A fome é um fator presente ao longo de toda a história da humanidade. Atualmente 33,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil, de acordo com pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN). O número é equivalente a 15,5% dos domicílios brasileiros. Bancos de sementes podem ajudar a preservar espécies ameaçadas de extinção e ainda ser ferramentas para o combate à fome.

Parte das questões ligadas à fome está na desigualdade de distribuição de alimentos e de insumos. No campo, enquanto alguns produzem com maquinários, tecnologia, assistência técnica; Já outros ainda vivem da agricultura de subsistência, que sempre esteve sujeita a intempéries naturais, como enchentes, e secas, impactando o abastecimento das populações que dependiam de sua produção.

Entre as políticas de combate à fome está a criação de bancos de sementes, fornecendo materiais e treinamentos necessários. Agricultores aprenderam a coletar, armazenar, preservar e reproduzir as sementes locais.

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O que é um banco de semente?

Uma opção bastante difundida são os bancos de sementes, onde são guardados exemplares das mais variadas espécies de vegetais. Estas “sementotecas” trabalham em conjunto com vários jardins botânicos que fornecem os exemplares para serem guardados e utilizados em caso de alguma eventualidade.

Os benefícios do banco de sementes para a preservação de plantas em extinção são vários, entre os quais se destacam o baixo custo e pequena demanda de espaço, o longo período pelo qual as sementes podem ficar armazenadas.

Outro aspecto é a maior diversidade genética que este tipo de prática propicia em relação a coleções vivas, além do pouco impacto que a coleta de sementes causa em populações de espécies em extinção da flora.

Embrapa

A coleção de sementes da Embrapa conta hoje com cerca de 120 mil amostras de quase 700 espécies agrícolas, coletadas ao longo dos 49 anos de existência da estatal. Todas elas conservadas a 20 graus centígrados abaixo de zero.

No entanto, alguns bancos de germoplasmas já existia antes mesmo da própria fundação da entidade, oriunda da década de 70. Hoje os bancos são localizados em regiões estratégicas, associando pesquisa e tecnologia com a demanda e necessidade de produção.

O supervisor do Banco Genético da Embrapa, Juliano Gomes Pádua, relata que na segurança alimentar é preciso observar dois aspectos: a produção e a distribuição de alimentos. Ele avalia que a Embrapa tem um papel importante em aumentar a produção de forma sustentável, colaborando para aumentar a segurança alimentar.

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De acordo com Juliano, a tecnologia e o desenvolvimento de pesquisas resulta no desenvolvimento de novas variedades que colaboram na produção de alimentos mais resistentes a chuvas, secas, pragas, etc. Além de fortalecer a parte nutricional.

“Esse banco é um dos componentes de um sistema maior que é de sistema de germoplasma da Embrapa. É onde que temos as sementes e as plantas que vão sendo caracterizadas para o desenvolvimento de novas cultivares e traga características novas e úteis. Plantas mais produtivas e resistentes a determinadas doenças, que resistam mais a seca ou a enxarcamento, e também para os consumidores, podemos desenvolver espécies que sejam mais nutritivas, que apresentem uma vantagem em relação a parte nutricional, para o combate a doenças, uma infinidade de casos, entre outras questões”, disse Juliano.

O pesquisador conta que outro papel importante é por fortalecer a agricultura familiar, já que esta tem uma contribuição importante, que é a de produzir boa parte dos alimentos consumidos pelos brasileiros.

No mundo todo, há mais de 1.700 bancos genéticos de sementes. Infelizmente, alguns estão sujeitos a desastres naturais ou conflitos de guerra.

Milho

Pensamento na ideia de facilitar o acesso de pequenos e médios produtores a variedades de sementes melhoradas geneticamente para plantio, a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) disponibiliza sementes de milho com valores abaixo do mercado para agricultores familiares em diferentes regiões de Goiás.

A agricultura familiar tem bastante importância em Goiás. O estado possui 152 mil propriedades rurais, sendo 90 mil somente de agricultura familiar. De acordo com o presidente da Emater, Pedro Leonardo Rezende, a intenção é de contribuir para melhorar a sustentabilidade ambiental e ao mesmo tempo aumentar a produtividade do pequeno agricultor.

