Estamos entrando no quinto mês da Guerra da Ucrânia sem uma perspectiva de quando e como esse conflito poderá terminar. O fato é que desde que a Rússia de Vladimir Putin iniciou sua invasão, em 24 de fevereiro de 2022, todos nós, em alguma medida, fomos afetados.
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Europeia reagiram às ações belicistas da Rússia por meio da adoção de sanções, que tem buscado isolar Putin e enfraquecer seus recursos para a guerra. Japão, Canadá, Austrália e Coreia do Sul, também têm colaborado com essa política ocidental de sanções.
As sanções aplicadas contra a Rússia são consideradas as mais duras impostas a um país. Entre as medidas adotadas destacam-se: o congelamento de mais da metade das reservas do banco central russo; restrições de instituições financeiras russas ao Swift (sistema de conversão e compensação cambial) e congelamento de ativos de ricos cidadãos russos.
No início do mês de junho a União Europeia aprovou o 6º pacote de sanções econômicas contra a Rússia e com isso novos nomes de autoridades foram colocados na lista de sanções e mais bancos russos, como o Sberbank, foram excluídos do sistema SWIFT. Estabeleceu ainda sanções para militares russos que tiveram os nomes vinculados a crimes de guerra na Ucrânia, destacadamente, no terrível episódio que envolveu a morte de vários civis em Bucha, cidade ucraniana situada no Oblast de Kiev.
Diante da determinação do presidente Putin, no início de abril, de estabelecer um rol de 45 países que deveriam pagar pelo gás e pelo petróleo russo em rublos, o bloco europeu decidiu banir a compra do petróleo russo. A União Europeia anunciou também um novo fundo de ajuda econômica para a Ucrânia, em torno de 500 milhões de euros. Desde o início da guerra, a UE mobilizou cerca de 4 bilhões de euros para apoiar a Ucrânia.
A decisão de EUA, Reino Unido e União Europeia de boicotar os combustíveis da Rússia, segue a estratégia de buscar isolar e enfraquecer Putin, mas demonstra ser uma faca de dois gumes e tem apresentado efeitos colaterais para a economia mundial.
É importante destacar que, depois de EUA e da Arábia Saudita, a Rússia é o a maior produtora de petróleo do mundo e mais da metade do petróleo bruto que exporta vai para a Europa. Já o gás russo representa cerca de 40% das importações da União Europeia e é fundamental para o aquecimento e para o setor produtivo, principalmente em países como a Alemanha e Itália.
Como reflexo dessa guerra diversos países estão enfrentando o aumento das contas de energia e combustível. Nos EUA, o preço da gasolina atingiu o nível mais alto desde 2008 e no Reino Unido o aumento das contas de gás e eletricidade intensificou a crise do custo de vida e a inflação chegou a 9% em abril, seu nível mais alto em mais de 40 anos.
Bem, em meio a tudo isso a guerra prossegue e os russos têm avançado na região do Donbass e no Sul da Ucrânia. Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, acredita que essa guerra pode ser longa e durar anos. Ainda segundo ele, reduzir o apoio à Ucrânia nesse momento seria um erro, pois, por mais que os custos sejam elevados, uma vitória da Rússia teria custos ainda maiores.
Mas, será que essa política de sanções conseguirá dobrar a resistência e as ambições de Putin? Bem, quando observarmos outros momentos e outras regiões em que esse tipo de estratégia foi utilizado percebemos que é um esforço de longo prazo, como acontece com Cuba, Irã e Venezuela, e quem mais sofre é a população local.
Geralmente essas áreas são dominadas por governos autocráticos e o máximo que se consegue é um relativo isolamento desses governantes. Assim, o histórico da política de sanções não é muito animador, principalmente quando analisamos as peculiaridades da guerra da Ucrânia.
Se de um lado as sanções estão provocando problemas para a população russa e para a plena efetivação dos planos de Putin, por outro lado as pressões sobre a economia mundial, a crise energética e a crise alimentar, têm pressionado os governantes ocidentais.
Além do mais, a parceria econômica que a Rússia conseguiu estabelecer com a China e a Índia, tem permitido a Putin driblar as pesadas sanções. Além de vender seus combustíveis fósseis para chineses e indianos, Putin acena com a proposta de aumentar a importação de carros chineses e abertura para a entrada de produtos e empresas indianos na Rússia.
Segundo dados da Administração Geral de Alfândegas da China, a importação de petróleo russo atingiu um aumento de 55% em relação a 2021. Já as importações de petróleo russo pela Índia passaram de 1% para 18%, em comparação com o que foi comprado em 2021.
O grande temor é que as pressões sobre a economia mundial e a queda de popularidade dos governos ocidentais, acabem forçando a Ucrânia a aceitar um tratado com a Rússia bastante desfavorável. Caso isso venha a acontecer, a ordem internacional sofreria alterações consideráveis.
Decretaria o fracasso da política externa dos EUA, colocaria em xeque a eficácia da Otan e a própria sobrevivência da União Europeia como uma força no cenário internacional. Os mais pessimistas temem que outros países como China e Coréia do Norte se encorajariam e colocariam em prática seus anseios de expansão militar e territorial.
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