A desobediência ao decreto de Goiás, que propõe o revezamento 14 por 14, é vista pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, como desumano e ato de “baixaria”. Em entrevista exclusiva à Sagres, Caiado destacou o esforço que tem feito na corrida pela ampliação das vagas em UTIs e criticou prefeitos que estão mantendo as atividades funcionando, entre eles Gustavo Mendanha, de Aparecida de Goiânia. “Quem está politizando a Covid-19 é ele”, disparou Caiado.

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Aparecida adotou um modelo diferente com um escalonamento regional. A medida permite a abertura do comércio por 3 dias e meio durante a semana. Também em entrevista à Sagres, prefeito da cidade, Gustavo Mendanha justificou a flexibilização no fato da medida ter maior adesão da população. Mas após a publicação do decreto estadual, o prefeito de Aparecida afirmou que o Comitê de Prevenção e Enfrentamento (COE) vai deliberar nesta sexta-feira (19/3) se o município vai ou não aderir ao decreto estadual.

Manter esse posicionamento causou estranheza ao governador de Goiás, que revelou à Sagres que Mendanha buscou auxílio dele há 15 dias. “Ele esteve em meu gabinete aqui quase aos prantos trazendo o prefeito de Goiânia, e pedindo ‘pelo amor de Deus’ ajuda. Ele veio buscar o apoio de todos os prefeitos da região metropolitana para fechar. E eu imediatamente me posicionei a favor. Quem motivou a reunião foi o prefeito de aparecida. Como que depois de alguns dias ele muda a conduta daquilo que foi acertado?. Que força estranha é essa capaz de fazer com que aquilo que ele pediu em desespero fosse deixado de lado e de repente ele instala o zoneamento?. Que pressão é essa que explica isso? Eu sou o governador, que tomo decisões com base cientifica. Não sou tutelado nem encabrestado por ninguém. Não tem nenhum empresário que decide o que o governo faz. Goiás tem um governador independente”, ressaltou.

Ouça a entrevista na íntegra:

Caiado informou que ontem repassou 15 respiradores para Aparecida de Goiânia e que isso demonstra que não há, por parte dele, qualquer movimento de queda de braço. “Eu sei que isso é obrigação e não estou deixando de cumprir minha obrigação. Mas ao mesmo tempo tem que existir o mínimo de contrapartida. O que não pode é todos os municípios estarem com dificuldades, fechando, restringindo e os outros achando que podem ficar bem com a sua população de comerciantes ou empresários locais. O que está em jogo são vidas. Isso é comportamento? Ele chegar pedindo apoio e depois virar as costas tomando medidas diferentes sem nem me comunicar? Essa situação me causa indignação”, destacou o governador.

Ronaldo Caiado frisou que quem fecha comércio não é decreto, mas sim o vírus. Ele lembrou da coletiva do secretário de saúde de Goiânia, Durval Pedroso, que mostrou ontem a taxa de contaminação de Goiânia pela nova variante P1 de Manaus (AM). “Será possível que mesmo com dados da pesquisa e da ciência, com o que vemos em Manaus colapsado, com nossa luta em abrir leitos, ainda tenham esse comportamento? Isso é algo de uma baixaria que chega a ser desumano uma pessoa que coloca seu projeto político eleitoral na frente de vidas. Tem muitos homens que caminham por essa vertente, mas a história vai julgar essas pessoas ao longo da vida. Não adianta fazer algo meia boca e achar que vai funcionar. Vamos entender o que estamos enfrentando e ter responsabilidade”.

AÇÃO DA PM

O ápice dessa movimentação ocorreu ontem, quando várias denúncias de comerciantes aparecidenses chegaram pelas redes sociais afirmando que a Polícia Militar estava fechando estabelecimentos que – pelo escalonamento regional – poderiam estar abertos. Mendanha falou sobre isso, inclusive, à coluna Sagres em OFF. Ele disse acreditar que exista caráter político na ação da Polícia Militar na cidade. “Espero que não seja algo politizado, mas apenas uma divergência de entendimento”, afirmou.

Ronaldo Caiado enfatizou que chegou ao conhecimento dele que os policiais militares foram provocados para que uma situação de excesso fosse gerada. “Não existe uma cena de desrespeito por parte da PM. A politização está sendo feita exatamente por ele. Esse é a realidade. Eu não sou capaz de agir dessa maneira. Eu luto de frente. As minhas posições são frontais. Não venha tirar uma de que a situação esta controlada e que existe perseguição”.

“A PM foi educadamente conforme eu solicitei. Nenhum policial fechou a loja. Eles educadamente disseram ‘por favor’ para fechar e isso aconteceu em todos os municípios onde tem PM. Não houve agressão”, completou Caiado.

BOLSONARO

Apesar de criticar os gestores que, na visão de Caiado trocam vidas por votos, o governador amenizou as ações do presidente Jair Bolsonaro, que manifestou contentamento com os protestos contra o isolamento que ocorreram pelo país. “Esses manifestantes são pessoa que querem 8 segundos de fama. Eu não vi o presidente vir aqui em Goiânia fazer isso não. Essas reações vão existir. Decreto não tem unanimidade no estado. O que se espera é uma convergência de forças nos sentido de apoiar vidas com base científica e são feitas em cima de um relatório epidemiológico”, respondeu aos questionamentos de Cileide Alves e Rubens Salomão.

Nas manifestações, muitos participantes acusavam os governadores brasileiros de não usarem o dinheiro enviado pelo governo federal para o combate à pandemia. “O volume de UTIs foi fruto de um trabalho de dinheiro federal e de dinheiro do governo de Goiás. Esse é um fato que não da pra poder colocar em duvida o que o estado fez. Interpretações outras podem acontecer”, justificou.