Jason Momoa é “Aquaman”, de James Wan. (Foto: internet/divulgação)

A velha briga Marvel x DC ganha mais um capítulo com esse “Aquaman” (2018), do diretor James Wan (aquele, de “Jogos Mortais”).

Isso porque é, sem dúvida, um filme melhor do que os anteriormente lançados no chamado “universo expandido”. Aqueles filmes que funcionam sozinhos e interligados. Tá ok, acho que perde para “Mulher Maravilha” (2017), mas perto dos demais filmes desse universo, até que resiste bem às rodadas de crítica. Mas, a questão que fica é: é um bom filme?

“Aquaman” traz a história de Arthur Curry, filho de um faroleiro humano com a rainha de Atlântida. E como um ser híbrido (meta-humano, no jargão), perante humanos comuns, ostenta seus superpoderes.

O problema é que, apesar de visto como super-herói em terra firme, em Atlântida Arthur é visto como um pária, um mestiço. Mesmo que filho da rainha Atlanna, é indigno ao trono. Seu meio irmão Orm, autodenominado Mestre do Oceano, reivindica o direito a reinar sobre os sete mares.

Bom, acontece que Orm não tem os sentimentos mais generosos do mundo. E acha que, depois de anos sofrendo com a poluição e o pouco caso dos humanos, está na hora de tomar providências. E pretende declarar guerra aos seres da superfície, pelo bem dos mares.

Nosso Aquaman, vivido por Jason Momoa, tem então a missão de impedir o plano maléfico do meio irmão. E só conseguirá isso recuperando o poderosíssimo Tridente de Netuno. Nessa missão, contará com seu velho amigo Vulko (Willem Dafoe) e a bela Mera (Amber Heard). A história do filme, basicamente, é isso. Vamos aos defeitos.

Primeiramente, o filme sofre com uma tremenda falta de originalidade. E aí, obviamente, estamos falando de roteiro. Porque na busca por emplacar um sucesso devastador, o diretor James Wan parece apelar para as diversas fórmulas que já consagraram sucessos nas telonas. O descobrimento dos poderes de Arthur na infância (a conversa com o tubarão no aquário), e essa história de sangue impuro, ressoam muito ao que “Harry Potter” já vem explorando anos a fio.

Por outro lado, trechos como o da guerra final entre os reinos, ou o próprio design e maneirismo dos soldados atlantes remetem diretamente a “Star Wars”. Também a questão do ser “escolhido”, que rejeita a missão, mas acaba se revelando “o escolhido”, e a própria guerra ao final vencida por esse “escolhido” já foram vistos em “Senhor dos Anéis” e “Matrix”. A trilha sonora – meio deslocada, diga-se de passagem – fica a cargo da nostalgia oitentista recuperada por “Stranger Things”.  A luta entre irmãos, sob os olhos da população atlante, é claramente escorada em cena similar de “Pantera Negra”. A impressão geral disso tudo é que o filme está mendigando a atenção do espectador. “Olha, sou igual a esses outros caras! Goste de mim, por favor!”

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Aquaman versus Mestre do Oceano: briga em família. (Foto: internet/divulgação)

Mas vamos aos pontos positivos.

É preciso ressaltar: Jason Momoa, em que pese ainda frágil na arte da atuação, sobra em carisma. O ator está visivelmente lutando contra a canastrice na tela, e tem a ajuda altamente eficaz do diretor Wan, que sabe explorar o ator na medida certa. É o Aquaman certo para fazer esquecer a combalida figura do loiro de olhos azuis.

Willem Dafoe e Amber Heard, por outro lado, são mal explorados. Dafoe aparece pouco, tem participações de mera resolução de roteiro. Personagem completamente superficial. Amber, a seu turno, cuja personagem é a esposa de Arthur Curry nos quadrinhos, só aparece como “personagem explicativo”. Aquele sem graça, que explica o plano ou o contexto dramático para o espectador. Coisa de roteirista acomodado.

As cenas de ação são muito boas. Coreografias bem feitas – de atores e da câmera – garantem a credibilidade de que Nicole Kidman (muito bem no papel, aliás) pode lutar artes marciais. Realmente empolgam.

Por fim, “Aquaman” consegue trazer ao mundo DC um ar um pouco mais leve. Depois de fotografias densas e apocalípticas sentidas em “Homem de Aço” (2013), “Batman x Superman: a origem da justiça” (2016), “Liga da Justiça” (2017) e até com respingos em “Mulher Maravilha” (2017), vemos agora um pouco mais de cor, de piadas (ainda que de gosto duvidoso) e bastante potencial para fugir da sombra que virou o estilo de Christopher Nolan, depois de “Batman – Cavaleiro das Trevas”. A cena pós-créditos promete capítulos futuros.

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Aquaman usando seu famoso uniforme verde com dourado. (Foto: internet/divulgação)

Aliás, não falei aqui do “Arraia Negra”, um dos vilões que aparecem no filme. Porque, sinceramente, é difícil entender o que ele estava fazendo lá. Não faz parte do arco principal da trama, não influencia em absolutamente nada nos rumos da história. É como se fosse um grande gancho para um segundo filme da franquia, mas que foi colocado desde os primeiros momentos. Um vilão figurante, quase. 

Enfim, “Aquaman” é um filme mediano. Chega a soar infantil em determinadas pretensões de roteiro, certas piadas e algumas soluções para o problema que o vilão traz (o qual, por si só, já é meio infantil: destruir os humanos, etc e tal). Mas é um filme que diverte bastante! E dá esperanças de que a DC ainda não entregou os pontos, e nessa briga inútil entre estúdios de super-heróis, ainda pode surpreender.