O Boxe Brasileiro está determinado a alcançar um feito histórico em Santiago 2023. A modalidade já quebrou o recorde de medalhas conquistadas em uma única edição dos Jogos Pan-Americanos, com um total impressionante de 12 pódios (superando a marca anterior de nove, estabelecida em São Paulo, 1963). Agora, o objetivo é buscar o recorde de medalhas de ouro, que atualmente está em três e foi conquistado na primeira edição do Pan-Americano realizada no Brasil.

Os pugilistas brasileiros estão seguindo um caminho promissor, com nove deles avançando para as finais em um total de treze categorias possíveis. Os mais recentes a garantir suas vagas nas finais foram Carolina Almeida, Jucielen Romeu, Barbara Santos, Michael Douglas Trindade, Wanderley Pereira e Abner Teixeira, todos obtendo vitórias em seus respectivos combates na tarde de quinta-feira, 26 de outubro.

Pela manhã, Tatiana Chagas, Beatriz Ferreira e Keno Marley Machado já haviam avançado para as finais. É importante destacar que todos os finalistas asseguraram também a qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Bia e Jucielen já haviam garantido suas vagas olímpicas ao chegarem às semifinais. O desempenho impressionante dos atletas tem empolgado o treinador-chefe Mateus Alves.

“Nós nos preparamos muito forte. As equipes bravas com a gente, reclamando de tudo porque realmente foi puxado, mas isso que fez termos uma campanha extraordinária. Agora vamos buscar, ao menos, três ouros para liderarmos o quadro de medalhas da modalidade. Conseguimos cinco finais no feminino e quatro no masculino. Superamos a meta que eram sete classificações para os Jogos e vamos buscar as outras quatro vagas no classificatório no final de fevereiro. Vamos buscar o recorde de ouros fora de casa e, quem sabe, conseguir igualar ou superar São Paulo 1963?”, disse Mateus.

Primeira lutadora

A primeira representante brasileira a entrar no ringue no Centro de Treinamento Olímpico foi Caroline Almeida, que compete na categoria de 50kg. Ela enfrentou Ingrit Victoria, da Colômbia, uma adversária renomada com duas medalhas em campeonatos mundiais (vice-campeã em 2022 e medalhista de bronze em 2023), além de uma conquista olímpica. Caroline, conhecida como “Naka”, demonstrou sua superioridade ao tomar a iniciativa no combate, garantindo assim sua vitória e alcançando a meta estabelecida para Santiago 2023.

“Ela era a atleta mais dura da minha chave. Eu tenho maior respeito por ela, pela história dela, por ela ter sido medalhista olímpica. Hoje eu acreditei em mim mais do que nunca. O meu estilo nem é trocar golpes, mas mostrei que eu também consigo. Sai com a vitória nos 3 rounds, classificada para Paris que era meu sonho. Obrigada a todo mundo que torceu por mim, inclusive o pessoal do Chile que me recebeu muito bem”, disse Naka, que ainda contou o que quer para a decisão da categoria. 

“A estratégia para a final é bailar e ser feliz. Minha meta já foi conquistada que era a classificação para os Jogos Olímpicos, mas agora que eu cheguei na final, eu quero o ouro”.

Jucielen Romeu

Na sequência, Jucielen Romeu, competindo na categoria de 57kg, enfrentou Omaylin Segovia, da Venezuela. No primeiro round, os juízes favoreceram a atuação da venezuelana, mas no segundo round, Jucielen demonstrou grande determinação, acertando diversos golpes e empatando a luta. No último round, mais uma vez, Jucielen mostrou superioridade física e iniciativa, o que garantiu sua classificação para a final em uma decisão dividida dos juízes (4 a 1).

“Eu não esperava que o primeiro round fosse assim. Demorei a entrar na luta, estava um pouco travada. No descanso, os treinadores falaram que a gente tinha perdido o primeiro round, que eu não atirado golpes, que tinha que me soltar. Botei na minha cabeça: se eu quiser ser campeã, tenho que ganhar essa luta. Voltei quente, com garra, ativa, com vontade, entrei na luta mesmo e consegui virar. O físico foi um diferencial. Nosso trabalho na Colômbia foi intenso. Se não desse na técnica, o gás eu ia ter”, analisou Juci, que conquistou a prata em Lima 2019. 

“Esse campeonato eu vim pra ser campeã. Fiquei com a prata no passado, bati na trave. Esse ano quero fazer um golaço. Quero muito ser campeã. Meu foco é um só: chegar amanhã em cima do ringue, entregar tudo e conseguir esse título”, completou.

