Gabriela Silvério “Hanabi Hyuuga” (suporte) da Rensga GO (Foto: Alan Moreira)

Em 2019, uma pesquisa feita pela Games Brasil, apontou as mulheres como maioria do público gamer no Brasil. De acordo com os dados, dos mais de 3 mil entrevistados 53% são do gênero feminino e 47% do masculino. Observando assim, o aumento da presença feminina nos games e e-sports pelo quarto ano consecutivo da pesquisa, desde 2016.

Mas, infelizmente, essa historia não é feita apenas de boas notícias. Apesar de as mulheres serem maioria, elas sofrem constantemente com abusos e assédios, principalmente em jogos online. É o que afirma a estudante Ybsã Oliveira, que já jogou por quase três anos e decidiu parar por causa desse sofirmento.

“Eu já passei por constrangimentos, assédios e qualquer outro tipo de machismo dentro do ambiente online de games. É um ambiente muita machista, muito sexista… se as pessoas descobrem que é uma mulher, eles acham que tem o direito de humilhar você no jogo, dar em cima de você, te cantar e isso é ridículo”, relatou.

O publicitário, Gabriel Serejo, joga por mais de oito anos e vê que a sociedade ainda não está pronta para os jogos online. “Eu acho que a sociedade atual, ela ainda não está pronta para a internet, para jogos online. Porque um dia desses, eu estava jogando League of Legends e eu percebi que o pessoal estava ofendendo uma menina, só pela fato dela ser mulher e estar jogando. Isso é mais comum do que você imagina, é um ambiente hostil para quem é do sexo feminino”, afirma.

É comum ouvir que homens têm mais facilidades com jogos eletrônicos do que as mulheres. Entretanto, em uma pesquisa realizada pela Universidade de Michigan nos Estados Unidos, comprovou que essa teoria está errada. A pesquisa que analisou cerca de 10 mil pessoas constatou que não existe diferença de performance e desempenho entre os gêneros.

Desse modo, a explicação para essa falsa teoria é puramente social. Para o publictário as mulheres que praticam esportes eletrônicos não são valorizadas. “ Uma coisa que eu reparo muito dentro do jogo, que é extremamente machista, é que a maioria das mulheres jogam na posição de suporte, o suporte é um personagem que serve para ajudar outros jogadores. A mulher vê muitos memes com esse tipo de coisa, ela vê muito uma cultura que “a mulher tem que ser suporte”. O suporte é a classe mais subestimada dentro do jogo, é uma classe extremamente necessária, porém ela não é uma classe empoderadora”, classifica.

Em 2018 a campanha #MyGameMyName feita pela ong WonderWomenTech, convidou jogadores youtubers homens para utilizarem nicks femininos durante as partidas. O resultado foi o esperado, todos foram ofendidos ou assediados. Esse é um dos motivos que levou a estudante Ybsa Oliveira a não identificar seu gênero nos jogos. “ Eu jogava online, e por fim, desisti, simplismente exclui minha conta e passei a usar a conta do meu pai. Com a conta do meu pai, eles respeitavam mais, eles me tratavam de igual para igual, o seu oponente te trata como um companheiro, como um jogador, não te trata com inferioridade”, ressaltou.

Solução !?

Atitudes como se comunicar e de se colocar no lugar do outro, podem ser soluções para amenizar esse ambiente hostil, é o que acredita André Nunes, manager do time goiano de League of Legends, Rensga Esportes.

“Para acabar com isso, não depende só de uma ação específica de um grupo de pessoas, depende da sociedade, de mudar os padrões da sociedade. Essa mudança dentro dos gamers pode acontecer de uma forma diferente a partir da comunicação, a partir da troca de ideias, da discussão sobre o quanto isso é relevante, a diferença de gênero no desempenho, discutir o impacto dessas ações negativas no convívio de mulheres gamers. Tentar entender, se colocar um pouco no lado delas, tentar entender como elas se sentem e passar a discutir a partir do ponto de vista contrário ao nosso, acho que isso seria um ponto de partida para uma discussão mais saúdavel, que podesse abrir portas para que o cenário fosse um pouco mais igualitário”, afirma.

