Depois de realizar a pesquisa Risco de apagão de professores no Brasil, o Instituto Semesp apontou que o Brasil corre o risco iminente da falta de professores em todas as etapas da educação básica nos próximos anos.

A entidade, que representa as mantenedoras do ensino superior no Brasil, destacou que a educação brasileira passa por “momentos de profundas incertezas” e que os impactos afetam todo o sistema educacional, desde a gestão das instituições ao aprendizado dos estudantes. Conforme o documento, o “apagão” de docentes pode chegar a 235 mil até 2040 nas turmas do ensino infantil ao ensino médio do país.

Em entrevista à Sagres, a pedagoga Kátia Chedid avaliou o cenário e revelou que os gestores já percebem o déficit quando tentam contratar profissionais para algumas disciplinas.  

Assista a entrevista na íntegra:

“Não é uma boa notícia. Quem está na gestão das escolas já percebia isso há algum tempo, a gente já percebia que contratar um professor era difícil para áreas como Matemática, Geografia, Letras, Química e Biologia. Nos últimos anos a gente viu uma diminuição das ofertas de professores e essa pesquisa veio nos dizer que a gente está perto de um apagão, vamos sentir falta dos professores”, afirmou.

Para Chedid o resultado da pesquisa preocupa porque apresentou uma “projeção bem conservadora”. Além disso, ela observou que o levantamento analisou dados dos professores e deixou de fora aspectos importantes. “Eles não estão pensando se esses professores estão ou não preparados, se tem técnica, estratégias para uma nova escola que precise de mais estrutura, mais tecnologia. São os professores que temos hoje”, disse.

Causas

A pesquisa apontou alguns motivos que ajudam a explicar a projeção negativa para o futuro da educação brasileira. Dentre eles estão o desinteresse dos mais jovens em seguir a carreira de professor, o envelhecimento do corpo docente existente e o abandono da profissão devido às condições de trabalho. 

A pedagoga Kátia Chedid complementou com dados outros aspectos que podem ter contribuído para o cenário. “1 em cada 3 professores que começam a fazer licenciatura desiste. E o INEP diz que o pessoal até 29 anos que começava a fazer os cursos de licenciatura também estão caindo. Eram 62% e agora a gente está 53%. Em 2009 fizeram uma outra pesquisa que falava que o pessoal até 24 anos e que estava em começo de carreira eram 116 mil professores e em 2021 eram só 67 mil”, destacou.

A professora reforçou que a projeção não é animadora e citou que a má remuneração está entre as principais causas para o cenário futuro. “Os professores ganham muito mal. O Semesp fala de uma média para professores da educação infantil de R$ 2 mil a R $4 mil.  Do fundamental I é de R$ 4 mil e do ensino médio é no máximo R$ 6 mil. Se comparado a outras carreiras é muito pouco”, contou.

Para além desses problemas, Chedid destacou os problemas de infraestrutura para exercer a profissão, como escolas que não têm banheiros e água potável, internet e materiais. E ainda citou o bullying, a violência física e verbal com os professores e os problemas de saúde diversos, incluindo os problemas mentais. Mas para Kátia, “o mais triste é a falta de valorização da sociedade”. 

Soluções

O documento do Semesp apontou como soluções para reverter a projeção o investimento na carreira de professor, redes de apoio e habilidades socioemocionais e a criação de condições adequadas para o ensino. Porém, a pedagoga não percebe atualmente um cenário que mude a “projeção bem conservadora”.

“Não existe um projeto de nação. E quem tem visto os políticos não vê projeto para a formação de professores e muito menos para a educação. Eu não vi nenhum político fazendo um projeto de nação para a formação de professores”, lamentou.   

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