No interior de Goiás, em Itumbiara, alunos de um centro de aprendizagem industrial ganharam uma missão diferente. A de serem “professores” durante uma semana.

O desafio aconteceria durante a “Semana Mundo Senai”, evento fixo na agenda do polo localizado no município goiano.

Do outro lado da mesa, os alunos deveriam demonstrar para a comunidade o que aprendem ao longo do período de aprendizagem. No final, a missão não apenas foi concluída, como rendeu indicação ao Prêmio Educador Transformador, iniciativa que premiou projetos educacionais das cinco regiões brasileiras.

Ideias

”Nenhuma turma da aprendizagem tinha se dado ao luxo de apresentar um trabalho”, comenta o professor Gabriel Jorge Ferreira, responsável pela idealização do projeto.

Disposto a mudar essa realidade, decidiu apostar na capacidade dos alunos em explicarem os pontos centrais da aprendizagem industrial.

Foto: Arquivo Pessoal

”Apresentei para a escola, que gostou, e depois o meu desafio era apresentar para os alunos. A proposta era fazer uma apresentação para diversas escolas na região de Itumbiara, e eles toparam e foi um sucesso”, recorda.

Crescimento

Em 2022, um estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, apontou que até 2025, era preciso que o mercado goiano industrial qualificasse 309 mil pessoas, sendo que 63 mil, em formação inicial.

Nesse sentido, os cursos de menor duração aparecem como um dos principais recursos para qualificar mão de obra para cargos na indústria.

Foto: Arquivo Pessoal

”O meu foco era mostrar para os alunos que a aprendizagem não é sobre pessoas para cumprir cotas em empresas. Eles são mais do que isso. Eles são o futuro dos profissionais da indústria”, destaca o professor de Itumbiara.

Em Goiás, os alunos da aprendizagem industrial estão na faixa etária de 18 a 22 anos. Nesse sentido, para Ferreira, o espaço funciona como um mecanismo para ampliação de oportunidades.

”Alguns começam com o pensamento de fazer Direito, por exemplo, e acham que a aprendizagem será só para ganhar um dinheiro para pagar a faculdade. Mas, quando eles chegam aqui, veem que a indústria em geral tem uma gama imensa de possibilidades. Isso abre a mente do jovem”, garante.

Formação

Para além das habilidades técnicas, a aprendizagem engloba outras faces do desenvolvimento. É o que explica o professor Gabriel Ferreira, que durante o Ensino Médio, também participou do Senai como aluno.

Em sua trajetória particular, aparecem cursos técnicos e cursos de formação superior, no entanto, a descoberta da docência apareceu há dois anos, após receber convite da instituição.

”Nós formamos caráter de pessoas e de profissionais. Quando você faz a aprendizagem, você vira uma pessoa crítica”, defende.

Foto: Arquivo Pessoal

No programa de aprendizagem, o estudante permanece por um período que pode variar de 6 a 8 meses. Para o professor, a experiência agrega bagagem teórica e prática, o que colabora para a inserção posterior no mercado de trabalho.

”Hoje em dia a capacitação técnica é o que está faltando no mercado”, reflete.

Possibilidades

”Ah, professor… porque consegui a vaga”, é a resposta ouvida durante as aulas. A pergunta é: por que você está aqui?, um costume do professor a cada começo de semestre com calouros.

“Nós vamos trabalhando com os alunos para que, com as aulas práticas, o interesse seja despertado. Eu já tive alunos que começaram um negócio, que fizeram a aprendizagem, foi para a indústria e depois que finalizou o contrato, hoje são donos de empresa”, explica.

Em São Paulo (SP), durante a cerimônia de premiação do Prêmio Educador Transformador, em maio deste ano. O evento também funcionou como um catalisador de possibilidades, dessa vez, para o próprio professor.

Dessa forma, ao todo, 14 projetos foram selecionados como finalistas para o Prêmio, que incluiu iniciativas da Educação Infantil até o Ensino para Jovens e Adultos (EJA). Assim, o professor garante que não retornou para Itumbiara da mesma maneira.

“Cada um tem a sua realidade, cada um leva um tempo para chegar até a escola, uns não tinham nada e conseguiram produzir. A minha mente como professor abriu demais”, explicou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 4 – Educação de Qualidade.

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