O número de estudantes que ingressaram nas instituições federais por meio da Lei de Cotas caiu. É o que apontam dados do Censo da Educação Superior, do Inep. De acordo com o levantamento, 108,6 mil calouros entraram nas universidades públicas. No entanto, foram 16 mil a menos que em 2021. A redução representa uma queda de 13%, a maior dos últimos 10 anos.

Em 2020 e 2021, o País registrou queda em razão da pandemia. De lá para cá, porém, cresceu em 9% a quantidade que ingressou no Ensino Superior por ampla concorrência.

Em nota, o MEC confirmou que os alunos que preenchem os requisitos da Lei de Cotas “compõem os perfis sociais mais atingidos pela pandemia”. O Ministério acrescentou que vem atuando para fortalecer meios que permitam a permanência dos estudantes, como o aumento no valor pago e no número de bolsas de estudo.

“A cada ano que passa, os jovens ganham mais consciência que, se a universidade não garantir condições de permanência, eles terão um ingresso traumático. Não basta permitir a entrada, é preciso garantir a permanência”, analisa Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Menos incentivo e demora para ingressar no mercado de trabalho

Cara argumenta que a falta de incentivo a políticas públicas para permanência na universidade, como moradia, alimentação e ajudas de custo estão entre as razões que explicam a redução de cotistas nas instituições federais.

A demora no acesso ao mercado de trabalho também pode explicar a falta de investimentos dos jovens no Ensino Superior.

Uma pesquisa da Consultoria iDados, de 2020, mostra que os trabalhadores com ensino superior são os que mais demoram a voltar ao mercado de trabalho. O levantamento mostra que estes indivíduos levam em média 16,8 meses para conseguir uma recolocação, enquanto trabalhadores somente com o ensino fundamental demoram, em média, 13,1 meses.

Além da queda no número de ingressantes, outro dado que mostra a retração de cotistas no ensino superior é a quantidade de vagas reservadas.

Conforme um levantamento realizado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa), da Uerj, a quantidade de matrículas para esses grupos teve, em 2021, a segunda maior queda desde 2007, quando os pesquisadores começaram esse levantamento.

De acordo com a série de estudos “Levantamento das Políticas de Ação Afirmativa nas Universidades Públicas brasileiras”, a oferta de vagas nas universidades federais pela ampla concorrência ficou praticamente constante, isto é, em torno de 120 mil, de 2020 a 2021.

As vagas reservadas, contudo, caíram de 146 mil em 2020 para 132,4 mil em 2021, ou seja, diminuição de 9% de um ano para o outro. Nas estaduais, todavia, foi registrada queda na oferta de vagas da ampla concorrência, de 8,5%, mas o corte foi ainda maior na oferta de vagas reservadas pelos programas de ação afirmativa, 13,3%.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ODS 04 – Educação de Qualidade

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