Bioconstruções buscam reduzir o impacto ambiental e facilitar acesso à moradia

A necessidade de baratear custos e reduzir o impacto ambiental está presente também na construção civil e com isso as bioconstruções ganham força, concebendo ambientes que atendam à demanda das comunidades, sem causar danos mais significativos ao meio ambiente.  

As mais diversas técnicas de bioconstrução são herança dos povos de diversos locais do mundo e foram adaptadas conforme as características de cada região e as matérias primas disponíveis. Alguns métodos incluem, por exemplo, o uso de materiais renováveis, como madeira certificada, bambu e palha, e a utilização de materiais reciclados e reaproveitados, como pneus e garrafas PET. 

O Instituto de Permacultura do Tocantins (Permatoca) é uma das referências em bioconstrução no estado e além de trabalhar com as obras em si, desenvolve outras atividades relacionadas à difusão da permacultura como ferramenta de transformação socioambiental, com oficinas e cursos de capacitação em técnicas de construção natural, saneamento ecológico, educação ambiental e agroecologia. 

Bioconstruções e o clima

O co-fundador do Permatoca, Dennis Joseph Godoy explica além de diminuir o impacto socioambiental já na construção, estratégias que têm a permacultura como ferramenta, contribuem também para a economia de energia e contribuem com a preservação ambiental durante o seu uso, especialmente quando consideramos as condições climáticas com altas temperaturas – comuns durante todo o ano no Tocantins.  

“As construções com terra têm um conforto térmico que é muito adequado ao clima do Tocantins, mantendo uma temperatura mais amena do que materiais industriais. Todavia não são apenas os materiais que oferecem esse resultado, mas um conjunto de estratégias bioclimaticas dos quais os materiais são um dos elementos considerados nesse planejamento”, explicou.  

Em entrevista recente, o Chefe do Departamento de Energia e Clima do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Mark Radka, falou sobre como o uso de ar condicionados é combustível para a crise climática.  

“Sabemos que a demanda de resfriamento de espaços representa quase 20% da eletricidade usada em edifícios e é o uso de energia em edifícios que mais cresce em todo o mundo, devendo triplicar até 2050. Mas esse consumo e crescimento variam muito de país para país. Essas diferenças intrapaíses geralmente estão ligadas à localização, condições climáticas e renda”, afirmou explicando que soluções baseadas na natureza como o plantio de árvores, por exemplo, podem contribuir para reverter esse cenário.  

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Acesso à moradia

Diversas técnicas de bioconstrução são empregadas utilizando os recursos disponíveis em cada região – Foto: Divulgação/Permatoca

Além de contribuir para a diminuição do impacto ambiental, a permacultura contribui também com a democratização do acesso à moradia, barateando os custos e sendo desenvolvida, por muitas vezes, de forma cooperativa.  

“As técnicas de construção natural são parte da tradição construtiva de vários povos pelo mundo e por basearem-se em recursos locais e renováveis oferecem mais autonomia as pessoas que delas se utilizam, sendo a sua popularização um instrumento de democratização ao acesso à moradia, além de causarem um menor impacto ambiental do que materiais industrializados”, explicou o co-fundador da Permatoca.  

A técnica também tem sido escolhida por moradores de grandes centros para personalizar e dar um ar natural a cômodos em casas e apartamentos.  

“Os materiais naturais possuem uma plástica que lhes é própria e despertam nas pessoas uma sensação de contato com a natureza que tem sido muito valorizada, tanto pelo potencial estético e quanto pelo efeito psicológico, o que tem recebido o nome de design biofílico. Enquanto bioconstrutor considero essas reproduções industriais que imitam as técnicas naturais sem sentido do ponto de vista da sustentabilidade e esteticamente toscas porque fica sempre evidente que se trata de uma imitação”, esclareceu Dennis.  

Os mais recentes projetos do Instituto consistiram na execução de 5 tecnologias sociais de saneamento ecológico (bacia de evapotranspiração) na comunidade do Taquarussu Grande e a construção e um banheiro seco (sanitário compostável) na Escola de Tempo Integral Fidêncio Bogo. 

Experiência

A jornalista Thalia Batista optou pela bioconstrução e a sua casa foi erguida utilizando várias técnicas como adobe, hiper adobe e essencialmente erguida com elementos encontrados no cerrado, bioma predominante da região onde mora.  

Thalia Batista escolheu a bioconstrução para reduzir o impacto ambiental, os custos da construção e ter mais conforto térmico – Arquivo Pessoal

“Essa escolha de construir a casa com as técnicas de bioconstrução são primordialmente pelas questões ambientais. Diminuir os impactos ambientais, ter uma casa ecologicamente correta e, especialmente, utilizar os recursos disponíveis no nosso caso no cerrado. Um exemplo da utilização desses recursos é a fossa – o buraco que nós fizemos a fossa, é de bananeira. A terra que foi retirada desse buraco, nós usamos para o ensacamento que fez as paredes da nossa casa de superadobe”, explicou.  

Além de contribuir com a redução do impacto ambiental durante a construção, Thalia explica que a opção também reduziu o custo da edificação em cerca de 50% comparado às técnicas convencionais com cimento e alvenaria por exemplo. E pra reforçar as razões para a escolha da bioconstrução, a jornalista conta que a questão térmica também influenciou na decisão.  

“Outra questão que fez a gente escolher as técnicas de bioconstrução é o conforto térmico. A temperatura interna da casa é bem mais amena e, para nós, que moramos em Palmas onde a temperatura média muito elevada, é um diferencial muito importante para a nossa casa, para a gente ter um ambiente mais harmônico, mais tranquilo, e que tenha esse controle de temperatura e de calor internamente”, esclareceu.  

Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis e ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.