Por mais de 15 minutos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se dedicou a responder às perguntas da imprensa na tarde desta terça-feira (12), na chegada ao Palácio da Alvorada. O chefe do Executivo, que usava máscara, assim como seus apoiadores aglomerados, disse que liberou o uso da hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19, mesmo sem comprovação científica de combate à doença.

O presidente comparou o uso da hidroxicloroquina ao da fosfoetanolamina, conhecida como pílula do câncer, cuja regulamentação de projeto de lei em 2016 do então parlamentar Jair Bolsonaro e um grupo de deputados, foi sancionado pela então presidente Dilma Rousseff (PT), mas a utilização acabou proibida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por não haver comprovação científica do combate à doença. 

Não temos um estudo científico ainda, mas a exemplo da fosfoetanolamina no passado, acredito que as pessoas acometidas, já que é permitido, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou. Conversei com o ministro da Saúde hoje, está autorizado o uso da hidroxicloroquina”, afirmou.

O presidente disse que ainda é cedo para avaliar o trabalho de Nelson Teich, que assumiu o Ministério da Saúde no dia 17 de abril, após demissão de Henrique Mandetta. “O Ministério da Saúde em sim já é um problema, tendo em vista vícios que tínhamos aí, ainda pega com a crise da pandemia. Não é fácil, não posso cobrar dele muita coisa”, ressaltou.

O ministro ficou sabendo pela imprensa ontem (11) do decreto do presidente que recomenda a reabertura de academias, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais. O presidente minimizou o fato de não ter comunicado Nelson Teich, e o comparou a uma visita inesperada para um almoço em casa.

Não é porque faltou um contato que a gente vai desclassificar esse novo decreto que trata de mais algumas profissões. Acontece. Quantas vezes você chega em casa com um colega para almoçar e não avisa tua esposa? Vai acabar o casamento por causa disso?”, afirmou.

Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado, que defende o isolamento social, já prometeu decreto endurecendo as medidas em municípios com maior número de casos no estado. Bolsonaro lamentou as 12,4 mil mortes por Covid-19 em todo o país, e fez um apelo aos chefes do Executivo estadual no Brasil.

A gente apela aos governadores. Reconheço a questão da vida, é importante, a gente lamenta cada vida que se vai, mas o desemprego mata”, argumentou.

O presidente tocou a máscara por diversas vezes ao longo da entrevista (Foto: Reprodução/Youtube/Jair Bolsonaro)

Vídeo de reunião ministerial

Jair Bolsonaro também foi questionado sobre o conteúdo do vídeo da reunião do conselho de ministros, ocorrida no último dia 22 de abril, e que é investigado pelo STF por conta das declarações do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente teria tentado interferir politicamente no comando Polícia Federal para beneficiar a si próprio e à sua família.

Moro deixou o ministério após a exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, que era o indicado do ex-ministro ao cargo. O vídeo da reunião citada por Moro teve perícia solicitada pelo ministro Celso de Mello, do STF.

Reunião de ministros não é algo previsto em lei que você tem de guardar por tanto tempo ou divulgar logo depois. E ali, muitas vezes, são discussões um pouco acaloradas, de vez em quando. E esse vídeo que está à disposição da Justiça, eu espero que as questões sensíveis, de segurança nacional, não se tornem públicas. Isso prejudica e muito a economia do Brasil”, disse. “A parte do tocante ao inquérito está liberado, até palavrão meu que eu falei lá, tem palavrão, sem problema nenhum. Toda a minha parte está liberado, isso aí. Agora espero que as questões sensíveis, de segurança nacional, soberania nacional, porque tem soberania nacional no vídeo, não vazem, que isso é péssimo para o Brasil, só isso”, complementou.

Bolsonaro garante que não tentou interferir no comando da PF, e que não está sendo investigado, tampouco os filhos. “A Polícia Federal não está investigando nem a mim nem meus filhos. Não tem preocupação. Não existe, no vídeo, eu falando ‘Superintendência da Polícia Federal’. O que eu tava falando lá é minha preocupação com a minha segurança. Não tem nada demais no vídeo, tranquilíssimo”, disse.

Perguntado se irá tornar público o resultado dos exames que fez para Covid-19, Bolsonaro disse que irá acatar decisão do STF, mas defendeu a própria privacidade.

Esse assunto está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski. O que ele decidir, será cumprido”, afirma. “Se o João da esquina tem direito a não mostrar o seu exame, eu também tenho porque está definido em lei”, resumiu.

Economia

Questionado sobre a alta do dólar turismo, que fechou acima dos R$ 6, Bolsonaro disse que conversou com ministros sobre o assunto na tarde de hoje (12), em reunião que, desta vez, segundo ele, não foi filmada. “Não posso falar em dólar. É informação sensível. Estaria adiantando aqui algo privilegiado que prejudicaria o mercado”, argumentou.