Em uma sala de aula com acadêmicos do curso de Engenharia de Software, a missão principal é criar aplicativos, programas, soluções computacionais, jogos e outros tipos de desenvolvimento. Essas são as palavras mais tradicionais ligadas ao curso, porém, para o professor Nicolas Magalhães, outro conceito surge nesse contexto: propósito.

O ‘’Dev com Propósito’’, é o projeto desenvolvido pelo professor em faculdade privada na capital goiana. O nome mais “formal” é Projeto de Desenvolvimento de Software, no entanto, o conceito de propósito combina bem com a proposta idealizada.

Durante as aulas de uma disciplina obrigatória, os alunos precisam se unir em grupos e propor “negócios reais”, um modo de estimular o empreendedorismo e a preparação para o mercado de trabalho. O projeto passa por desenvolvimento durante seis meses, e depois, segue sendo aprimorado em outras disciplinas.

Projeto

O professor do curso de Engenharia conta que inicialmente, o Dev com Propósito iria durar apenas por um semestre, mas que depois, após sucesso da iniciativa, tornou-se um projeto fixo, presente na grade curricular dos futuros acadêmicos, no segundo semestre do curso.

“Eu esse novo formato onde o aluno começa já no segundo período da faculdade a se comportar como sócio, como parte de uma empresa e perante a comunidade”, relembra. 

(Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo o professor, um dos comandos era que os alunos pensassem em um desafio que eles mesmos já tivessem enfrentado em determinado momento. Para ele, uma questão negativa na maioria dos cursos de Engenharia de Software é a relativa distância dos alunos com problemas e ferramentas reais, restritos a “produtos e empresas imaginários”, diz.

Nesse sentido, o professor criou uma espécie de linha de produção que também conta com conhecimentos externos, o que considera um aspecto positivo. Depois que os estudantes de Engenharia sinalizam a área de interesse para a ideia autoral, Nicolas procura trazer para as aulas profissionais com experiência naquele segmento. Uma forma de dar vida a uma intenção estava apenas no campo das ideias.

“Os alunos têm tido êxito na evolução porque pulam muita etapa de erro. Ao invés de ficar tentando e errando, eles passam a ter mais acertos. A assertividade aumenta, porque tem alguém que já viveu a experiência e está ali para aconselhar”, explica o professor.

Novas competências

“É incrível. Na verdade, quando entramos em contato com alunos que não têm esse perfil de propósito, vemos a evolução que eles têm”, reconhece. Além disso, outras habilidades são fortalecidas, como o interesse pela pesquisa e até mesmo, a criatividade.

“Na hora da formatação das ideias, eles ficam sem saber o que vão fazer. Falam ‘O que eu vou fazer agora? Eu não tenho criatividade, meu processo criativo é quase nulo!’ Eles ficam desnorteados”, brinca.

No entanto, com o avanço das atividades, o som das inseguranças já não ocupa o maior espaço no modelo de negócio dos futuros profissionais. Para o professor, a criatividade pode ser desenvolvida e aprimorada, ao contrário do senso comum de que todos os “seres criativos” já nascem desse modo.

“Eu uso muitas metodologias ativas, rodas de conversa e leituras. Assim, eles vão aflorando esse lado criativo deles e entregam trabalhos que realmente são incríveis. Eu sinto muita satisfação em acompanhá-los”, ressalta.

Segundo o professor, além do conceito de propósito, outro termo é intencionalmente preparado durante o semestre da graduação em Engenharia: desafios. Para ele, os alunos se sentem motivados ao sentir que são responsáveis e “donos de uma ideia”, ainda que os projetos em si não sejam completamente inéditos.

Impactos

“Agora os professores já têm uma base para ajudar os grupos a trabalhar programação em algo real”, explica Magalhães. Atualmente, a faculdade conta com oito projetos em andamento. Para ele, além do ganho pessoal para o aprendizado individual de cada aluno, os projetos impulsionam um olhar social, voltado para necessidades externas.

“Os alunos ficam livres para escolher a área que o projeto vai envolver, como saúde, serviços ou educação, por exemplo. É algo muito aberto”, destaca.

Professores de Goiás indicados ao Prêmio Educador Transformador participaram de edição goiana do festival Campus Party (Foto:Arquivo Pessoal)

Ademais, para Nícolas, projetos nesse sentido podem contribuir para a diminuição de taxas de evasão e transferência de cursos na graduação. Para ele, o olhar para um futuro com mais possibilidades concretas é um elemento importante nessa equação.

“Eles passam a ser donos de uma ideia, eu tenho o meu colega de sala como meu sócio e eu tenho um negócio com ele. Isso só traz positividade para os alunos e para a instituição”, defende.

Algumas ideias chegam a ser tão promissoras que os alunos do curso de Engenharia de Software pedem para que o professor não compartilhe além das paredes das salas de criação. Porém, o professor relembra uma ideia que considera de alto nível de aplicabilidade.

É o caso de um potencial aplicativo chamado “Ajuda Aqui”, em que acadêmicos de cursos diferentes podem se ajudar em determinadas matérias e com isso, receber inclusive horas complementares, necessárias para a conclusão da graduação.

Prêmio

”Empreendedorismo para mim é o que eu vivo e o que transformou a minha vida. Não é todo mundo que será empreendedor, mas ter o comportamento de empreendedor todo mundo pode ter”, reflete o professor.

Para ele, a inscrição no Prêmio Educador Transformador não foi uma ideia rapidamente abraçada. No início, pensou serem muitos projetos avaliados ao longo dos estados brasileiros e que, portanto, o dele “não teria tantas chances”, conta.

Professores participaram de entrega de prêmios em capital paulista (Foto: Arquivo Pessoal)

“Dos 3000 selecionados, 10 são escolhidos para o Ensino Superior e depois 2 para cada região. Entre 400 projetos no estado de Goiás, o meu foi o único escolhido no Ensino Superior”, diz, ao explicar a dinâmica da premiação.

Para Nicolas, após viajar para São Paulo para participar da cerimônia de entrega de prêmios e principalmente, de ter estabelecido contato com outros professores, algo se tornou ainda mais claro, o potencial de transformação intrínseco ao trabalho docente.

”Nós podemos ver que em todo o Brasil, independente da sua região, existem educadores que estão fazendo acontecer.  E vemos que todo professor, para ser realmente professor, já precisa ser transformador”, completa.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 4 – Educação de Qualidade.

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