“Muitas vezes o produtor da agricultura familiar tem dificuldade para acessar as informações, as tecnologias, acessar assistência técnica, pública para que consiga ter sucesso nas suas atividades”, disse Pedro Leonardo Rezende.

Sementes que são comercializadas a custo reduzido. Foto: João Vitor Simões.

Ao todo serão comercializados a preços subsidiados, 9 mil sacos de 20 kg de sementes das variedades AL Bandeirante e Emgopa 501, no valor de R$ 130/saco.

O milho AL Bandeirante é uma variedade convencional semi-duro, de dupla aptidão, utilizado para a produção de grãos e de silagem. Ele é recomendado para a safrinha, uma vez que possui bom potencial produtivo, boa relação custo/benefício, rústico e com boa sanidade de plantas.

Já o milho Emgopa 501 é uma variedade convencional dentado, que possui bom potencial produtivo, boa relação custo/benefício, boa sanidade de plantas e recomendado para solos de baixa a alta fertilidade. É uma variedade indicada principalmente para produção de silagem de planta inteira.

Pedro Leonardo relata que o banco de sementes colabora para a manutenção genética de espécies mais resistentes e produtivas, e que podem auxiliar o agricultor, com um custo mais reduzido.

“O banco de sementes tem o objetivo principal de manutenção genética das variedades de milho, o objetivo é que a gente possa manter as características produtivas preservadas”, finalizou Pedro Leonardo Rezende.

Pequi

Além de ajudar a matar a fome através da produção de alimentos, os bancos de alimentos também ajudam a preservar espécies ameaçadas, por exemplo, o pequi.

O pequizeiro é uma árvore símbolo do cerrado. O pequi é fruto de sabor marcante e aroma agradável que dá toque especial na mesa dos goianos. No entanto, a árvore é de difícil germinação. Menos de 50% das sementes que caem no chão vão germinar.

Em Goiás, há algumas preocupações quanto ao futuro dos pequizeiros, devido ao extrativismo predatório, a baixa velocidade de reprodução do pequi e o avanço do plantio de soja em difrentes regiões do estado, refletem em motivos para a ausência de plantas jovens do fruto.

Sem plantas novas e com as já existentes sendo arrancadas ou tendo os frutos colhidos à exaustão, a tendência é que cada vez menos tenhamos árvores mais jovens.

Mudas de pequi produzidas em viveiro da AMMA. Foto: Samuel Straioto.

Em Goiânia, a ideia é de buscar reproduzir mudas de pequi, por meio de projeto que visa a preservação das plantas. Um trabalho realizado pela Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA) visa multiplicar a produção de mudas de pequi na cidade.

Em mais de um ano de atividades já são mais de 1,5 mil mudas, algo difícil até mesmo para viveiros privados. O banco de sementes e a reprodução de mudas pode ser bastante favorável à preservação e restauração ambiental de uma área.

“A gente tem a reprodução através das próprias mudas, temos compensação ambiental, a produção das próprias mudas, a compensação ambiental com o direciommento de mudas para o viveiro e tem a produção através de sementes, em que a gente aceita a doação de sementes pela população, como também os nossos servidores fazem coletas de sementes nos parques, unidades de conservação, com o objetivo de reproduzir as mudas e completar o ciclo e fazer com que sejam plantadas em nossos parques”, explicou Ormando José Pires Júnior, superintendente de Gestão e Licenciamento Ambiental da AMMA.

Ormando Pires relatou que a legislação permite que empresas que promovam impacto ambiental tenham contrapartidas, entre elas a doação de sementes e produção de mudas. “A legislação permite que danos ambientais que resultem em impacto, empresas podem distribuir sementes ou produção de mudas”, relatou.

O superintendente da AMMA finalizou avaliando que é essencial que não apenas a agência faça o plantio, mas que a população também possa participar do processo, colaborando para aumentar a arborização em parques e até mesmo em praças e canteiros de avenidas e calçadas nas ruas.

Produção de mudas no viveiro da AMMA. Foto: Samuel Straioto.

Repense

Esta reportagem integra a série Repense desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos ao combate à fome e formas alternativas de produção de alimentos, ligados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 02 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Fome Zero e Agricultura Sustentável.

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