A convivência entre homem e natureza nem sempre é harmônica. Em área urbana, em muitos casos, a situação é crítica, com poluição ou agressões ao meio ambiente. Por outro lado, experiências sustentáveis próxima a grandes cidades podem ajudar numa integração entre o ser humano e demais componentes da biota.

Na região metropolitana de Goiânia, há um exemplo, o Parque Florata. O local foi projetado para estabelecer uma convivência saudável entre o homem e a natureza. O espaço está situado Localizado em uma área onde há mais de meio século vinha sendo desenvolvida a atividade agropecuária convencional.

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Márcia Mesquita, arquiteta e urbanista do projeto (Foto: Sagres Online)

“Para se implantar um condomínio ou um prédio, geralmente se destrói tudo. Aqui iniciamos com um pensamento diferente do que acontece no geral. Primeiro levantando tudo que existia na natureza, para depois sabermos onde poderiam caber as ruas, os parques e principalmente o que nós poderíamos aproveitar do que já existia na natureza”, enfatiza Márcia Mesquita, arquiteta e urbanista do projeto.

O parque tem área remanescente de Mata Atlântica, o que é raro em Goiás, e para recuperar a fauna e a flora da região, foi implantado um sistema de agrofloresta, que imita o que a natureza faz normalmente, com o solo sempre coberto por uma variada vegetação, dispensando o uso de agrotóxicos, como explica o biólogo e agricultor, Murilo Arantes.

“A agrofloresta é um sistema de plantio que consorcia espécies agricultáveis da nossa alimentação com espécies naquele ambiente em que é implementada. Além de algumas espécies exóticas que têm algum interesse medicinal e madeireiro, que seja de algum uso para o ser humano”, disse.

Produção sustentável

Após quatro anos e meio de plantio, o Parque Florata ganhou vida e cores, com um grande variedade de árvores perenes, frutíferas e leguminosas livres de composto químico para controle de insetos ou micro-organismos. Responsável pela agrofloresta, Murilo Arantes destaca a quantidade de espécies cultivadas no local.

“Esse sistema foi pensado para restaurar uma mata de galeria, típica do cerrado, uma mata estruturada. Então priorizamos as espécies do cerrado em um sistema florestal. Ao longo do desenvolvimento dessas espécies, como o jatobá, a copaíba, que são espécies que vivem muito tempo, a gente sabe que é possível outras espécies nativas e também as culturas de ‘quintal’, que são as frutas”, esclarece.

“Temos aqui alguns pés de café, pitanga, acerola, mamão, banana, que já produziram muito aqui dentro desse sistema. Além de abacate, manga, mexerica… Tudo dentro do sistema agroflorestal. À medida que as espécies nativas avançam, há tendência de sombreamento, aí podemos fazer o manejo dessa área para que as frutíferas continuem produtivas por mais tempo. Então nós construímos essas espécies que vão produzir alimentos e ao mesmo tempo restaurar o ambiente em que elas estão inseridas”, completa.

Agloforesta (Foto: Dronemetria/imagens aéreas/Parque Florata)

O parque conta com uma vasta horta, com aproximadamente 35 tipos de hortaliças. Essa produção é toda voltada para os condôminos e o excedente é doado para as instituições de caridade de Santo Antônio de Goiás. Mas não são só os moradores que se alimentam da agrofloresta.

Horta (Foto: Sagres Online)

“Plantamos para nós e também compartilhamos com o ambiente. Muitos alimentos são gerados dentro dessas áreas, temos uma interação constante com os animais, com as aves, com pequenos mamíferos e grandes também já foram avistados aqui. Então sabemos que essa área está sendo realmente usada como um corredor ecológico por conta dessa grande quantidade de alimentos que é produzida mensalmente aqui. Em média, sabemos que nesses quatro anos produzimos entre 10 e 12 toneladas de alimentos em quase um hectare e meio de sistema agroflorestal dentro do Parque Cultural Florata“, ressalta Murilo Arantes.

Energia limpa e consciência ambiental

Além da agrofloresta, o parque também abriga outra iniciativa de desenvolvimento sustentável, uma usina de energia solar.

“Fizemos uma pequena usina solar que hoje abastece a usina do parque. A ideia é aumentar para que em um futuro próximo, a gente possa instalar restaurantes e museus dentro do parque, e que eles sejam atendidos pela energia solar. Começamos pequenas, mas no futuro queremos estar com a usina em tamanho dobrado ou triplicado”, projeta a arquiteta Márcia Mesquita.

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Os moradores da região também precisam estar alinhados com a preservação ambiental e Márcia garante que os condôminos estão levando essa conscientização para dentro de suas casas.

“As pessoas que moram aí dentro tem esse sentimento de que querem fazer algo pela natureza e cuidar do nosso futuro. Os moradores acabam fazendo ações que contribuem para essa sustentabilidade também, como captação da água da chuva, bacias de contenção, caixas de infiltração. A parte verde também, levamos um pouco do conceito para os jardins e pomares de dentro dessas casas para a questão de reabastecimento dos lençóis freáticos”, pontua.

Qualidade de vida

Há mais de dez anos morando em uma apartamento no centro urbano de Goiânia, a chefe de cozinha, Fátima Neila, adquiriu uma casa ao lado da agrofloresta, no início o intuito era ter uma lugar para eventualmente descansar, mas o contato com a natureza conquistou a família, e local se tornou sua residência fixa.

“Me considerava uma pessoa bastante urbana e nunca imaginei morando em um condomínio como esse. Eu realmente tinha um hábito de morar em apartamento, mas eu comecei a perceber que já estava me incomodando a questão do trânsito, o ir e vir em Goiânia já está bem mais complicado”, revelou.

Fátima Neila, morada do condôminio Florata (Foto: Sagres Online)

Após seis meses morando em meio a natureza, Fátima não dispensa a qualidade de vida que o local lhe proporciona.

“É completamente diferente de você morar na cidade, aqui o tempo parece mais devagar. Mas não é que passa mais devagar é que nós nos damos o prazer de curtir as coisas com mais calma. Por exemplo, você levantar de manhã em um sábado, sentar lá fora, tomar seu café da manhã, almoçar com os orgânicos da agrofloresta, quase tudo que comemos é de lá, compramos pouca coisa e isso é totalmente diferente”, afirma.

“Além disso, tem a tranquilidade, a noite abrimos todas as portas, é muito seguro, algo que nós buscávamos. Têm também os bichinhos que aqui de manhã, a gente acorda com os passarinhos cantando, às vezes aparecem os tamanduás, é uma integração com a natureza que só vivendo mesmo para entender”, finaliza Fátima Neila.

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Repense

Esta reportagem integra a série Repense Energia desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos ao combate à fome e formas alternativas de produção de alimentos, ligados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 02 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Fome Zero e Agricultura Sustentável.