Norberto Salomão
Norberto Salomão
Norberto Salomão é Advogado, Historiador, Professor de História, Analista de Geopolítica e Política Internacional, Mestre em Ciências da Religião e Especialista em Mídia e Educação.

Catar 2022: a outra face da Copa

Definitivamente o Catar se tornou visível, no mapa mundial, para um número considerável de pessoas. A copa de 2022 teve esse condão. Agora ficou fácil dizer que este pequenino país fica na península arábica, na costa do Golfo Pérsico, e que sua capital é Doha. A área total do país é de apenas 11 mil km2 (o Brasil tem mais de 8 milhões de km2 de extensão) e é comandado, desde 2013, pelo Emir Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani. No mundo islâmico títulos como Emir, Sultão, Xeque e Califa são designações para os cargos máximos de poder.

Tamin bin Hamad é o Emir mais jovem a assumir o poder no Catar. Ele é um apaixonado por esportes, além do futebol, é adepto ao badminton e a falcoaria, arte na criação e treinamento de falcões para a caça. Uma de suas empresas, a Qatar Sports Investiments, é a dona do time de futebol Paris Saint-Germain (PSG).

A família Al Thani está à frente do poder no Catar há 150 anos. Porém, na maior parte desse tempo esteve sob a tutela do poderio britânico, ou seja, foi um protetorado da Inglaterra e só conquistou sua independência em 1971. Até então o país não era rico e vivia da pesca e da exploração de pérolas. Mas, na década de 1970 a situação mudou totalmente com a descoberta de imensas reservas de petróleo e gás natural. Com a fundação da Qatar Petroleum o país tornou-se um dos mais ricos do mundo, com o PIB per capita de cerca de US$112 mil, maior que dos EUA. Entre seus vários investimentos o Catar possui ações em empresas gigantes como Shell e Volkswagen/Porsche.

A polêmica escolha do Catar para sediar a Copa

Desde 2010, quando a FIFA anúncio que o Catar seria sede da Copa 2022, que essa escolha foi intensamente questionada e alvo de acusações e polêmicas. A FIFA alegou que o fato do mundial ser disputado em uma região que não tem tradição no futebol mundial nunca havia sediado o evento antes, colaboraria para “levar o futebol a novas fronteiras”.

Mas, a verdade é que o governo do Catar apresentou a proposta de um investimento bilionário e ambicioso, pelo qual criariam toda uma infraestrutura moderna e que permitiria a adequada realização do evento.

Assim, mesmo sob acusações formais de que teriam ocorrido subornos, corrupção, espionagem e lobby, o Catar acabou sendo escolhido e derrubou, por 14 votos a 8, as pretensões dos EUA em sediar o evento. Outros aspectos polêmicos que também envolvem a questão são: a exploração cruel dos trabalhadores migrantes, as críticas de ambientalistas, que alegam que haverá desperdício de recursos e pesadas emissões de dióxido de carbono, o regime repressor do governo de Doha, que tem caráter misógino, homofóbico e proíbe manifestações.

No Catar também existe pobreza

O Catar tem cerca de 3 milhões de habitantes, mas apenas 310 mil são cataris. Dessa forma, cerca de 90% dos habitantes são imigrantes que vivem nas mais variadas condições e situações de tratamento. Como os dados são governamentais, contabilizam-se apenas os cidadãos e dessa forma passa-se a imagem de um país próspero e sem pobreza.

Contudo a situação dos trabalhadores imigrantes, destacadamente aqueles oriundos do Paquistão, Bangladesh, Índia e Nepal, é terrível, pois são submetidos à condições indignas de trabalho. A maioria deles ficam devendo os custos com a passagem e as despesas de manutenção e até que possam pagar ficam vinculados ao empregador. Como a remuneração é muito baixa, a quitação da dívida torna-se praticamente impossível. Assim, há denúncias de trabalhos análogos à escravidão. Contudo, não há legislação no país para coibir essas práticas. Esse modelo de exploração do trabalho no Oriente Médio é denominado Sistema Kafala.

As pressões internacionais, em virtude da realização da copa, obrigaram o governo catari a ser o primeiro país do Oriente Médio a abolir o Sistema Kafala e segunda nação, depois do Kwuait, a estabelecer um salário-mínimo para todos os trabalhadores, independentemente da nacionalidade.

O fato é que no riquíssimo país de Tamin bin Hamad ainda existem muitas leis repressivas e excludentes que relegam milhares à pobreza. É por esses aspectos mais obscuros que muitos grupos têm dado um “cartão vermelho” para a copa do Catar.

Leia mais da Coluna Sagres Internacional:

Mais Lidas:

Sagres Online
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.