Barbara Santos

Em um confronto entre duas medalhistas de bronze no último campeonato mundial, Barbara Santos (66kg) e Camila Bravo, da Colômbia, travaram uma luta equilibrada, com decisões divididas em todos os rounds. No entanto, no último round, quatro dos juízes concederam a vitória à brasileira, que venceu por 3 a 2. Barbara creditou sua vitória às orientações recebidas no corner.

“É muito importante para o atleta saber escutar e eu tenho isso. De fora ele tem uma visão muito melhor que a nossa. Na adrenalina, cara a cara é complicada. Confio muito no treinador, a energia que ele injeta na gente funciona. Segui o que ele orientou e deu certo”, comentou Barbara. “São meus primeiros Jogos Pan-americanos, já sou finalista, carimbei meu passaporte para Paris e estou muito feliz”, completou.

A quinta semifinal de atletas brasileiros na tarde de quinta-feira foi marcada por um duelo entre Brasil e Argentina, com Michael Douglas Trindade (51kg) enfrentando Ramon Quiroga da Argentina. O brasileiro dominou os dois primeiros rounds e garantiu a vitória por 4 a 1.

“Sabíamos que ia ser uma luta difícil, porém os treinadores sempre acreditaram na minha classificação. Administramos no terceiro round, mas soltando golpe, com o coração na ponta da luva para garantir essa vitória. Ele, como atleta olímpico, tem uma bagagem maior que eu, mas com muito trabalho, muita força, muita garra, conseguimos garantir a vaga olímpica”, comentou Michael “Parázinho”, natural de Marituba (PA). 

Wanderley Pereira

Wanderley Pereira (80kg) enfrentou Cedryck Belony-Duliepre, do Haiti, e dominou a luta do início ao fim, conquistando a vitória de forma unânime. Na final, ele terá um desafio difícil contra o bicampeão olímpico Arlen Lopez Cardona, de Cuba.

“As expectativas para final são as melhores. Estou muito preparado, bastante treinado, confiante. Com certeza, vou dar meu melhor em cima do ringue para sair com essa vitória”, comentou “Holyfield”, que, na decisão, deve ter uma boa prévia do que irá encontrar em Paris 2024. “É a realização de um sonho essa classificação, muito feliz em poder representar o Brasil nos Jogos Olímpicos. São muitos anos de dedicação para isso e chegou a hora”. 

Na última luta do Brasil no dia, o medalhista olímpico Abner Teixeira (+92kg) venceu Cristian Codazzi, da Colômbia, superando seu próprio desempenho em Lima 2019, quando conquistou a medalha de bronze.

“Foi uma luta dura, contra um oponente experimentado, dois Jogos Olímpicos nas costas, disputou Mundiais, Continentais. Quando eu não estava na categoria, ele sempre chegava nas finais. Treinamos muito com ele, e a estratégia estava traçada. Era só eu estar com a mente blindada, coração pronto. Estava ouvindo muito bem o corner hoje, o corpo fluindo. Acordei com uma confiança boa. Consegui fazer tudo certo. Terceiro round já estava com a luta. Tive que ter uma disciplina para não deixar ele crescer. Mas usei minha experiência e deu tudo certo. Mais um passo para fazer história. Quero ser o primeiro cara a repetir medalha olímpica no boxe. Nunca teve duas medalhas na minha categoria e eu quero deixar meu nome cravado com essa conquista”, disse Abner.

Medalha de bronze

É importante notar que no boxe, os semifinalistas que não avançam já garantem a medalha de bronze. No período da tarde, Yuri Falcão Reis não conseguiu superar Wyatt Sanford, do Canadá. Pela manhã, Vivi Pereira e Luiz Oliveira “Bolinha” foram derrotados, respectivamente, por Atheyna Bylon, do Panamá, e Jamal Harvey, dos Estados Unidos, confirmando assim a conquista da medalha de bronze.

“Já tinha lutado contra ela umas duas vezes, é uma adversária muito difícil de você entrar, ela é muito alta, braços muito longos, e isso me dificultou um pouco. Eu tentei traçar uma estratégia diferente, mas ela já foi campeã mundial, tem uma bagagem muito grande, e sei que um dia vou chegar lá também. Mas ano que vem tem o pré-olímpico e vou me classificar”, disse Viviane.

“Estou muito feliz com a minha medalha de bronze, mas, como eu disse em outras vezes, não foi o bronze que eu vim buscar. Mas, pelo menos não estou saindo de mãos abanando, conquistei essa medalha de bronze para o Brasil, essa medalha tem um valor, sim. É que atleta nunca está satisfeito com menos, se existe prata e ouro, e o bronze vai para o terceiro, eu sempre vou querer estar no lugar mais alto do pódio. Na próxima vez vou treinar muito mais, vou me dedicar muito mais para conquistar o ouro, sempre”, contou Bolinha.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 10 – Redução das Desigualdades

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