O quinto episódio do Agir Sustentável aborda a relação entre a natureza e as cidades brasileiras. Nas nossas vidas, o conceito de resiliência é definido como a capacidade de adaptação. Com as mudanças climáticas, é a possibilidade de sobreviver mesmo depois de eventos extremos, como tempestades, secas e alagamentos. Essa possibilidade, no entanto, depende de planejamento urbano. Algo que não ocorreu, por exemplo, na tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, em abril e maio de 2024.

Por isso, o programa te convida a e entender como as cidades podem e devem ser mais sustentáveis e resilientes. A construção das cidades no Brasil está historicamente ligada à disponibilidade de água, mas a ocupação desordenada dos chamados fundos de vale, das zonas de alagamento de rios e córregos e das áreas de nascentes geram consequências graves ao longo do tempo. Cidades litorâneas têm riscos de deslizamentos, enquanto outras convivem, sempre quando chove, com o medo de enchentes e alagamentos, como os ocorridos com os gaúchos.

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul contabilizou pelo menos 182 mortes, até julho de 2024, em decorrência das enchentes, que começaram em 27 de abril. Ao todo, 478 municípios gaúchos foram atingidos por inundações, quedas de barreiras e deslizamentos de terra. Cerca de 2,5 milhões pessoas foram afetadas pelos efeitos das chuvas nas regiões central, dos vales, na serra e na região metropolitana de porto alegre.

A intensidade da tragédia, assim como a ocorrência mais frequente de alagamentos e deslizamentos em outras cidades brasileiras são consequência das mudanças climáticas. Eventos já conhecidos e que estão na rotina das pessoas ao longo dos anos, por causa do aquecimento global, se tornam desastres ambientais.

Para entender esse processo, o apresentador Rubens Salomão conversou uma das principais autoridades mundiais sobre o assunto: o professor Paulo Artaxo, que é diretor do instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Doutor em física atmosférica e com trabalhos junto à NASA, Paulo Artaxo detalha a relação entre o aquecimento global e as chuvas mais intensas nas cidades brasileiras.

O professor ainda nos ajuda a combater o negacionismo ambiental e a afirmação de que o aquecimento e o resfriamento do planeta já acontecem naturalmente, independente da ação humana. Segundo ele, não dúvidas científicas de que o aquecimento global das últimas décadas é causado pela ação humana e, diante das consequências, as cidades precisam se preparar.

(Foto: Reprodução/Sagres TV)

Resiliência urbana

Mas essa adaptação das cidades para eventos climáticos extremos não é uma novidade na engenharia e na arquitetura. O professor de planejamento urbano da USP, Nabil Bonduki, aponta os caminhos para as cidades resilientes.

O conceito de “cidades esponja” ganhou destaque no brasil depois da tragédia no Rio Grande do Sul, com exemplos na China, Tailândia e Alemanha. Só que a ideia de ter cidades desenhadas para absorver um grande volume de água não é exatamente inovadora. A questão é que a gestão pública brasileira nunca aplicou o conceito na prática, segundo Bonduki.

(Foto: Reprodução/Sagres TV)

Nabil ainda destaca que a legislação brasileira deveria impor regras mais rígidas para que o planejamento das cidades, além da autonomia municipal para a elaboração do plano diretor. O arquiteto e urbanista gaúcho, Carlos Eduardo Mesquita, confirma que o planejamento, ou a falta dele, foi fator fundamental para a tragédia no rio grande do sul. segundo ele, a reconstrução já passa por um processo diferente.

Além da realidade dos gaúchos, o Agir Sustentável mostra como os riscos estão presentes nas cidades brasileiras, perto de cada um de nós, com o exemplo de locais monitorados pela Defesa Civil, depois do avanço da cidade sobre os cursos d’água.

(Foto: Reprodução/Sagres TV)

Risco próximo

A Rua 87, no Setor Sul em Goiânia, corta o que seria o curso do Córrego dos Buritis. Quando chove muito, o que tem sido cada vez mais comum, o córrego retoma seu espaço e a situação de alagamento virou rotina, como em tantas cidades brasileiras que ocuparam lugares que deveriam ser reservados à natureza.

O professor de Engenharia Civil e Ambienta da Universidade Federal de Goiás (UFG), Kleber Formiga, coordena o trabalho de elaboração do Plano Diretor de Drenagem em Goiânia e aponta como novas obras, públicas ou privadas, devem passar a incluir os conceitos da resiliência urbana.

Outro ponto de constante alagamento fica na Avenida Anhanguera, no Lago das Rosas, onde foram filmadas as imagens que viralizaram: um dos pedalinhos, que são atração turística do parque, ultrapassou a avenida, que ficou totalmente submersa, e foi embora, seguindo as águas do rio. A arquiteta e urbanista do CAU/GO, Lana Jubé, conversou com o programa justamente no local onde as enchentes ocorrem e apresentou quais são as alternativas, além das alterações de engenharia.

Risco constante

Sem as alternativas citadas por Lana, para a busca por uma cidade esponja, toda a água escorre em direção aos rios e gera áreas de risco. Goiânia tem 30 locais com potencial de alagamentos, enchentes e deslizamentos, segundo a Defesa Civil. A maior preocupação ocorre na Vila Roriz, próxima à Avenida Goiás Norte.

O bairro teve origem em ocupações irregulares e invasões de famílias de baixa renda ainda nos anos de 1970, justamente na baixada formada pelo encontro do Rio Meia Ponte, do Córrego Anicuns e do Ribeirão João Leite. Um dique chegou a ser construído, mas a atenção segue redobrada no local, que tem enchentes causadas tanto pela cheia dos rios, quando pelo represamento das águas que chegam vindas de locais mais altos da cidade.

Com a visão prática do que podem ser as cidades resilientes, se encerra esta edição do Agir Sustentável. E no próximo programa, a produção vai detalhar como a indústria tem se adaptado às mudanças climáticas para produzir cada vez menos impacto no meio ambiente. Até lá!

(Foto: Reprodução/Sagres TV)

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis

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