Desafios do Cinema Brasileiro no cenário internacional

No Brasil, o dia 19 de junho é lembrado pelo dia do Cinema Brasileiro, data que visa homenagear a sétima arte produzida em terras tupiniquins e destacar como o cinema nacional é rico em obras audiovisuais, muitas vezes não tão apreciadas. Escolha da data remete ao dia em que o ítalo-brasileiro Afonso Segreto, considerado o primeiro cinegrafista e diretor do país, registrou as primeiras imagens em movimento no território brasileiro, em 1898.

Ele tinha acabado de fazer um curso sobre a operação de equipamento cinematógrafo na França, e de lá trouxe modelos para o Brasil. Nos primeiros anos do século XX, ele e seu irmão, Pascoal, filmaram dezenas de filmes, dando assim os primeiros passos para assentar as bases do cinema no Brasil.

Italiano Afonso Segreto foi, provavelmente, a primeira pessoa a fazer imagens de cinema no Brasil. Foto: Brasil Escola.

Nas décadas seguintes, outras personalidades destacaram-se na produção cinematográfica. Nos anos 1930, Humberto Mauro brilhou com filmes como “Ganga Bruta” e “Alô, Alô Carnaval”, desenvolvendo o gênero da “chanchada”, que teve ampla aceitação popular.

Nas décadas de 1940 e 1950, o cinema prosseguiu com a criação dos primeiros estúdios profissionais, como o “Vera Cruz”, muito inspirado nas produções de Hollywood, que começavam a ganhar o mundo nessa época.

Nas décadas de 1960 e 1970, o audiovisual brasileiro teve uma grande guinada criativa por conta do “Cinema Novo”, tendo como representantes principais: Ruy Guerra, Luís Sérgio Person, Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Joaquim Pedro de Andrade.

Filme “Deus e o diabo na terra do sol” (1964), de Glauber Rocha, retrata a vida sofrida no sertão brasileiro marcado pela seca.

Além desse tipo de produção, houve também o desenvolvimento do cinema de entretenimento associado a canais televisivos, como a Globo Filmes, principalmente com filmes dos Trapalhões. Nos anos 1990 e 2000, uma nova leva de filmes de diretores criativos com destaque internacional apareceu no Brasil, sobretudo nas pessoas de Carla Camuratti, Walter Salles, Fernando Meirelles e José Padilha.

Filme Tropa de Elite 2 (2010) de José Padilha levou vendeu mais de 11 milhões de ingressos nos cinemas brasileiros.

Atualmente, o cinema nacional circula mais que nunca fora do país. A disponibilidade de filmes em diversos formatos – e principalmente formatos digitais – aumentou bastante nos últimos anos, não apenas em festivais e mostras, mas também em locadoras e serviços de streaming.

A falácia no discurso de que brasileiros não gostam do próprio cinema é derrubada pelos resultados dos períodos em que houve um mínimo de incentivo à produção e à diversidade. Após a criação de financiamentos municipais, estaduais e federais, construídos e reforçados a partir do início dos anos 2000, houve um impulsionamento de filmes que foram verdadeiros fenômenos. 

Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite, Dois Filhos de Francisco, Se eu Fosse Você, Que Horas ela Volta Bacurau compõem a lista de provas de que não há autorrejeição à identidade nacional nas telas.

Bacruau (2019) de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dorneles

No entanto, é notória a dificuldade de acessar circuitos comerciais, especialmente nos Estados Unidos. Por lá, cerca de apenas 3% dos filmes lançados comercialmente são estrangeiros. Isso talvez seja devido à estrutura e à potência da indústria cinematográfica deles ou à resistência que o norte-americano supostamente teria em relação a legendas ou a até mesmo a certo etnocentrismo.

Infelizmente, o setor ainda esbarra em uma série de dificuldades como, por exemplo, recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) para projetos, que desde 2018 estão parados. O governo federal brasileiro vem vetando projetos em editais e o FSA sofreu um corte de 43% no orçamento.

Sejam elas sociais, culturais ou políticas, as histórias que o nosso cinema conta (e as que também omite) trazem algo mais sobre a identidade brasileira, que mesmo maltratada pelos vilões autoritários, resiste. São narrativas que revelam a diversidade de raças, vocabulários, credos e paisagens, que tornam o Brasil tão denso e plural e que precisamos nos esforçar para que elas sejam vistas em telonas de todo o mundo.

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