se você não sabe muito sobre ela, podemos começar voltando para o seu nascimento, no interior mineiro, na cidade de Divinópolis, distante a pouco mais de 100 quilômetros da capital Belo Horizonte.

Lembro de ouvir falar sobre seus poemas na escola, mas não recordo de ouvir que ela só começou a sua obra aos 40 anos, já com cinco filhos, fruto de seu casamento. Talvez, se eu soubesse disso antes, tivesse me inspirado a pensar que nunca é tarde para novos começos. Todavia, embora um pouco mais tarde, a lição foi aprendida. E o que mais aprendemos com Adélia Prado?

O ordinário e suas belezas

Uma de suas poesias é “batizada” com toda a simplicidade e ritmo comum do nome de um dia da semana, “domingo”. Nesse sentido, ela começa com os versos: “Na minha cidade, nos domingos de tarde, as pessoas se põem na sombra com faca e laranjeiras”. 

Assim, a autora, que também é professora, contista e filósofa, abre com confiança o espaço para nos “congelarmos” por um instante e “só” reparar na beleza do dia que passa por todas as semanas ordinárias e extraordinárias.

O “divino” também é assunto bem presente em sua obra, além disso, ela mesma afirma que aquilo que vê como poesia bíblica é uma das principais fontes para a sua escrita.

Um poema bem construído não necessariamente deve vir acompanhado com palavras difíceis, e Adélia domina a proeza dos “coloquialismos”. Além disso, Adélia também fala de tristezas, família, alegrias e até mesmo, sobre o poder das palavras.

Todo o seu trabalho também se materializou em reconhecimento. Durante a carreira, recebeu premiações como o Prêmio Jabuti, Prêmio ABL de Literatura Infantojuvenil, o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional, o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e o Prêmio Clarice Lispector.

Todo dia pode ser o dia

Será que Adélia sabia que, em um dia comum de 1975, o também mineiro Carlos Drummond de Andrade indicaria um de seus livros para um editor e assim, muito do que conhecia passaria por mudanças? No mesmo ano, Drummond também publicou uma crônica no Jornal do Brasil e fez questão de elogiar o trabalho da mineira. O dia não era mais comum.

É claro que a sua escrita fala por si e aqui há todo o mérito de seu fazer literário, no entanto, é certo que ter Drummond como um de seus “padrinhos” foi uma grata surpresa. Não sabemos se ela imaginava que aquele seria “o dia”, mas aconteceu. E nada foi como antes.

Em entrevista recente à Biblioteca Pública do estado do Paraná, quando perguntada sobre o seu primeiro livro (Bagagem, 1976), a resposta foi inesperada: Adélia se vê como caloura, sempre estreando. Quase 50 anos de escrita, mas sempre pode ser novo.

Sem medo dos novos tempos

A escritora também parece, no mínimo, aberta às novas linguagens. Ao menos, é o que mostra o seu perfil recém-criado nas redes sociais. Nele, ela compartilha com seus quase 55 mil seguidores, leituras em voz alta, sorrisos e agradecimentos.

Alguém que via seus textos como fragmentos na folha áspera de um jornal de domingo, agora está disposta a gravar um “Reels”, enquanto declama trechos de poesia no, até então, estranho ambiente virtual. Pois é, a poesia também se movimenta.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.

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