Cerrado precisa ser incluído em discussões da COP 28, afirmam pesquisadores  

Pesquisadores de instituições de todo o país se uniram para escrever uma carta onde afirmam que o cerrado precisa ser incluído nas discussões da COP 28. O documento foi publicado na revista acadêmica digital Nature Ecology & Evolution e destaca a importância de biomas não florestais. A 28º Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas – COP 28, acontece a partir do dia 30 de novembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.  

“A ênfase global em deter a perda florestal falhou em não reconhecer a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos prestados por biomas não florestais, como o Cerrado”, afirma a carta.  

Correspondente a 23,3% do território nacional, o cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e da América do Sul. Segundo o mapeamento da rede MapBiomas, dados de 2022 indicam que 47,9% da área do cerrado brasileiro era de vegetação nativa e 50,1% de uso agropecuário. No entanto, o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) através do sistema de alerta de desmatamento, o DETER, identificou que enquanto houve redução de mais de 30% no desmatamento das florestas, o Cerrado sofreu um aumento no desmatamento em 21%.  

Importância do bioma 

Cinco professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e uma egressa do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução (PPGEcoEvol) assinam a carta. Entre eles o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e vice-coordenador do PPGEcoEvol. 

“Tradicionalmente existe essa ideia de que o Cerrado – e o mesmo vale aqui no Brasil para a Caatinga e para os Pampas – é um bioma menos importante porque não tem ‘florestas’ ou ‘matas’ em maior proporção, e a imagem que as pessoas e os tomadores de decisão têm é de que são áreas abertas que não têm muita biodiversidade”, afirmou.  

No entanto, segundo o professor Manuel Eduardo Ferreira, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), o Cerrado possui uma importância tão grande quanto a da Amazônia em termos de biodiversidade e de recursos naturais.  

“Ainda assim, o bioma se encontra em uma situação bastante desfavorável em relação a políticas públicas, legislação e esforços governamentais para o combate ao desmatamento e para a sua conservação”, destacou Ferreira que é vice-coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig). 

Pontos de atenção 

A carta traz alguns pontos a serem observados em relação ao bioma, como, por exemplo, os impactos da expansão agrícola. No texto, os pesquisadores ressaltam que mais da metade da vegetação nativa do Cerrado já foi perdida e que em 2022 houve a maior taxa de conversão do bioma em sete anos: mais de um milhão de hectares de vegetação natural foram convertidos em áreas agrícolas. 

O Cerrado possui mais de 4,8 mil espécies endêmicas de plantas e vertebrados e abriga nascentes de rios que compõem as principais bacias hidrográficas brasileiras. Projeções indicam uma extinção sem precedentes de espécies endêmicas de plantas no bioma – cerca de 480 espécies – até 2050. 

Além disso, o Cerrado possui um importante papel no estoque de carbono. Apesar da menor quantidade de biomassa e de carbono na superfície, o bioma tem uma grande reserva de carbono em seu solo, acumulada na matéria orgânica e nas raízes. Com isso, o cerrado possui um significativo potencial de mitigar os efeitos das mudanças climáticas. 

Consequências  

Apesar do potencial para contribuir com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, o cerrado já enfrenta essas consequências, que podem ser observadas na mudança no padrão das chuvas, no aumento da temperatura média e na perda da biodiversidade e do potencial de recursos gênicos não estudados. Os impactos podem ser sentidos, por exemplos, na qualidade do ar e do solo e na disponibilidade hídrica.  

Além disso, para exemplificar o problema da expansão agrícola desenfreada, os pesquisadores citam a exclusão do Cerrado da chamada Moratória da Soja – estratégia adotada desde 2006 por indústrias de óleos vegetais e de cereais, que se comprometeram a não comercializar soja proveniente de áreas que tivessem sido desmatadas dentro da Amazônia Legal. 

 “Os mesmos esforços para combater o crescente desmatamento na Amazônia também devem ser estendidos para combater a perda de vegetação natural no Cerrado e em outros biomas brasileiros”, reforçam os signatários. Atualmente, apenas 3% do bioma está sob proteção legal e 62% de todos os remanescentes do Cerrado estão localizados em propriedades privadas. 

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) – ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança do Clima.

Leia mais: