Sensibilizar a população para a causa da saúde mental materna e estimular a construção de políticas públicas de saúde. Estes são alguns dos objetivos da campanha Maio Furta-Cor. O movimento alerta para a maternidade real e as dificuldades vividas pelas mulheres na gestaçao, parto e puerpério.

De acordo com a psicológa perinatal, Luciana Wovst, a romantização da maternidade é um dos fatores que explicam esse movimento e a preocupação com a saúde mental das mães. “A gente imagina que é um momento mágico, feliz, que ela e a família devem estar muito felizes com a chegada do bebê. E embora sim, ela esteja muito feliz, ainda exige toda uma demanda que a própria mulher não consegue pedir ajuda ou falar dessa demanda por conta dessa romantização, de não querer se mostrar fraca”, afirma. 

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Invisibilização

De acordo com um estudo da Fiocruz, uma em cada quatro mães brasileiras sofrem de depressão pós-parto. Segundo Luciana Wovst, trata-se de um dado muito relevante e que pode envolver outras situações como ansiedade perinatal, estresse pós-parto traumático e psicose puerpera. A invisibilização da mãe é outro agravante que acomete a saúde mental materna. 

“Se a mãe, no geral, já é invisibilizada, essa mãe que já tem filhos é mais invisibilizada ainda, porque entende-se que ela já tem filhos, já sabe, não vai ter maiores problemas. Ela é ainda mais deixada de lado. É normalmente aquela mãe que não recebe visitas, que não tem tantas pessoas perguntando se ela precisa de ajuda”, argumenta. 

Pressão

Para a psicológa perinatal, a não preocupação com a saúde mental das mães é um problema cultural. Segundo Luciana Wovst, a pressão sobre a mulher, que vem de todos os lados, continua como se a maternidade não existisse. 

“Há uma pressão institucional, financeira, pois a capitalização continua cobrando da mulher que ela aja, que ela assuma seus papeis profissionais da mesma forma como se ela não fosse mãe. Também da forma social, por conta dessa romantização, pois a sociedade foi culturalmente treinada a não enxergar essa mãe de uma forma coerente. Então há muita pressão social que diz que ‘essa mãe tem que dar conta’, ‘quem pariu Mateus que o embale'”, ressalta. 

A psicóloga perinatal Luciana Wovst (Foto: Sagres Online)

Ajuda e orientação

Para a especialista, a preocupação com a saúde do bebê acaba sendo o foco neste momento. No entanto, o bem-estar da mãe também é fundamental neste período. Conforme Luciana Wovst, o primeiro passo para fortalecer a saúde mental durante a maternidade é pedir ajuda. A psicóloga chama a atenção para a importância do pré-natal psicológico. 

“O primeiro passo é a mulher conseguir e saber que ela pode pedir ajuda. Mulheres são criadas para não pedir ajuda e sim fornecer ajudas. É a gente poder reconhecer, desmistificar isso e saber que a gente pode e deve pedir ajuda. Pode pedir ajuda tanto no sentido de falar com a família, de ajuda prática, quanto de estar procurando profissionais. Existem profissionais capacitados exatamente para este momento, para trazer mais leveza e preparar este momento. E que os profissionais também possam ter essa consciência, porque ainda é muito subdiagnosticado”, afirma. “A gente consegue atingir essas mulheres no pré-natal médico, mas elas não chegam ao pré-natal psicológico. Isso ainda é um caminho a percorrer para que todas as gestantes passem pelo pré-natal psicológico”, conclui. 

De acordo com as fundadoras da campanha, com as ações da Maio Furta-Cor já houve aprovação de mais de 30 leis municipais e ao menos três leis estaduais. Além disso, atualmente há cerca de 300 representantes da iniciativa nas cinco regiões do Brasil.

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