Cenário profissional

Nas competições profissionais, apesar da possibilidade de equipes mistas, a maioria dos times é formada por homens. O manager da Rensga Esportes, afirma que assédios e julgamentos afastam as mulherres do profissional. “É comum a reclamação de assédio, de xingamento em conversa, chat, aúdio, bem como questionamento delas sobre o conhecimento do jogo. Então, quando as meninas acabam se comunicando dentro do jogo e alguém identifica que é uma menina, esse comportamento acaba mudando. Isso acaba inibindo as mulheres de jogarem em um cenário mais competitivo e levando elas a jogarem em grupos de amigos, entre elas mesmo. Isso mostra que o cenário competitivo não é realmente acolhedor para elas e por isso é mais comum encontrarmos ligas e times puramente femininos do que mistos”, relata.

Entretanto nem tudo é escuridão. Recentemente, a Rensga Esportes contratou a jogadora Gabriela Silvério. Para chegar lá, ela teve que superar quatro etapas, durante três meses, da Peneira realizada pelo time. Um grande passo para as mulheres e uma satisfação para as torcedoras goianas

ac228d8278920017192dd1a1fd1a5a67.jpegDuas garotas disputaram a final da Peneira (Foto: Alan Moreira)

No entanto, a última etapa da peneira contou com apenas duas mulheres, e a Gabriela entende que essa baixa está relacionada aos contantes ataques sofridos. “A peneira está aberta para todo mundo, então todo mundo tem a oportunidade de participar. O que acontece com as meninas é que por sofrerem tanto dentro do jogo, elas nem pensam na possibilidade de ter isso aqui como trabalho ou até um hobby competitivo. O que poderia acontecer, era ter melhoria nas punições que acontece dentro do jogo, para que esse tipo de assédio e machismo não acontecer e elas se sentirem mais seguras, jogar o jogo, melhorar e ver aquilo como uma profissão. Na minha vida inteira eu sempre gostei de jogos, de esportes… então, eu sempre fui uma menina entre os meninos em qualquer coisa que eu fazia, não é a primeira vez que eu me coloquei em uma situação assim. Mas, seria legal ter outras meninas aqui comigo, e eu acho que é uma questão de tempo, as coisas estão mudando, no ano que vem eu espero que tenha mais meninas no time,” acredita.

Com a Gabriela entrando no cenário profissional, as goianas passam a ter uma inspiração no esporte. “Como mulher e qualquer outra mulher que joga LoL (League of Legends), você vai sofrer um pouco mesmo. Se você tiver um nick feminino, você vai sofrer algum tipo de assédio ou machismo dentro do jogo. É frustrante falar isso, mas a única solução que você tem é mutar o chat e seguir o jogo, muta o chat, muta os emoticons e segue tentando a vitória, depois que terminar, reporta o jogador e segue a próxima partida. O que me motiva é poder fazer o que eu gosto, fazer o que a gente ama não tem preço, ainda mais poder chamar isso aqui de trabalho é sensacional para mim. Um recado que eu dou para as meninas que querem entrar nessa área é não desistir e, também, jogar ao máximo para você ser boa e nimguém poder duvidar de você. Joga, melhora no jogo e tenta uma carreira”, declara.

Sobre a Rensga Esports

A organização de esportes eletrônicos surgiu no cenário nacional em 2019 após adquirir uma vaga no Circuito Desafiante de League of Legends, a 2ª divisão brasileira, abaixo do Campeonato Brasileiro de LoL (CBLoL). Mesmo não se classificando, o time – que chamou a atenção pelo jeito irreverente de se comunicar, enaltecendo sua identidade 100% goiana – marcou o início da regionalização dos esports. Em 2020, estruturou sua base com mais dois times – Rensga Academy e Rensga GO – além de reforçar sua comissão técnica e inaugurar um Centro de Treinamento dentro da Orbi Gaming, um complexo com mais de 800 metros quadrados. Criou ainda uma equipe de Counter Strike: GO para ampliar a atuação no cenário de games e esportes eletrônicos.

MATHEUS PESSOA é estagiário do Sistema Sagres de Comunicação, em parceria com o IPHAC e a FACULDADE ARAGUAIA sob supervisão do jornalista JOHANN GERMANO.